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segunda-feira, abril 04, 2011

Montanhismo: Kika Bradford divulga nova manifestação sobre o acidente no Fitz Roy

Bernardo Collares e Kika Bradford. Fonte: ClicRBS

Em função os últimos acontecimentos no caso do acidente fatal havido em El Chaltén em janeiro deste ano, Kika Bradford, parceira do montanhista brasileiro Bernardo Collares na escalada ao Cerro Fitz Roy divulgou manifestação pública na sua página no Facebook expondo com detalhes a sua versão do aconteceu na montanha.

Confira o texto integral do seu depoimento divulgado no último dia 03/04/2010:


"AOS MEUS AMIGOS E PESSOAS DE BOA FÉ.


Ainda sob abalo emocional do acidente com o Bernardo, tenho acompanhado as dores da família Collares através do facebook e a sua luta por explicações e possibilidades de resgate do corpo que possam trazer alguma paz e conforto, dentro do possível, para todos.


Tenho também acompanhado as manifestações feitas no facebook do Bernardo por diversas pessoas alheias à família. Vejo com pesar, que, principalmente a partir do "7º Capítulo - PRIMEIROS MOVIMENTOS E A “OPERAÇÃO ABAFA” -Versão da família", postado no dia 21/03, tem havido um elevado número de mensagens, de algumas poucas pessoas, com afirmações que denotam desequilíbrio emocional e irracionalidade que agridem e ofendem gravemente, me atingindo naquilo que mais prezo como pessoa, a minha honra e os meus valores morais.


Momentos de alto estresse muitas vezes levam a atitudes impensadas, mas aqueles calcados em base sólida de caráter sabem respeitar limites e evitar deduções levianas e falsas que possam comprometer os valores morais e honra alheios.


Pela gravidade das opiniões emitidas, que mais parecem fruto de movimento articulado para me desestabilizar em prol da defesa da tese de que houve omissão de resgate, a qual não compartilho, achei necessário fazer uso do meu facebook para os esclarecimentos necessários e evitar a que ‘uma mentira contada muitas vezes se torne uma realidade’


Sobre a dúvida levantada a respeito da veracidade do meu relato, opto por ignorá-la pela insignificância das pessoas que levantam essa premissa e por se tratar de uma questão de credibilidade pessoal, a qual jamais foi questionada por alguém de boa fé, que realmente conhece a situação ou me conhece.


Aos questionamentos, acusações e/ou alegações de falta de solidariedade por abandono do Bernardo (sim, abandono, pois não encontro outra palavra para descrever suposições de que o Bernardo teve simplesmente um dedo da mão quebrado), de que eu relatei não ter examinado o Bernardo, falta de empenho em prol do resgate e contra o parecer da Comissão de Auxilio em El Chalten, falta de atenção à família Collares no devido tempo e falta de desmentido de diagnóstico publicado em algumas mídias, entre outras falsas premissas, eu respondo com os esclarecimentos e detalhamento abaixo.


Em nenhum momento, em nenhuma colocação minha, relatei APENAS um dedo quebrado. Em todos os relatos, chamei MUITA atenção para o fato principal: a dor incapacitante que o Berna sentia na região do quadril / coluna lombar, cóccix.


Em nenhum momento afirmei não ter realizado uma avaliação do estado do Bernardo. Durante as 4 horas que estive com ele, pude averiguar diversos sinais e sintomas, e todos foram relatados para a Dra. Carolina, família e, posteriormente, aos montanhistas no CEB.


O que relatei foi não ter concluído um exame físico minucioso no Bernardo por diversos motivos:


Num acidente com possibilidade de lesão na coluna vertebral, não se deve mover muito a pessoa. O trauma que Bernardo sofreu indicava uma grande possibilidade de lesão na espinha, ainda mais com a presença de fortes dores na região do quadril, lombar e cóccix.


Qualquer movimento mínimo do quadril para baixo, mesmo um toque quase imperceptível na região do quadril, causava uma dor absurda em Bernardo. Qualquer movimento acima do quadril era também sentido com muita dor, embora não tão grande quanto a inferior.


A temperatura baixa e condições climáticas adversas dificultava a movimentação, uma vez que qualquer peça de roupa removida para que eu chegasse a nível da pele deveria ser colocada de volta no mesmo lugar para prevenir a perda de calor.


Evidência de que a região da bacia e lombar também havia sido afetada com gravidade devido à sua dor e incapacidade de mover-se, e que provavelmente outras partes poderiam ter sido afetadas. Imaginei que qualquer que fosse o resultado de uma avaliação completa naquela situação não alteraria a condição paralisante do Berna e a gravidade da situação.


Partiu do próprio Bernardo a verbalização do que foi a melhor e única opção de ajuda para ele: que eu descesse sozinha para buscar ajuda e que necessitava que isso ocorresse naquele dia, com um helicóptero. Interpretei essa sua manifestação como uma confirmação da precariedade do seu estado físico e da urgência na adoção da única alternativa que representasse qualquer fio de esperança: a minha descida solo em busca de resgate.


O que segue também foi relatado para a Dra. Carolina, família e, posteriormente, mídia e montanhistas no CEB (aqui me restrinjo a descrever os sinais e sintomas que observei em Bernado, sem detalhar o acidente em si ou procedimentos técnicos):


Bernardo perdeu a consciência quando seu corpo bateu contra a pedra. Ficou desacordado por 1 a 2 minutos (tempo aproximado), completamente pendurado na corda.


Ao voltar a si, Bernardo se encontrou extremamente desorientado por mais de 40 minutos (tempo aproximado), a ponto de não saber onde se encontrava. Sabia seu nome e sabia quem eu era, e em um momento me disse que não tinha ideia da onde estava, e quando perguntei, me disse que não sabia nem que estava no Fitz Roy. Nesse período, fez diversas perguntas repetitivas: o que aconteceu? e me repetia a mesma coisa: acho que quebrei meu dedo.


Para realização de um procedimento técnico, enquanto ainda pendurado na corda, Bernardo conseguiu, com muito sacrifício e dor intensa, colocar seu peso em uma das pernas com o suporte da corda (que sustentava parte de seu peso).


Bernardo tinha muita dificuldade de olhar para baixo mexendo apenas o pescoço.


Quando eu consegui transferi-lo para o platô, Bernardo conseguiu se arrastar com os braços mais ou menos 0,40 cm. Não conseguiu ficar em pé, nem sentado, deitando-se imediatamente.


Bernardo deitou no chão e quando eu levei o isolante térmico dele, ele levantou o tronco, com muita dor, e eu coloquei o isolante embaixo dele. Imediatamente depois, Bernardo me diz: daqui eu não saio.


