segunda-feira, março 28, 2022

Pandemia: 24 meses em 24 imagens


Mês 1 - O primeiro

2020, verão. O descontrole da pandemia global trouxe como primeiro impacto o isolamento não planejado em uma área rural, o trabalho à distância, a angústia, a dissolução de todas as certezas e um absoluto bloqueio criativo e da vontade de fotografar. Um ano inteiro em que o olhar circunscreveu-se a um quadrado de 100 x 100 metros e que, paulatinamente, foi desvelando-se um imenso universo miniaturizado de detalhes, dramas, vida e surpresas. Com o passar dos dias, das semanas e das estações, o interesse e a criatividade sufocados pelo tsunami depressivo que seguiu a esteira da pandemia foram aos poucos renascendo na observação das pequenas nuances diárias, da mudança do clima, das cores e texturas, a noite e o dia, os horários de sol e as fases da lua, as vozes da natureza e dos seus habitantes. 

Contínuos e assíduos visitantes deixaram logo claro que um atribulado mundo cosmopolita de seres seguia alheio à catástrofe humana na barca de Gaia. Enquanto os vilarejos seguiam com as ruas desertas, portas e janelas fechadas e igrejas sem vozes e ecos, fatos cíclicos e ordinários do fluxo natural tornaram-se esperados eventos no meu pequeno quadrilátero verde. Fogo e água. Claro e escuro. Calor e frio. O movimento é pulsante e tudo se entrelaça. Em uma ode de Neruda o bem-te-vi duela todas as manhãs com o seu reflexo, um dinossauro-lagarto singra o gramado, a chuva explode em dilúvio, a paineira veste-se para a guerra em armadura de espinhos, um coração de seda recheado de sementes é trespassado por uma flecha de algodão. Araucárias dentro de uma gota d’água? Aliens no jardim? Um colar multicor ou a víbora que matou Cleópatra? Onde estou? O que vejo? O que é real? Geada e orvalho ao amanhecer, neblina, sol, neblina, sol, noite de lua, noite de estrelas. Com pinhões, laranjas, bergamotas, limões, nozes, pitangas, ameixas e uvas, a flora retribui a mancheias os cuidados recebidos. Dentre os visitantes alados, os tucanos substituem as corujas no turno e anunciam a alvorada às 5h00 da manhã. Cardeal, bem-te-vi, sabiá, joão-de-barro, corruíra, caturrita, papagaio, beija-flor, bacurau, jacu, gavião, urubu e casa nova para o pica-pau. Há espaço para todos! Tantos detalhes, cores e vida se descortinam intermitentemente sem que um único dia seja igual ao seguinte. 

2021, inverno. Um ano e meio em pandemia. Semanas transformaram-se em meses e a tragédia no mundo humano enfim arrefece enquanto a ciência, segura e impávida, avança sobre a peste e o obscurantismo medievo que a acompanha par e passo. Pequenas janelas de liberdade sanitária autorizam a mobilidade e a porteira do quadrado se abre. A câmera ganha caminhos rumo ao planalto serrano e os campos da fronteira, ávida de espaços e longínquos horizontes que só o Pampa sem fim tem igual. O olhar circunscrito ao micro-terra agora quer o macro-céu, enquanto o obturador que congela o tempo volta-se para a infinitude do espaço. Os minúsculos universos circundantes em tons de cinza e pastel transmutam-se em explosões de cores, paisagens, céus, astros e estrelas, prenunciando o retorno do contato humano, a alegria, o recomeço e o reacreditar na utopia de uma Fênix pós-pandêmica. Por mais natureza, vida, oxigênio, solidariedade, humanidade, humildade e temperança! Vamos sobreviver. 

Dois anos retratados em 24 simbólicos clicks, e o último deles - a Árvore da Vida, sepulta um ciclo de luto e luta, de aprendizado, resiliência, reconstrução e vitória, celebrando com imenso júbilo e regozijo a tão esperada notícia estampada em primeira página de todos os jornais:  

- ADIADO O FIM DO MUNDO!


