Antigo Farol da Conceição, destruído pelo avanço do mar no litoral sul do Rio Grande do Sul. |
Há muito tempo faço incursões pelo litoral sul do Rio Grande do Sul em busca de imagens e da paz de uma rara região praticamente desabitada.
Essa faixa litorânea é composta por encostas baixas e arenosas, onde destaca-se uma paisagem de dunas dinâmicas (móveis) de areia fina, as quais constantemente migram de lugar em razão do vento e da ação do mar.
O Jornal Zero Hora de hoje publicou na sua página 24 uma interessante matéria abordando este fenômeno que ora prolonga e ora reduz a faixa de areia frente ao mar, ora derrubando ou ora soterrando as construções feitas pelo homem.
Fonte: Jornal Zero Hora |
Um dos locais mais representativos desta erosão é onde está localizado o antigo Farol da Conceição, na localidade do Bojurú, um marco na paisagem bem conhecido dos pescadores e viajantes em 4x4 do litoral sul.
Farol da Conceição, no litoral médio do Rio Grande do Sul. Em 1988 o Farol encontrava-se em bom estado. Em 1997 o mar já o havia derrubado e em 1999 a casa do faroleiro também foi destruída pela erosão. Fonte: Erosão e Progradação do Litoral Brasileiro / MMA/SQA/Gercom. Fonte: Blog Eng. Marco Lyra - Obras de Defesa Costeira |
Fonte: Panoramio - Marcos Moser |
O mesmo local atualmente. Foto Zero Hora. |
Em 2006 estive a última vez neste mesmo ponto, onde o mar tem avançado cerca de 3,2 metros anualmente em direção ao cordão de dunas. Se vê abaixo que então as ruínas do farol, que hoje já estão cercadas pelo mar, ainda estavam junto à linha de areia.
Ruínas do Farol da Conceição no ano de 2006. |
O novo farol e a antiga casa do faroleiro demolida pelo avanço do mar. |
Por outro lado este fenômeno natural que retira os alicerces das construções também as soterra inexoravelmente como se dê nesta imagem do Parque Nacional da Lagoa do Peixe feitas agora neste mês de janeiro de 2014:
Casa soterrada pelas dunas no Parque Nacional da Lagoa do Peixe, Mostardas/Tavares, RS. |
Veja abaixo a íntegra da matéria publicada na Zero Hora.
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Dança invisível18/01/2014 | 06h02 - Zero Hora Online
Migração dos grãos de areia modifica a paisagem litorânea
Conforme a intensidade em que ocorre, fenômeno pode reduzir ou aumentar a faixa onde os veranistas instalam os guarda-sóis durante o veraneio
Letícia Costa
Em um movimento considerado natural por especialistas, a areia depositada no fundo do mar realiza um constante balanço que, conforme a intensidade, pode reduzir ou aumentar a faixa onde os veranistas instalam os guarda-sóis durante o veraneio. Na Praia Grande, em Torres, e no Cassino, em Rio Grande, por exemplo, a faixa de areia aumenta com o passar dos anos.
Ao mesmo tempo em que o vaivém dos sedimentos forma colinas gigantes no Balneário Dunas Altas, em Palmares do Sul, reduz drasticamente o tamanho de uma praia a 200 quilômetros dali, onde existia o Farol da Conceição. A erosão provocada no local derrubou o farol e uma casa, segundo o professor Elírio Toldo, do Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica (Ceco), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Inabitada, a praia do farol sofre de um processo natural que ocorre nos 615 quilômetros de costa gaúcha.
– Todo o litoral é formado, principalmente, por areias finas e não recebe nenhuma contribuição dos rios. Toda movimentação das areias, por ondas e por correntes, ocorre essencialmente com as que ali se encontram. E, como esta movimentação ocorre em taxas desiguais, os trechos perdem ou recebem diferentes volumes – explica Toldo.
A erosão também pode ser notada na Praia do Hermenegildo, no sul do Estado. Conforme Lauro Júlio Calliari, professor do Laboratório de Oceanografia Geológica da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), a faixa de areia chega a perder em média três metros por ano no local, redução semelhante à registrada no Farol da Conceição, de 3,2 metros.
