sexta-feira, janeiro 15, 2010

Explorações/Antártida: As bases polares de Shackleton e Scott - A preservação de monumentos em condições extremas

 (Foto de Robert Scott no abrigo da Ilha de Ross em 1911)

Pesquisando informações sobre a conquista do Continente Branco para a minha última postagem sobre Ernest Shackleton (vide http://terra-australis-br.blogspot.com/2010/01/livrosnautica-sackleton-e-o-endurance.html), achei interessantíssimo saber que vários abrigos polares contruídos e ocupados pelos primeiros exploradores do Pólo Sul ainda encontram-se preservados pelo frio nas mesmas condições em que foram deixados há aproximadamente um século atrás. Alguns ainda com alimentos sobre a mesa e roupas estendidas, como se seus donos fossem retornar a qualquer momento.

Apesar da combinação de frio e isolamento extremos ter possibilitado a preservação destes abrigos, considerados hoje monumentos históricos pela Unesco, alguns outros fatores como a salinidade vêm causando a sua deterioração, principal objeto de preocupação de uma instituição chamada Antartic Heritage Trust (http://www.heritage-antarctica.org/aht.htm).

Os projetos de preservação do patrimônio mantidos pela Antartic Heritage se dão durante todo o ano polar e são especialmente focados nos remanescentes da "Era Heróica" das explorações, compreendida entre 1895 e 1917.

Apenas a Inglaterra apoiou pelo menos cinco grandes expedições, também conhecidas pelo nome dos navios que as conduziram à Antártida:

  • British Antarctic Expedition, 1898-1900 (Southern Cross)
  • British National Antarctic Expedition, 1901-04 (Discovery)
  • British Antarctic Expedition, 1907-1909 (Ninrod)
  • British Antarctic Expedition, 1910-1913 (Terra Nova)
  • Imperial Trans-Antarctic Expedition, 1914-16 (Endurance)

Foi neste período que expedicionários de várias nações competiram entre si para serem os primeiros a atingir o Pólo Sul, finalmente conquistado pelo norueguês Roald Amundsen em 1911. Amundsen foi seguido em um mês pelo britânico Robert Falcon Scott, cuja foto abre esta postagem e que, com toda a sua equipe, sucumbiu ao frio e à fome no caminho de retorno e a apenas 17 quilômetros de um depósito de comida.

(Foto recente do abrigo utilizado pela expedição de Scott em 1911)

Além de chegar ao pólo as expedições da Era Eróica também objetivavam a coleta de dados científicos e o pioneirismo na exploração interna do continente antártico, descobrindo platôs, vulcões e espaços onde jamais outro ser humano havia estado antes. Nestes casos era usual que cada expedição construísse pelo menos um abrigo polar para que lhe servisse de base de apoio e refúgio, onde eram armazenadas provisões e equipamentos.

A expedição de Shackleton de 1907-1909 (anterior à viagem do Endurance) que tentou chegar ao Pólo Sul e retornou a 156 quilômetros do seu objetivo, instalou um abrigo em Cape Royds e foi a primeira a fazer a ascenção do Monte Erebus, o vulcão ativo mais ao sul do planeta. Nesta base Shackleton e sua equipe se abrigaram quando deixaram o navio Nimrod para invernar em Ross Island em 1908.

("I thought, dear, that you would rather have a live ass than a dead lion." - Eu pensei, querida, que você preferiria ter um traseiro vivo do que um leão morto /tradução livre - Sir Ernest Shackleton para sua esposa Emily, depois de caminhar 1700 milhas e decidir retornar a apenas 97 milhas do Pólo Sul)

Projetado e pré-fabricado na Inglaterra, o abrigo possui capacidade para abrigar até 15 pessoas em um espaço único, tendo sido improvisada inclusive uma garagem e um estábulo para abrigo dos automóveis, cães e poneis utilizados pela expedição.

Ali ainda estão hoje os equipamentos e pertences pessoais da equipe de Shackleton, além de roupas, livros e alimentos, muito deles enlatados e preservados pelo frio polar. Mais de 5 mil objetos foram catalogados e os trabalhos de preservação deste monumento histórico foram completados pela Antarctic Heritage.

Já a base instalada por Scott para servir de apoio à expedição Discovery de 1901 e projetada para durar apenas 5 anos (já resistiu a mais de 100!) contém cerca de 8 mil objetos a serem conservados e que foram deixados para trás pelos exploradores que a ocuparam. São latas de comida, equipamentos e roupas que contam um pouco da história de coragem, conquista e luta pela sobrevivência em um dos ambientes mais inóspitos do planeta para a vida humana.

Os restauradores e técnicos em conservação que estão trabalhando na preservação do abrigo polar de Scott são neozelandeses baseados permanentemente na Antártida e mantém um interessante blog sobre os seus trabalho no link /http://www.nhm.ac.uk/antarctica-blog/.

Confira aqui o trabalho da Antartic Heritage Trust no abrigo polar de Shackleton em Cape Royds:


POSTAGENS RELACIONADAS NESTE BLOG:



Expedições/Antártida: Whisky de 1898 descoberto no abrigo polar de Shackleton

 PARA SABER MAIS:

Veja a história das bases em http://www.heritage-antarctica.org/AHT/TheExpeditionBases

Veja interessantíssimas galerias com imagens históricas e atuais: http://www.heritage-antarctica.org/AHT/ModernImageGallery/

BBC News - Scott's hut needs urgent repair: http://news.bbc.co.uk/2/hi/science/nature/1695897.stm

Scott Polar Research Institute: http://www.spri.cam.ac.uk/

Imagens históricas completas das expedições britânicas à Antártida (imperdível!): http://www.spri.cam.ac.uk/library/pictures/expeditions/

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