A partir desse momento, Bernardo não se moveu mais sozinho. Qualquer movimentação na região das pernas, eu deveria fazer para ele. Toda movimentação causava uma dor monumental, traduzidas em gritos e palavrões. Cabe ressaltar que estou falando de movimentos de menos de 10 cm, apenas para ajeitar o pé para um lado ou outro; ou colocar a mochila abaixo de seus pés para deixá-lo mais confortável e isolado do chão. (OBS - A mochila ficou nesse lugar: embaixo de suas pernas, sem estar totalmente fechada. Dentro dela, havia apenas algum lixo, e acho que um par de meias e não levamos papel e lápis. Ela estava praticamente vazia, uma vez que todo equipamento de bivaque – dormir – e escalada estavam sendo usados e Bernardo usava toda sua roupa).


Bernardo, nesse momento, conseguiu tomar água sozinho, segurando a própria garrafa e mexendo os braços. Não conseguiu comer.


Bernardo tremia incontrolavelmente nesse primeiro momento em que o deixei deitado.


Mais ou menos uma hora e meia depois disso….


10. Bernardo sabia onde estava e o que havia acontecido. Perguntou se eu havia conseguido buscar a corda, demonstrando mais lucidez.


11. Bernardo seguia incapacitado de mover suas pernas, nem que fossem centímetros. A dor estava mais forte. Pediu que mudasse a posição do seu pé (centímetros), o que ocasionou uma dor muito intensa.


12. Ao ajeitar algo a seu lado, encostei levemente, sem querer, na região da sua bacia, o que provocou uma dor excruciante


13. Bernardo me disse que não conseguia pegar a água que estava ao alcance de sua mão, ao lado de sua cabeça e que era para eu deixá-la dentro de seu saco de dormir.


14. Movi minimamente sua cabeça para colocar uma balaclava e nenhum ferimento me chamou a atenção nessa região. Esse movimento causou desconforto, mas não dor. Coloquei suas sapatilhas debaixo de sua cabeça para maior conforto (Bernardo estava calçado com as botas).


15. A dor não deixou que eu colocasse um segundo isolante térmico embaixo de Bernardo completamente. Coloquei-o o máximo que consegui embaixo de parte de seu tronco.


16. Bernardo me disse que não podia se mexer e que dali só sairia de helicóptero. Para quem não conhecia o Bernardo, isso pode significar quase nada. Quem o conhecia sabe da imensa força física, mental e espiritual que ele tinha. Bernardo não iria dizer isso se não fosse algo grave.


Levantar a suposição de que um dedo quebrado tenha sido o causador da trágica conseqüência é menosprezar esses atributos acima descritos.


----


O acidente ocorreu dia 03/01 pela manhã, cerca de 9:30/10hs e comecei minha descida às 14hs. No mesmo dia 03, contrariando a previsão do tempo, o Fitz Roy ficou o dia inteiro por baixo das nuvens e começou a nevar no final do dia. No dia 04, o tempo piorou: nevou e ventou o dia inteiro. Dentro dessa conjuntura, Juan avisou a comissão de auxílio que ia subir para as montanhas com Luis e averiguar o que havia ocorrido, já movimentando um resgate. Ao avistarem uma pessoa vindo no glaciar, passaram um rádio para Chalten para avisar que havia apenas uma pessoa (ainda não sabiam quem era). Assim que conseguiram avisar a Chalten, desceram e me encontraram por volta das 5:30 da tarde.


Imediatamente após o meu resgate e obtenção de informações básicas, Luís passou um rádio para Chalten. Quando chegamos a Piedra del Fraile, um abrigo de montanha (mais ou menos 4 horas de caminhada do local onde eles me encontraram), nos encontramos com Marcela, da Comissão de Auxílio / Resgate de Chalten. Ela estava ali para falar diretamente comigo, sem intermediários, e obter as informações necessárias para o possível resgate do Bernardo. Eram, mais ou menos, 10 da noite.


Minha exaustão física e mental não me deixou continuar até Chalten nesse dia. Dormi em Piedra Del Fraile, onde não tem telefone, televisão, internet, etc, e que se encontra a 2 horas de caminhada da estrada + 40 minutos em carro de Chalten. Cheguei em Chalten às 11 da manhã do dia 05/01 e fui direto conversar com a Dra. Carolina. Foi quando recebi a informação de que o resgate era impossível.


A Comissão de Auxílio, coordenada pela Dra. Carolina, havia chegado a essa dolorosa conclusão por diversos fatores (conforme me foi informado por ela e por pessoas que participaram do processo de decisão), entre os quais: os sinais e sintomas de Bernardo, a localização do local na montanha (400 metros do cume e 1500 metros da base), as características da via Afanassief (muitas horizontais, muitas pedras soltas), a impossibilidade de, na melhor das hipóteses, uma equipe de resgatistas chegar ao local em que o Bernardo se encontrava antes da tarde do dia 06 ou manhã do dia 07, ou seja, 4 dias depois do ocorrido, a previsão de piora no clima para o dia 07/01, fatores esses que colocariam toda a equipe de resgate em alto perigo de vida. Sobre a alternativa de resgate aéreo, não havia disponibilidade de um helicóptero com equipamento específico, nem a presença de piloto e equipe experiente em resgate em paredes da proporção do Fitz Roy e com experiência em voos na Patagônia, com seus ventos...


Meu mundo desabou... foram dois dias lutando para buscar o resgate e esse não seria possível. Foi a notícia mais difícil que recebi na minha vida.


Dali, fomos falar com outros escaladores, entre eles o Sérgio Tartari, que me explicaram ainda mais o processo de decisão e o porque daquela decisão. Nessa hora, Sérgio me disse que, como ninguém tinha o telefone de nenhum parente do Bernardo, havia ligado para Cris Jorge para que ela avisasse a família e que a família assim já havia sido comunicada naquele mesmo dia 5, pela manhã, antes da minha chegada à Chalten.


No dia 06/01, apesar dos 10 dedos da mão em estado de congelamento, enviei um email para Leandro e Kátia (irmãos do Bernardo) explicando da minha dificuldade de digitar, passei meu telefone em El Chalten e me pus à disposição da família. Ambos me responderam que não haviam ligado por saber que eu estava “traumatizada de corpo e mente” (email da Katia). Leandro me agradeceu por fazer o que Bernardo me havia pedido e Katia me disse para ficar tranquila que havia um movimento para gerenciar o conteúdo na mídia. Nesse mesmo dia, falei com o André Ilha e relatei o acontecido, seguindo a linha acima descrita.


No dia 07/01, Érica (irmã do Bernardo) e Sblen (que foi a Chalten a pedido da família do Bernardo) chegaram a Chalten. Hugo, filho de Erica e sobrinho do Berna, chegou mais tarde. Durante toda a estadia dos Collares em Chalten, prestei assistência e apoio, junto com Juan, Mita, Sblen e Xande (meu irmão), não medindo esforços para ajudá-los no que necessitavam: encontros, reservas, comidas, hospedagem, etc.