Mês 2


Mês 3


Mês 4


Mês 5


Mês 6


Mês 7


Mês 8


Mês 9


Mês 10


Mês 11


Mês 12


Mês 13


Mês 14


Mês 15


Mês 16


Mês 17


Mês 18


Mês 19


Mês 20


Mês 21


Mês 22


Mês 23


Mês 24 - O último

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O presente ensaio foi escrito em dez/2021 especialmente para a editoria Utopias pós-pandêmicas, da Secretaria de Comunicação Social do Tribunal Regional do Trabalho da 4a Região, em Porto Alegre/RS e inspirado na obra Ideias para Adiar o Fim do Mundo, do ambientalista Ailton Krenak.

Texto e fotografias de João Paulo Lucena.

quarta-feira, março 09, 2022

Expedições/Antártida: Navio polar de Ernest Shackleton é encontrado depois de 107 anos no fundo do mar!


A prova definitiva de que o navio de Shackelton foi encontrado no Mar de Weddell
Imagem © Falklands Maritime Heritage Trust / National Geographic

Circulou hoje em todo o mundo uma notícia simplesmente espetacular e sem dúvida uma das mais importantes da história das navegações polares neste século XXI: a descoberta do naufrágio do Endurance!

O Endurance, navio polar de Sir Ernest Shackleton que em 1914 lideroa Expedição Transantárctica Imperial e que naufragou em 1915 esmagado pelo gelo do Mar de Weddell, foi localizado por uma expedição de busca à profundidade de 3.008 m no Oceano Antártico, em excepcionais condições de conservação. 


Popa do Endurance em excepcional estado de conservação
Imagem © Falklands Maritime Heritage Trust / National Geographic

A expedição Endurance22 conduzida pela Falklands Maritime Heritage Trust e patrocinada por um apoiador que preferiu manter-se anônimo, partiu da África do Sul e localizou os destroços depois de 15 dias de buscas no Mar de Weddell, a 8 quilômetros do local anotado por Frank Worsley, o capitão do navio cujos registros detalhados feitos em 1915 foram essenciais para a localização do naufrágio neste início de 2022.


Sir Ernest Shackleton, Comandante da Expedição Transantártica Imperial de 1914
Imagem Wikipedia

Frank Arthur Worsley (1872 –1943) foi o capitão do Endurance, designado para transportar e apoiar a expedição.

Frank Arthur Worsley, Capitão do Endurance
Imagem Wikipedia


O Endurance preso no gelo antes de ser despedaçado pela pressão das placas polares
Imagem Frank Hurley


Em 21/11/1915 o casco foi esmagado e o Endurance afundou no Mar de Weddell
Imagem Frank Hurley

Os destroços estão protegidos como patrimônio histórico internacional pelo Tratado Antártico e não serão tocados, mas em breve serão objeto de documentários e publicações da National Geographic sobre o Endurance, a saga de Ernest Shackleton e esta incrível descoberta.





POSTAGENS RELACIONADAS NESTE BLOG:






PARA SABER MAIS:


sexta-feira, dezembro 10, 2021

Náutica: Vilfredo Schürmann lança livro sobre submarino encontrado em Santa Catarina


Fonte: Schürmann

Thank you for watchingSegundo o  patriarca da família Schürman

Vilfredo Schürmann lançou ontem seu terceiro livro, Em busca do submarino U-513 – Uma incrível aventura nos mares do Sul, onde onde descreve a saga de 10 anos do Veleiro Aysso em busca do submarino alemão afundado em águas brasileiras durante a II Guerra Mundial.

Segundo o patriarca da Família Schürmann foram 11 os submarinos alemães afundados na costa brasileira, sendo que o U-513 foi o primeiro deles a ser descoberto e, também, no mundo, o primeiro encontrado por um veleiro. O fato ocorreu em 2011 a cerca de 65 milhas náuticas da Ilha de Santa Catarina, a 130 metros de profundidade e já foi relatado com detalhes aqui neste blog, o que pode ser conferido AQUI.


Fonte: Schürmann


O evento de lançamento ocorreu em noite de autógrafos e palestra no Cabanga Iate Clube de Pernambuco e foi prestigiado por navegadores, interessados e autoridades da Marinha do Brasil. A obra conta com fotografias e ilustrações,  356 páginas e capa dura e foi impressa em uma tiragem de 3 mil volumes. Graças ao apoio de patrocinadores, está sendo vendido a R$ 30,00 e pode ser adquirido por meio do site oficial u513.com.br.

