terça-feira, julho 10, 2012

Ecologia: Chuva de pinhões replanta floresta de araucárias no sul do Brasil

Capões de araucária em São José dos Ausentes/RS.
Desde pequeno descobri que se pegasse os pinhões velhos demais para comer, aqueles que no final do inverno começam a brotar, e os colocasse em uma vaso com terra, em pouco tempo teria em casa uma pequena muda de araucária, clone miniatura dos imensos gigantes que uma vez povoaram  os campos do planalto sul-riograndense.

Com o tempo, já crescido, passei a propositalmente comprar pinhões velhos no supermercado, aqueles em liquidação, somente para espalhá-los no campo atrás do sítio de meu pai, esperando um dia ver-me padrinho, quem sabe, de um pequeno bosque de araucárias.

Bosque de araucárias. Canela/RS

A Floresta de Araucária (Araucaria angustifolia), quando do descobrimento do Brasil, se estendia numa faixa contínua, no Planalto Meridional, desde o sul do estado de São Paulo até o norte do Rio Grande do Sul, chegando à província de Misiones na Argentina. Outras manchas esparsas existiam nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espirito Santo.

Especialmente no sul do país estas imensas florestas foram praticamente dizimadas pelas grandes lavouras e serrarias que passaram a explorar este verdadeiro ouro verde especialmente a partir do século XX.

Araucárias resistindo ao avanço das grandes lavouras de soja no norte do Rio Grande do Sul. Lagoa Vermelha/RS
Embora muitos dos pinhões que plantei tenha visto transformarem-se de fato em exuberantes árvores produtivas, a grande notícia é que, para evitar extinção de planta, o governo do Rio Grande do Sul tomou a iniciativa de experimentar a semeadura de araucárias com uso de aeronaves no norte do Estado.
Acampar à sombra de uma frondosa araucária é tudo de bom!
Canela/RS.
Apelidada de Programa de Educação Florestal Gralha Azul, a primeira semeadura de araucárias por meio de avião foi monitorada pelo curso de engenharia florestal do campus da Universidade Federal de Santa Maria em Frederico Westphalen. Segundo entrevista concedida ao Jornal Zero Hora, o engenheiro florestal e diretor do  Departamento de Florestas e Áreas Protegidas (Defap) da Secretaria Estadual do Meio Ambiente do RS, Roberto Ferron, estimou que o plantio seja capaz de intensificar o valor ambiental e econômico da árvore, que em 10 anos estará produzindo pinhões.

Para substituir a técnica manual de plantio, que é mais trabalhosa, o Defap imitou as gralhas e desenvolveu uma técnica pioneira no Brasil. Inspirado na fertilização aérea, fez o plantio com o uso de aviões. Duas ilhas cedidas pela empresa Tractebel Energia na área alagada pela usina hidrelétrica de Passo Fundo, uma de 10 hectares e outra de 30 hectares, serviram para o projeto-piloto, que espera fazer nascerem 10 milhões de mudas de araucária no Estado nos próximos três anos.

Como é uma árvore protegida pela legislação desde 2000, ficou na cabeça das pessoas que, depois de crescida, não vão mais poder cortá-la. Então, os agricultores cortam os pinheirinhos ainda pequenos — disse Roberto Ferron, diretor do Defap.
Copas de araucárias. Canela/RS.

Durante o inverno a safra extrativista do pinhão cresce no Rio Grande do Sul, com comércio forte a partir de junho, uma vez que a semente de araucária é muito apreciada como alimento e integra a tradição gastronômica gaúcha, herança deixada pela cultura indígena. Cada pinheiro produz em média 50 pinhas e no RS os locais de maior produção são as regiões de Campos de Cima da Serra, Serra do Botucaraí e Norte do Estado.

Assim, no último dia 9 de julho mais de 1,6 mil quilos de pinhões foram jogados do céu na tarde de segunda-feira, em Campinas do Sul, no norte do Estado, num projeto que pretende revolucionar o reflorestamento em áreas degradadas. Utilizando um avião pela primeira vez para fazer o plantio, numa única tarde foi realizado o trabalho que levaria meses para ser feito de forma manual.

Foto Marielise Ferreira - Jornal Zero Hora
Imitando a gralha azul, o avião agrícola sobrevoou duas ilhas, uma de 30 hectares e outra de 10 hectares, lançando as sementes de araucária ao solo. Foram 40 quilos de pinhão, cerca de 5,5 mil sementes, para cada hectare de terra.

- Foi melhor do que eu esperava, as sementes caíram de forma dispersa e temos grande expectativa de que a maior parte das sementes germinem - salientou o professor Fabiano Fortes.

Para preparar as sementes, os pinhões ficaram imersos em água por dois dias, garantindo a umidade necessária para a germinação. Também foram banhadas em querosene, para impedir o ataque de animais. Com o preparo, as sementes poderão germinar em 10 dias, quando no processo natural, normalmente isto ocorre em 120 dias. Agora o grupo espera a participação de outro parceiro, para que o plantio tenha sucesso: a chuva!

Depois desta ótima notícia, nos resta acompanhar o desenvolvimento das sementes e verificar se o governo estadual vai persistir com este maravilhoso projeto.

Charge de Iotti - Jornal Zero Hora de 11/07/2012

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