A erosão também pode ser notada na Praia do Hermenegildo, no sul do Estado. Conforme Lauro Júlio Calliari, professor do Laboratório de Oceanografia Geológica da Fundação Universidade Federal do Rio Grande (Furg), a faixa de areia chega a perder em média três metros por ano no local, redução semelhante à registrada no Farol da Conceição, de 3,2 metros.
– O farol é um exemplo de erosão sem influência humana. Já no Hermenegildo, há ocupação urbana muito próxima da areia – comenta o professor da Furg.
Nos dois locais, explica Calliari, a morfologia favorece a altura da onda e, consequentemente, a erosão. O mesmo não acontece com o Cassino. Os molhes contribuem para o acúmulo de areia e o aumento da faixa em até 16 quilômetros de extensão.
Nos dois locais, explica Calliari, a morfologia favorece a altura da onda e, consequentemente, a erosão. O mesmo não acontece com o Cassino. Os molhes contribuem para o acúmulo de areia e o aumento da faixa em até 16 quilômetros de extensão.
– O Cassino é protegido de erosão. Além de ter uma praia larga, a ocupação é bem atrás das dunas. É a praia mais segura do ponto de vista de tempestades. Dificilmente a água vai chegar às casas – comenta Calliari.
Erosão movimenta milhões de toneladas
Os professores explicam que, em geral, não há o que ser feito para evitar o processo de erosão, que todos os anos movimenta milhões de toneladas de areia. Toldo salienta que as praias são terrenos instáveis. A olho nu, a mudança pode levar anos, décadas ou séculos para ser notada.
Periodicamente, estudantes do Instituto de Geociências da UFRGS realizam medições no litoral gaúcho, com o uso de um correntômetro (medidor de correntes), que estima a quantidade de areia movida entre duas linhas de quebra de onda.
Para amenizar a redução, algumas medidas podem ser tomadas, mas a melhor estratégia de proteção da praia e das pessoas é a não construção de habitações muito próximas da orla. Além do controle por meio de uma faixa de recuo, a criação de molhes e a preservação de dunas, principalmente as de frente para o mar, são fundamentais. Segundo os especialistas, pontos como o Balneário Dunas Altas são importantes reservatórios de areia e atuam como barreiras de proteção contra a ação das ondas.
A FAIXA DE AREIA
Onde mais cresce• Cassino (Rio Grande)
• Praia Grande (Torres)
• Praia Grande (Torres)
Onde mais reduz• Farol da Conceição (São José do Norte)
• Praia do Hermenegildo (Santa Vitória do Palmar)
• Praia do Hermenegildo (Santa Vitória do Palmar)
O DESLOCAMENTO DOS GRÃOS
• Cerca de 80% das praias arenosas do RS sofrem erosão. As taxas são variáveis, mas ela se dá, em maior intensidade, ao longo do Litoral Médio, e, em menor intensidade, no Litoral Norte.
• O principal destino das areias é o campo de dunas costeiras. O imenso volume de areia existente nos campos de dunas, principalmente nas regiões de Mostardas e Dunas Altas, é originário das praias adjacentes.
• Outros sumidouros das areias erodidas nas praias são os gigantescos bancos
de areias que se formam no mar. No Estado, ainda não há nenhum visível.
• Cerca de 80% das praias arenosas do RS sofrem erosão. As taxas são variáveis, mas ela se dá, em maior intensidade, ao longo do Litoral Médio, e, em menor intensidade, no Litoral Norte.
• O principal destino das areias é o campo de dunas costeiras. O imenso volume de areia existente nos campos de dunas, principalmente nas regiões de Mostardas e Dunas Altas, é originário das praias adjacentes.
• Outros sumidouros das areias erodidas nas praias são os gigantescos bancos
de areias que se formam no mar. No Estado, ainda não há nenhum visível.
Fontes: Centro de Estudos de Geologia Costeira e Oceânica (Ceco) da UFRGS e Laboratório de Oceanografia Geológica da FURG
ZERO HORA