Durante esse tempo em Chalten não me senti em condições emocionais de dar declarações e/ou entrevistas à mídia. Em nenhum momento, porem, essa minha atitude foi para com a família Collares. Pelo contrário, eles sempre tiveram todos meus contatos desde o primeiro momento: telefone, email e facebook.


Cheguei ao Rio de Janeiro, no dia 13/01, à 1:30AM, já com reunião agendada com toda a família do Bernardo, para aquele mesmo dia, na hora e local que eles escolheram. Durante 04 horas forneci todas as informações e me coloquei á disposição para novos esclarecimentos (por email, telefone ou novo encontro), inclusive para aqueles que não puderam estar presentes.


No dia 16/01, saiu uma entrevista no O Globo, com detalhes sobre o acidente e também uma matéria curta no Estadão. Ainda, num pedido da Go Outside, fiz um relato da minha experiência, em como eu vivi tudo (edição de março). Não tive o objetivo de descrever com detalhes o acidente, seguindo a linha editorial que me havia sido requisitada.


Fiz questão de falar também com os montanhistas sem restringir “aos amigos”. Marquei uma “palestra” no Clube Excursionista Brasileiro (CEB), no dia 18/01, que foi divulgada nas listas dos clubes de montanhismo, na lista da FEMERJ e para a família. Aqueles que participaram puderam ter uma visão mais realista do acontecido, uma vez que não se restringiram a informações oriundas de redes de noticias. Imagino que foram mais de 200 pessoas espremidas para escutar meu relato. Berna era querido.


Entre o dia do relato para a família e hoje, a família Collares me contatou 3 vezes, fora o nosso encontro no dia da homenagem ao Bernardo, na Urca. A primeira através de telefonema do Hugo, quando ofereci todas explicações que podia. A segunda foi pela Erica, via email do facebook, solicitando um encontro com urgência, que, a pedido, concordei em ser no dia 09/02, Quarta-feira de cinzas, mesmo em sacrifício do feriado e de compromisso já assumido, mas que foi por ela desmarcado em cima da hora sem justificativa plausível.


Posteriormente, nos dia 12 e 13/03, troquei emails com o Rodrigo a respeito de informações por ele solicitadas sobre a foto do platô onde Bernardo deveria estar e que foram prontamente respondidas.


Não me preocupei em desmentir qualquer publicação de diagnóstico de fratura de bacia, hemorragia interna, etc, a qualquer tempo, por achar que tal afirmativa em nada alteraria o relato da gravidade da ocorrência, inclusive a total incapacidade de locomoção do Bernardo, e que em nada contribuiria para amenizar a dor da família Collares e de todos os amigos.


----


Reitero que minha indignação diz respeito a alguns poucos que tem sido responsáveis por muitas mensagens agressivas e ofensivas postadas no facebook do Bernardo. Foi confortante receber da família Collares mensagens no meu email pessoal contendo manifestações como:


“Estamos revoltados com a forma como tudo foi conduzido, mas você participou apenas da parte em que não se poderia fazer mais nada. Você fez o que estava ao seu alcance e nós temos plena consciência disto”.


“O que eu posso afirmar para você é que não existe nenhuma divergência com relação a você na família. Alias é um dos poucos pontos onde existe consenso. Você fez o que tinha que ser feito.”


Finalmente, não pretendo me pronunciar mais de forma aberta para responder a questionamentos injustos, incabíveis e/ou ofensivos, permanecendo à disposição da família Collares para ajudar, sempre que possível.


Kika Bradford"
No dia 04 de fevereiro a ESPN transmitiu um belo programa em homenagem ao Berna. Veja a íntegra no blog do Eliseu Frechou AQUI.


CONFIRA A COBERTURA COMPLETA FEITA PELO TERRA AUSTRALIS:

- 05/01/2011 - Argentina: Montanhismo brasileiro perde Bernardo Collares no Fitz Roy

- 06/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Bernardo Collares, onde está o resgate? Falecimento do montanhista ainda não foi confirmado

- 07/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Comunicado da FEMERJ sobre o acidente no Fitz Roy

- 07/01/2011- Argentina/Montanhismo: Condições de risco não permitem resgate no Fitz Roy

- 08/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Resgate aguarda melhora do clima para busca de Bernardo

- 09/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Autoridades poderão deixar andinista brasileiro na montanha

- 10/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Fim da polêmica, família decide e Bernardo ficará no Fitz Roy

- 11/01/2011 - Montanhismo: Escaladores convocam homenagem a Bernardo Collares no próximo dia 15 no Rio de Janeiro

- 14/01/2011 - Montanhismo: Acidente no Fitz Roy. Um ponto final

- 16/01/2011 - Montanhismo: Escalada coletiva cobre a Urca em homenagem a Bernardo Collares

- 22/01/2011 - Escaladora relata com detalhes acidente na Patagônia
 
- 30/03/2011 - Corpo de montanhista brasileiro desaparece do local do acidente no Fitz Roy

quarta-feira, março 30, 2011

Argentina/Montanhismo: Corpo de montanhista brasileiro desapareceu do local do acidente no Fitz Roy

Bernardo e o local onde foi deixado supostamente à morte no Fitz Roy.
Fonte: Eliseu Frechou/ESPN/Estadão

O corpo do montanhista brasileiro Bernardo Collares desapareceu do lugar onde supostamente teria falecido no Monte Fitz Roy, na Argentina, conforme noticiou nesta madrugada o escalador Eliseu Frechou, a partir de uma carta da mãe de Berna - Heliane Collares, postada no Facebook.

Será que de fato ele estava à beira da morte quando autoridades e resgatistas argentinos qualificaram como inútil a sua busca?

Bernardo teria tentado salvar-se sozinho depois de inutilmente esperar pelo socorro?

Mantenho este blog desde 1997 e em 4 anos a minha postagem mais acessada até hoje foi justamente aquela de 06/01/2011 na qual questionei - como tantos outros - a ausência de sequer uma tentativa de resgate de Collares em seguida ao seu acidente.

Argentina/Montanhismo: Bernardo Collares, onde está o resgate? Falecimento do montanhista ainda não foi confirmado.

A mesma indação já havia feito no mesmíssimo dia em que a notícia circulou dentre os montanhistas ao inserir o primeiro post sobre o acidente aqui no Terra Australis, lembrando de casos referenciais de auto-resgate em situações extremas como Beck Weathers no Everest e Joe Simpson nos Andes, desejando que o mesmo pudesse acontecer ao escalador brasileiro.

Argentina: Montanhismo brasileiro perde Bernardo Collares no Fitz Roy

A manifestação da família de Bernardo diz tudo e nos faz imaginar um final ainda mais dramático para esta triste história. Agora é aguardar a reabertura do processo de investigação que está sendo solicitado aos meios diplomáticos do Itamaraty.