POSTAGEM RELACIONADA NESTE BLOG:

Náutica: Submarino alemão da II Guerra Mundial é localizado em Santa Catarina

PARA SABER MAIS:

Site Oficial da Expedição U-513 - Família Schürmann

sábado, novembro 07, 2020

Alfredo Zitarrosa, Adagio en mi País




Visitando o link de uma radio web recebido de um amigo me deparei com essa pérola de Alfredo Zitarrosa, reinterpretada por vários cantores uruguaios em abril deste ano, em meio ao contexto global da pandemia. 

Alfredo Zitarrosa (1936-1989) foi um cantor, compositor, poeta, escritor e jornalista uruguaio considerado uma das maiores vozes da música popular de seu país e de toda a América Latina. 



Com um timbre maravilhoso e estilo de raízes folclóricas, suas canções foram proibidas na Argentina, Chile e Uruguai durante os regimes ditatoriais que governaram esses países, período em que viveu no exílio, retornando ao seu país com a reabertura democrática havida após a Guerra das Malvinas em 1982. 

Em 77 compôs esta canção tão especial chamada Adagio por Mi País, cuja letra pode ser acompanhada aqui:

ADAGIO POR MI PAIS - Alfredo Zitarrosa
En mi país, que tristeza,
La pobreza y el rencor.
Dice mi padre que ya llegará
Desde el fondo del tiempo otro tiempo
Y me dice que el sol brillará
Sobre un pueblo que él sueña
Labrando su verde solar.
En mi país que tristeza,
La pobreza y el rencor.
Tú no pediste la guerra,
Madre tierra, yo lo sé.
Dice mi padre que un solo traidor
Puede con mil valientes;
Él siente que el pueblo, en su inmenso dolor,
Hoy se niega a beber en la fuente
Clara del honor.
Tú no pediste la guerra,
Madre tierra, yo lo sé.
En mi país somos duros:
El futuro lo dirá.
Canta mi pueblo una canción de paz.
Detrás de cada puerta
Está alerta mi pueblo;
Y ya nadie podrá
Silenciar su canción
Y mañana también cantará.
En mi país somos duros:
El futuro lo dirá.
En mi país, que tibieza,
Cuando empieza a amanecer.
Dice mi pueblo que puede leer
En su mano de obrero el destino
Y que no hay adivino ni rey
Que le pueda marcar el camino
Que va a recorrer.
En mi país, que tibieza,
Cuando empieza a amanecer.
En mi país somos miles y miles
De lágrimas y de fusiles,
Un puño y un canto vibrante,
Una llama encendida, un gigante
Que grita: ¡adelante... adelante!

domingo, setembro 06, 2020

Gilwell Reunion 2020, o encontro mundial do Escotismo


Neste chuvoso e frio feriado de 7 de Setembro aproveitei para participar com muito interesse da Gilwell Reunion 2020, encontro global de voluntários do maior movimento educacional do mundo: o Escotismo, fundado por Baden-Powell em 1907.

Tradicionalmente realizado em setembro de cada ano no campo-escola de Gilwell Park, nos arredores de Londres, este encontro é voltado para adultos voluntários, os escotistas, e enfoca o aprimoramento de lideranças, planejamento, troca de idéias e experiências e o congraçamento entre participantes do mundo inteiro. Em 2020, em função da pandemia de Covid-19, pela primeira na sua história foi inteiramente virtual, o que, por um viés positivo, facilitou em muito a participação daqueles que, como eu, dificilmente poderiam deslocar-se dos seus respectivos países para a Inglaterra. 

Entre as cerimônias de abertura e conclusão do encontro foram mais de 80 oficinas virtuais tratando dos mais diversos temas como inclusão, segurança nas atividades escoteiras, comunicação, organização, gestão e planejamento, história, motivação e cuidados durante a pandemia global, técnicas mateiras e até receitas de cozinha em ambiente outdoor apresentadas pela dupla Ed Stafford e Steve Hanton, personagens bem conhecidos dos programas de aventura em canais por assinatura.

Apolítico, inclusivo e multicultural, baseado nos valores da fraternidade, lealdade, cidadania, livre espiritualidade, altruísmo, responsabilidade, igualdade, trabalho social e comunitário e no incondicional amor e proteção à natureza, o Escotismo é o maior movimento educacional do mundo, baseado exclusivamente no trabalho voluntário, sem fins lucrativos e voltado para jovens dos 6 aos 21 anos de idade. 

Precisamos muito mais disso!