Confiram abaixo o a carta de Heliane Collares noticiada por Eliseu Frechou no Estadão Online/ESPN (confira a matéria AQUI):
"Após todo o sofrimento pelas tentativas frustradas de salvar o Bernardo, após tantos "nãos" para nossos apelos pelo resgate, recebemos a notícia de que o corpo do MEU FILHO não se encontra no local onde sua parceira o deixou VIVO, em 03/1/11.

Fotos tiradas em fevereiro constataram que, no local, só permanecem algumas barras de cereal, uma corda (identificada pela Kika como sendo a da ancoragem de Bernardo), o cantil, um bujão de gás para fogareiro, um stopper,uma piqueta e um par de sapatilhas de escalada.

Inexplicável!

Várias indagações podem ser feitas a partir desse fato.

Será que o estado de saúde de Bernardo não era tão ruim quanto as previsões pessimistas que o condenaram, e ele arrumou a mochila, abandonando alguns itens, tentando salvar-se, ante a demora do resgate, tendo queda fatal em outro lugar? Quanto tempo ele esperou? O que sofreu?

Será que saqueadores estiveram lá (onde nos diziam que ninguém conseguiria ir para ajudá-lo), levando o que tinha valor e empurrando o corpo no precipício?

Como, após tantos dias, barras de cereal permaneceram num lugar em que nos falaram de terríveis ventos que inviabilizavam vôos de helicópteros?

Como nos propusemos a falar somente do que podemos provar aqui nos limitamos a lançar as interrogações, que permanecem como facas nos nossos corações.

As fotos foram encaminhadas ao Itamaraty, com requerimento no sentido de que se reabra processo judicial que tramitou na Argentina, com novas investigações e resgate do corpo. Na carta, informamos, ainda, que, pelas informações preliminares recebidas dos montanhistas locais, o corpo deve se encontrar no glaciar, a 1000 metros abaixo, próximo à "grande canaleta", em local que pode ser atingido inclusive sem escalada e onde foram resgatadas duas pessoas no ano passado.

E agora, aqueles que nos falaram com tanta certeza de que Bernardo morrera nas primeiras horas do acidente, de hipotermia, teriam as respostas de que nós precisamos para dormir em paz?

E eles, será que têm a consciência livre da culpa por seu amadorismo ter concorrido para a morte de uma pessoa?

Heliane Damiano Collares (mãe do Bernardo)"

CONFIRA A COBERTURA COMPLETA FEITA PELO TERRA AUSTRALIS:
- 05/01/2011 - Argentina: Montanhismo brasileiro perde Bernardo Collares no Fitz Roy
- 06/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Bernardo Collares, onde está o resgate? Falecimento do montanhista ainda não foi confirmado
- 07/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Comunicado da FEMERJ sobre o acidente no Fitz Roy
- 07/01/2011- Argentina/Montanhismo: Condições de risco não permitem resgate no Fitz Roy
- 08/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Resgate aguarda melhora do clima para busca de Bernardo
- 09/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Autoridades poderão deixar andinista brasileiro na montanha
- 10/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Fim da polêmica, família decide e Bernardo ficará no Fitz Roy
- 11/01/2011 - Montanhismo: Escaladores convocam homenagem a Bernardo Collares no próximo dia 15 no Rio de Janeiro
- 14/01/2011 - Montanhismo: Acidente no Fitz Roy. Um ponto final
- 16/01/2011 - Montanhismo: Escalada coletiva cobre a Urca em homenagem a Bernardo Collares
- 22/01/2011 - Escaladora relata com detalhes acidente na Patagônia

sábado, janeiro 22, 2011

Montanhismo: Escaladora relata com detalhes acidente na Patagônia

Renata "Kika" Bradford. Fonte: O Globo

Dando seguimento à serie de postagens que fiz aqui no blog com informações e opinião sobre o acidente fatal havido no início deste mês com Bernardo Collares em El Chaltén, Argentina, pela primeira vez desde o ocorrido a sua parceira de escalada, Renata Bradford, veio à público para dar uma versão mais detalhada dos fatos.

Do depoimento feito à imprensa e de todas as notícias já divulgadas, para mim ainda fica em aberto somente um ponto: - Por que os escaladores não estavam utilizando rádio ou qualquer outra espécie de comunicador para informar o acidente tão logo fosse possível?

Se o resgate poderia ou não chegar a Bernardo não é algo que pudesse ou devesse ser previsto ou avaliado no momento do acidente. O certo é que comunicadores e/ou sinalizadores de socorro são equipamentos de segurança imprescindíveis em uma escalada com o nível de dificuldade extrema como a do Cerro Fitz Roy.

Segue abaixo o relato integral feito para o Jornal O Globo, do Rio de Janeiro, onde Kika descreve o que aconteceu na escalada.


"RIO - A escaladora carioca Kika Bradfford relata o momento da despedida de Bernardo Collares no Monte Fitz Roy, na Patagônia argentina com emoção. Ao quebrar a bacia no Monte Fitz Roy, ele não pôde prosseguir a escalada no último dia 3 de janeiro. Collares, já sabendo que sua situação era bem crítica, mostrou-se muito preocupado com a amiga, que teve que descer sozinha uma montanha que mesmo os escaladores mais experientes preferem enfrentar com um parceiro ou uma equipe. Kika desceu com a esperança de conseguir um resgate a tempo para salvá-lo. Não foi possível. A família de Collares já o considera morto.

Durante esta entrevista, Kika detalha os últimos momentos que passou com o companheiro de escalada e a grandeza dele ao dizer adeus à amiga.

Como foi a última conversa com Bernardo?

KIKA BRADFFORD: No nosso último diálogo, ele me disse: "Kika, daqui eu só saio de helicóptero e você precisa descer sozinha e buscar ajuda. E se o helicóptero não vier hoje"... Ele não completou a frase. E eu respondi: "Berna não fala isso, porque hoje não vou conseguir chegar à base, vou tentar chegar amanhã". Com dores intensas, ele teve a grandeza de dizer: "Kika, você não teve culpa e, se alguém perguntar qualquer coisa, todas as decisões a gente tomou junto". Preparei as ultimas coisas, deixei mais água, botei mais roupas nele, a balaclava, lhe dei remédio e disse: "Estou indo".

Ele falou alguma coisa?

KIKA: Sim, me recomendou calma. "Vai com muita calma". Beijei a testa dele, disse "eu te amo" e desci. Saí de perto do Berna no dia 3 de janeiro, às 14h.

Conseguiu manter a calma?

KIKA: No início da descida, a sensação era de que eu não era eu, que era só um corpo e que esse corpo estava somente focado nos procedimentos. Eu tinha de descer o mais rápido possível para acionar o resgate. A única chance de o Berna sobreviver era eu chegar à base da montanha.

Como foi o início da escalada de vocês no Monte Fitz Roy?

KIKA: Começamos no dia 1º de janeiro. Às 14h30m, demos início à escalada. Nosso objetivo do dia era escalar cerca de 600 metros. Se conseguíssemos 300 metro, já estaríamos satisfeitos. O ritmo da escalada estava bom e, surpreendentemente, chegamos aos 300 metros, às 17h30m. E, como lá só escurece às 22h30m, seguimos para o nosso objetivo, chegando a 600 metros, às 21h. Estávamos ligados nas coisas técnicas, mas ficamos deslumbrados com a beleza do por do sol no Gelo Continental, que é a maior massa de gelo da face da terra, fora dos polos. Vimos montanhas lindas.

Como foi o acidente?

KIKA: No dia 2, começamos a escalar às 7h30m. O objetivo era subir uns mil metros no segundo dia de escalada, o que conseguimos às 22h. Foi quando começamos a questionar se iríamos continuar rumo ao cume.

Por quê?

KIKA: De madrugada, começou a nevar. A previsão era de 0,5 milímetros de precipitação à noite, mas o dia transcorreria sem precipitação alguma. Mas acordamos com uma realidade diferente: vento forte e, o pior, muita névoa. Resolvemos descer e abortar a missão.

O que ocorreu?

KIKA: A melhor opção para descer era subir mais cem metros e descer por uma outra via. Subimos 30 metros e não conseguimos visualizar mais por onde iríamos subir. Descemos pela via por onde havíamos subido. Fizemos quatro rapéis. Completei o quinto rapel e quando Berna fazia o mesmo, deu um grito. O meu reflexo foi agarrar a corda, que, por sorte, havia se prendido a uma pedra acima, o que impediu que ele caísse. Berna, porém, teve uma queda de cerca de 20 metros. Uma ancoragem dele havia se desprendido e, por isso, ele caiu. Comecei a criar ancoragens mais fortes para segurar bem a corda do Berna, quando ele despertou de um desmaio de dois minutos.

O que ele disse?

KIKA: Perguntou o que havia acontecido. Expliquei que a ancoragem dele havia saído. Ele começou a reclamar de fortes dores e inúmeras vezes perguntou o que tinha ocorrido e a afirmar que tinha quebrado o dedo da mão esquerda. Em seguida, afirmou: "Kika não estou entendo nada, não sei nem onde estou". Isso foi um choque para mim. Eu falei que a gente estava no Fitz. Apesar da dificuldade de concentração e da dor extrema, ele seguiu as instruções. Eu tirei a mochila dele e o levei ao platô. Botei um isolante térmico para proteger seu corpo da pedra e o saco de dormir. O nível da dor dele era imenso. Ele reclamava muito da dor no quadril, no cóccix e na coluna lombar. Mas eu assegurei o maior conforto possível e precisei buscar a corda que havia caído. Por sorte, ela estava num platô a 60 metros. Demorei uma hora. Quando voltei, Berna estava lúcido, mas sua dor aumentou. Ele perguntou se eu havia recuperado a corda. Já percebia tudo à sua volta.

Como você desceu?

KIKA: No dia 3 de janeiro, após me despedir de Berna, fiz rapéis das 14h às 22h40m. Jamais faria uma escalada dessas sozinha. Encontrei o mesmo platô, no qual a gente havia passado a primeira noite na montanha. Pela dificuldade de visualizar o caminho e a alta probabilidade de me perder, esperei o amanhecer no platô. O vento estava forte e havia começado a nevar. Eu tremia e pensava muito no Berna. Às 5h45m, reiniciei a descida.

E como foi?

KIKA: O vento continuava forte, mas a visibilidade tinha melhorado, embora estivesse nevando. Eu deveria estar a 400 metros da base. Continuei descendo e cheguei ao local a 300 metros da base. O cansaço físico e mental era grande, e os rapéis cada vez mais desconfortáveis. Mas a minha motivação grande era chegar e tentar o resgate.

Você correu mais riscos?

KIKA: Num dos rapéis, a corda se prendeu a uma pedra. Para soltá-la, precisaria subir mais 40 metros, com grau de dificuldade alto. Resolvi cortar a corda. Continuei a descida com uma corda de 60 metros e a outra cortada, com 17 metros. Num próximo rapel, a corda ainda prendeu três vezes, eu tive que cortá-la, ficando com cada vez menos corda. Entre esses vários rapéis, mais um susto. Na pressa de sair de um lugar exposto ao vento e à neve, passei a corda por duas ancoragens. Uma delas falhou, mas a outra segurou. O incidente aumentou a minha tensão.

Quando chegou à base?

KIKA: Cheguei no dia 4, 24 horas depois de eu haver deixado o Bernardo. Duas horas e meia depois, encontrei o meu namorado, Juan Manuel Sanchez, que mora em Chalten, e um amigo dele, Luiz. Passei ao Luiz todas as informações para que as transmitisse por rádio à coordenação de resgate. Foi o primeiro momento em que eu me permiti chorar e perder um pouco do controle. Caminhamos por quatro horas até um abrigo, onde encontrei uma pessoa da comissão de resgate. 

Quando soube da impossibilidade do resgate?

KIKA: Na noite do dia 4, a comissão de resgate e escaladores voluntários se reuniram. No dia seguinte, cheguei a Chalten, às 11h, e falei com a chefe da comissão de resgate para saber o que estava sendo feito. Ela disse que os riscos eram muito altos por causa do clima e que, infelizmente, nada poderiam fazer."
Fonte: Jornal O Globo, 17/01/2011

CONFIRA A COBERTURA FEITA PELO TERRA AUSTRALIS:


- 05/01/2011 - Argentina: Montanhismo brasileiro perde Bernardo Collares no Fitz Roy
- 06/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Bernardo Collares, onde está o resgate? Falecimento do montanhista ainda não foi confirmado.
- 07/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Comunicado da FEMERJ sobre o acidente no Fitz Roy
- 07/01/2011- Argentina/Montanhismo: Condições de risco não permitem resgate no Fitz Roy
- 08/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Resgate aguarda melhora do clima para busca de Bernardo
- 09/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Autoridades poderão deixar andinista brasileiro na montanha
- 10/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Fim da polêmica, família decide e Bernardo ficará no Fitz Roy
- 11/01/2011 - Montanhismo: Escaladores convocam homenagem a Bernardo Collares no próximo dia 15 no Rio de Janeiro
- 14/01/2011 - Montanhismo: Acidente no Fitz Roy. Um ponto final.
- 16/01/2011 - Montanhismo: Escalada coletiva cobre a Urca em homenagem a Bernardo Collares

domingo, janeiro 16, 2011

Montanhismo: Escalada coletiva cobre a Urca em homenagem a Bernardo Collares

Fonte: Blog FotoBlocos
Pelos relatos foi emocionante a homenagem a Bernardo Collares realizada na Urca, Rio de Janeiro, no último sábado.

Não encontrei imagens na imprensa aberta e portanto me valho do importante documentário feito pelo Blog FotoBlocos, onde estão disponíveis diversas fotografias da grande reunião do meio montanhista em um dos mais importantes centros de escalada do país.

Na ocasião amigos e parentes do Bernardo proferiram palavras em sua memória e homenagem e uma caixa com registros, mensagens e fotografias foi entregue à família.

André ilha fala aos presentes. Ao fundo o monumento da Praça General Tibúrcio foi cercado de fotografias, mais tarde reunidas e entregues à família de Bernardo Collares. Fonte: FotoBlocos

Veja AQUI outras fotos da homenagem ao "Eterno Presidente", como era carinhosamente chamado pelos seus amigos esta figura tão querida pelos montanhistas e escaladores do Rio de Janeiro.

CONFIRA A COBERTURA FEITA PELO TERRA AUSTRALIS:

- 05/01/2011 - Argentina: Montanhismo brasileiro perde Bernardo Collares no Fitz Roy
- 06/01/2011 - Argentina/Montanhismo: Bernardo Collares, onde está o resgate? Falecimento do montanhista ainda não foi confirmado.
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- 14/01/2011 - Montanhismo: Acidente no Fitz Roy. Um ponto final. 
- 16/01/2011 - Montanhismo: Escalada coletiva cobre a Urca em homenagem a Bernardo Collares
- 22/01/2011 - Escaladora relata com detalhes acidente na Patagônia

sexta-feira, janeiro 14, 2011

Montanhismo: Acidente no Fitz Roy. Um ponto final.

Dizem por aí que bom senso e caldo de galinha não não fazem mal a ninguém.

Sobre o acidente com Bernardo Collares no Fitz Roy o depoimento a seguir, do montanhista carioca Maurício "ToNTo" Clauzet coloca com muito conhecimento, clareza e emoção um ponto final no assunto.

Maurício "ToNTo" Clauzet
Sem o que acrescentar, transcrevo na íntegra a impecável postagem do seu blog no dia 13/01/2011, inclusive com as fotos e gráficos para que possa ser bem compreendido. Veja aí:

"Berna, el Cabezzzzoooonnn
Conheci o Bernardo no Cerro Catedral na Argentina, era a primeira vez que ele estava lá.
Carinhosamente eu chamava ele de Cabezzzzzoooooooonnnnnnnn e ele me chamava de Cabeçããããããããããããooooooooo. Um dos motivos é o nosso diâmetro encefálico avantajado, digamos assim... e entre outros motivos, porque ele tinha um domínio do psicológico muito bom enquanto escalava, tendo a calma e tranquilidade de passar lances delicados e expostos.
Desde então encontrei com ele diversas vezes, escalamos juntos algumas vezes e sempre tivemos contato constante por email, inclusive muitos deles relacionados com FEMERJ, CBME, CTME do PNI.... enfim, o Bernardo era totalmente envolvido com a montanha, com a escalada e além disso com a organização e estruturação do nosso esporte.

Cabezzzoooooooooonnnnnnnnnn
 O Bernardo escalava de tudo, boulder, esportiva, parede, em móvel, enfim... o negócio dele era escalar, e se divertia mesmo escalando com alguém mais principante um simples quinto grau, a coisas mais comprometidas e difíceis. Repetiu diversas vias sinistras do Rio e era um apaixonado por Salinas.

Adorava correr na praia, e escalar antes de ir pro trabalho na Urca, depois ainda sacanear "Enton, acabei de chegar aqui no trampo... tava lá no Totem...". Ou ligar de algum cume de Salinas "e aeh, tá trabalhando? to aqui no cume do Pico Maior...".

Muito carismático, cheio de energia, sempre tratou todos de forma igual, dos casca grossa até o principiante.

Ponderado, mediador e negociador, ajudou a FEMERJ a fazer o que um dia já pareceu impossível, que foi agregar gregos e troianos do Rio sob o guarda chuva da FEMERJ.

Prestes a passar pelo "cú da galinha", na rota Normal da Torre Principal do Cerro Catedral - Argentina
Apaixonado pela Argentina, pois gosta muito da escalada em rocha em ambiente alpino e com proteção móvel. Foi a Arenales, diversas vezes ao Cerro Catedral, e algumas para Chaltén.

Uma vez ele quebrou o pé em uma vaca de mal jeito aí no Rio, e mesmo sem poder escalar por uns tempos continuou sempre super motivado, e quando voltou, voltou já a milhão. Impressionante, não se abalou nem fisicamente nem psicologicamente com o pé quebrado.

Era muito respeitado não só pelo seu posto de Presidente da FEMERJ e vice da CBME, mas ele acima de tudo era respeitado pelas suas posições consistentes e coerentes além de escalar pra caralho. Ninguém ousaria chamar ele de "cartola" em um sentido mais pejorativo, daquele que está na política do esporte mas não está dentro praticando... Ele escalava muito e muito forte, definitivamente entre os escaladores mais ativos dessa nossa geração no Brasil.

Cume da Torre Principal Cerro Catedral - Argentina
Era uma figura muito bem humorada, sempre pronto pra tirar um sarro e te sacanear, mas muito, muito querido entre os amigos. Em seu último aniversário, em 2010 recebeu dos amigos um presente muito legal e especial, que eu tenho certeza que foi uma demonstração clara de todo carinho que temos por ele.

Na via Objetivo Luna no Cohete Lunar, Cerro Catedral - Argentina
E a gente nunca espera, dá um tchau pro amigo que tá indo pra Chaltén já conversando de pendências pra volta... Todos super na vibe, pois Chaltén é um lugar muito mágico, e a temporada desse ano prometia, ano de El Niño que em tese é bom, oposto do ano passado, de La Niña, que a temporada não foi lá muito boa em termos climáticos.

Festival Internacional de Filmes de Montanha do Rio de Janeiro - Cine Odeon
E dia 5 de Janeiro tenho a notícia, ainda sem detalhes, que já lá em cima com a Kika, o Bernardo havia sofrido uma queda no Fitz a 35 rapéis do chão, quebrado a bacia e com hemorragia interna. A Kika conseguiu descer com perrengue, e só conseguiu avisar alguém 2 dias depois. E o tempo estava ruim...

Nesse momento entendi a gravidade da situação e sabendo onde ele estava, já soube que um resgate seria um milagre. E se passaram mais dias... e pra mim a certeza que o Cabezon tinha voltado para o lado de Lá.

Escalando no Pão de Açúcar
Muito foda de aceitar, e nessa hora a gente entende como a família tinha esperança dele vivo até hoje 13 de janeiro, mesmo o acidente tendo acontecido dia 02 ou 03 de janeiro, não sei precisar. É simplesmente muito difícil de aceitar. Ainda mais sabendo da vitalidade, energia e amor à vida do Bernardo.
Escalando no Pão de Açúcar
Para agravar, começo a ver a forma com que a imprensa apresentou o acidente, e o posicionamento de alguns poucos colegas escaladores mas que com certeza não entendem o quão "longe" é estar perto do cume do Fitz, o quão complicado é um resgate...

Vejo que na maioria das vezes que a imprensa e até alguns colegas escaladores falam de "um resgate", muitas vezes indignados, mas é visível que não tem um completo entendimento do ambiente lá, das condições e da sua dinâmica.

Com Cris Jorge e Silvério Nery escalando no Pico da Tijuca.
Já estive lá, conheço a área, e além de outras escaladas/tentativas em agulhas menores e menos comprometidas. Em 2006 fiz com a Roberta e com o Dalinho uma tentativa no Fitz, pela Franco-Argentina (em tese a mais curta e mais fácil das vias) e não fomos longe, nem além da Brecha de los Italianos. Em ano anterior, a Rober escalou entre 60 e 75% da Afanassief com Jose Pereira e posteriormente o Ed o Val e mais um argentino repetiram em 2006, temporada que eu estava lá, essa via na íntegra, depois de mais de 20 anos sem repetição desde a sua conquista. Já vi muitas fotos da via e conversei com eles, então apesar de nunca ter ido lá propriamente, tenho uma boa idéia da via e do seu acesso.
Descendo o Totem do Pão de Açúcar.

Fonte: PataClimb.com, observe a rota 17, que é a Afanasieff (clique para aumentar a foto)
 A via Afanasieff tem aproximadamente 1500m de escalada, é uma das mais longas do Fitz. Sobe pela linha mais natural da Aresta Sudoeste do Fitz. Foi conquistada em 1976 pelos franceses Jean e Michel Afanasieff, Guy Abert e Jean Fabre. Tiveram ainda no grupo um cameraman, e fizeram um filme desta aventura. Na primeira ascensão levaram 4 dias para subir e 2 dias para descer de rapel.

A aproximação para o pé da via pode ser feito de duas formas. A mais usada é pelo vale elétrico ao Paso Cuadrado e depois cruzando o Glaciar Norte do Fitz. A outra alternativa é pelo vale do Cerro Torre e depois pelo Filo del Hombre Sentado. Ambos são longos e em uma situação normal leva seguramente 2 dias de caminhada a partir de Chaltén.

Ela passou muitos anos sem uma repetição na sua íntegra. Que eu tenha notícia, só depois de 30 anos, em 2006 o trio de escaladores Ed Padilha, Wal Machado (do Brasil) e Gabriel Otero (argentino). Antes disso Jose Pereira e Roberta Nunes (brasileira) escalaram algo entre 60 e 75% da extensão da via.

Sobre a descida, observe o que o PataClimb.com, de Rolo Gariboti, fala:

A descent along the route would be treacherous because of bad belays and endless blocks and flakes. Climbing up and over the summit to descend the Franco-Argentine is recommended.

Tradução livre: uma descida pela rota pode ser traiçoeiro por conta de ancoragens ruins e um sem fim de blocos e lacas. Escalar até o cume e descer pelo outro lado pela via Franco-Argentina é aconselhado.
Nas Lacas do Pão de Açúcar.
Assim, imaginando que eles estavam próximos do cume no acidente, deviam estar a cerca de 3000m de altitude (o Fitz tem 3405m). Na Patagônia, e depois de uma tempestade, mesmo para uma pessoa gozando de total saúde seria difícil sobreviver a mais de 2 noites exposto na parede nessa altitude. Assim, eu não acredito que o Bernardo esteja ainda vivo esperando por um resgate. A Kika, além de uma escaladora super experiente, é instrutora da NOLS e assim já teve que fazer no mínimo 2 cursos de primeiros socorros em áreas remotas, o Wildernes First Responder e o Wilderness First Atendant. Eu já fiz o Wilderness First Responder, o mais básico, que é um curso excelente. O First Responder é mais aprofundado ainda e com carga horária maior, e assim, quando a Kika fala de bacia quebrada e hemorragia interna eu estou seguro de que ela sabe do que está falando. Nessa condição, sobreviver 2 noites lá já seria um milagre, quanto mais uma semana. Assim, eu considero que não há nem a mais remota possibilidade do Bernardo estar lá com vida.

Partindo desse pressuposto, considero totalmente irracional pensar em um resgate do corpo em algum lugar da parede do Fitz. Recentemente, quando estive no Ama Dablam, um helicóptero foi resgatar 2 escaladores presos na parede e se estabacou, morreram os 2 tripulantes mais um dos escaladores. E além das pessoas mortas, agora está lá um monte de lixo na encosta/gelo da montanha, inclusive com combustível e outros materiais tóxicos. Os 2 únicos piloto e engenheiro do Nepal, que tinham sido treinados na Suíça para resgate em montanha, morreram e assim o Nepal também perdeu um enorme capital humano. Tirar alguém da parede do Fitz de helicóptero é tão ou mais perigoso que ir lá escalar. Ir lá escalar por sua escolha é uma coisa, ir lá em uma missão atrás de um corpo é outra. O Fitz é vertical e açoitado por ventos fortíssimos e em rajadas, criando todo tipo de confusão, zonas de alta e baixa pressão, rotores e vortex. Ele é o ponto mais alto que separa de um lado a alta pressão do Oceano Pacífico e o Hielo Continental Sur, e do outro lado as estepes secas e planas e o Oceano Atlântico. O clima patagônico é ímpar e famoso por isso. Eu considero suícidio chegar de helicóptero perto da parede lá a não ser que não haja vento nenhum, algo praticamente impossível por lá como sabemos. Mesmo em uma janela boa para escalar, não acho que seja boa o suficiente para chegar de helicóptero na parede com um resgatista pendurado por cabo embaixo. Apesar de não ter o problema da altitude do Ama Dablam, considero o Fitz muito mais arriscado. Ouvi comentários inclusive falando de pousar no cume e descer de rapel... Um helicóptero já pousou no cume do vizinho Cerro Torre nas filmagens do Scream of Stone do Herzog (no Brasil se chama "No Coração da Montanha"). Mas o Fitz não é como um Half Dome ou um El Captain... O cume é gigantesco, fragmentado, com gelo... as pessoas sobem pela via Franco-Argentina e depois tem dificuldade de achar o rapel pra descer por ela mesma. O que dizer de achar o rapel de uma via que passou 20 anos sem repetição? É praticamente impossível achar onde começar o rapel pra chegar precisamente ao local do acidente, é como uma agulha no palheiro. Assim, não vejo o menor sentido em se gerar toda essa revolta por não quererem ir lá de helicóptero resgatar o corpo. Eu apoio os resgatistas que não querem ir lá. Entendo que isso seja difícil de aceitar, principalmente para os familiares próximos, mas é a realidade da situação.

A única coisa que poderia ter feito a diferença acredito que seria eles terem um rádio HT VHF e conseguissem comunicar o Parque assim que ocorreu o acidente, mas isso também poderia ser um tiro pela culatra, pois nesse caso a Kika poderia ter ficado lá esperando um resgate que eventualmente não chegaria, e aí seriam 2 e não 1. Ademais, nas escaladas Patagônicas extremas como essa, cada grama de peso é de se avaliar, e eu também não teria levado um rádio, mesmo se tivesse, para escalar a Afanasieff.

Nós escaladores, temos que entender muito bem o significado da palavra comprometimento. Existem escaladas onde realmente estamos "pondo o nosso na reta", e se algo der errado, as consequencias podem ser as piores. O complicado, são casos como o das expedições comerciais ao Everest e cia, onde os "clientes" tem uma falsa sensação de segurança e não conseguem ver a exposição aos riscos e o comprometimento. Tanto o Berna como a Kika tinham consciência de onde estavam se metendo. Escalar lá é realmente se projetar profundamente no remoto, no wild, no never never land. A sensação é que você está longe, muuuuito longe, e já considero um milagre a Kika ter conseguido descer de lá sozinha. A Kika é uma puta guerreira, quase inacreditável. Qualquer um que questione a decisão dela de descer ao invés de ficar, de duas uma, ou não tem a menor noção de onde eles estavam e das condições, ou é uma besta, e em ambos casos deveria ficar quieto. A Kika merece todo nosso respeito e acima de tudo nosso apoio, pois se doi na gente aqui e estamos tristes, eu não consigo nem imaginar a condição emocional dela depois de todo esse processo. Processo mesmo, pois não foi só tomar as decisões, descer sozinha e chegar no chão com um toco de corda, voltar tudo... todo esse pós chegar em Chaltén também não está sendo fácil. Temos que dar todo nosso apoio e carinho a ela.

Assim, aproveito pra dizer, que se um dia eu ficar pela montanha, me deixem por lá por favor.

Tenho certeza que o Bernardo ao entender que ia ficar por lá, passou para o lado de Lá em Paz, com a tranquilidade que só uma pessoa com o seu desapego e tendo vivido tanto a vida como ele conseguiria ter nessa hora.

Como já dito, o melhor que temos a fazer é lutar pro trabalho/legado do Berna não se perca, que cada um de nós tenha a vitalidade e a energia que ele punha na sua própria vida. Que seja uma inspiração de trabalho pelo montanhismo e também como pessoa e brother, que é tão querido não é a toa.

Buenas olas

Maurício "ToNTo" Clauzet"


terça-feira, janeiro 11, 2011

Montanhismo: Escaladores convocam homenagem a Bernardo Collares no próximo dia 15 no Rio de Janeiro

 
Escalando a Urca - Fonte: Cumes

Para o próximo dia 15 de janeiro a comunidade montanhista está planejando uma grande homenagem a Bernardo Collares, o "eterno presidente" da FEMERJ, quando escaladores deverão cobrir as principais vias da cidade do Rio de Janeiro já a partir das primeiras horas da manhã.

Certamente esta grande união de praticantes em torno da atividade que mais amava e pela qual tanto esforço pessoal envidou para organizá-la no Brasil será a melhor homemagem que se pode prestar a Bernardo, trazendo uma injeção de alegria e otimismo para o meio depois de passado o grande impacto do acidente no Cerro Fitz Roy.

Segue abaixo a convocação que já circula na internet:


"Povo da montanha, nesse sábado - 15/01/2011, será realizada uma homenagem ao nosso querido amigo e Presidente da FEMERJ, Bernardo Collares Arantes. A idéia da homenagem é: na parte da manhã, ocupar todas as vias de escaladas possíveis (Pão de Açúcar - todas as faces, Morro da Urca - Norte e Sul, Babilônia - Norte).
O horário na parte da manhã, fica por conta do escalador, de acordo com a via eleita para escalar.
Na parte da tarde, mas precisamente as 15:00h, haverá uma homenagem no centro da praça Gal. Tibúrcio (Guia Lopez), com discursos de alguns oradores e um minuto de silêncio como parte da homenagem.
Pessoal, vamos comparecer em massa!!! Vamos prestar essa homenagem ao nosso querido Presidente!!!
Abraços,

Julio Mello"

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Argentina/Montanhismo: Fim da polêmica, família decide e Bernardo ficará no Fitz Roy


A famosa "Via do Compressor" - Cerro Fitz Roy. Fonte: Alpinisonline

Parece que finalmente a discussão quanto ao envio ou não de equipe resgate ao topo do Fitz Roy está terminando, tema que ganhou um enorme espaço nas mídias brasileira e argentina e que a partir de certo limite - já ultrapassado - desgasta tremendamente aqueles que lhe eram próximos.

Para divulgação de informações pelo menos uma emissora de televisão brasileira enviou equipe de reportagem para cobertura direta do caso, a qual se juntou aos jornalistas já presentes no local.

Não fossem as importantes funções exercidas por Bernardo Collares na Federação de Montanhismo do RJ e na Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada talvez não tivesse sido tão grande a exposição do acidente, dando a imprensa muito mais relevância aos aspectos negativos da escalada do que aos grandes feitos de Collares, escalador extremamente querido e respeitado no meio do montanhismo.

Tanto a imprensa brasileira quanto argentina informaram que os familiares do montanhista entraram em consenso com as autoridades para deixar o corpo de Bernardo Collares na montanha, dados a absoluta impossibilidade de que ainda estivesse vivo e os enormes riscos que envolveriam uma tentativa de resgate em meio a fortes ventos com força de furacão e temperaturas inferiores a - 15ºC.

Em nome da família de Bernardo tem falado sua irmã Erika Collares, desde alguns dias em El Chaltén para acompanhar os desdobramentos do caso. Já em torno da segunda escaladora e única testemunha do acidente, Renata "Kika" Bradford, formou-se uma verdadeira blindagem após o acidente e dela nada mais se soube após o comunicado inicial do acidente.

Em função dos fatores de risco e das investigações feitas a justiça argentina poderá reconhecer por presunção o óbito de Bernardo, requisito essencial para que seja fornecido o necessário atestado à família e dado seguimento às formalidades legais subsequentes à sua morte.

Carolina Codó, coordenadora dos trabalhos de resgate em El Chaltén informou que, mais adiante, quando o tempo melhorar, um grupo de escaladores experimentados poderá subir o Fitz Roy para localizar o escalador e captar algumas imagens destinadas exclusivamente à família.

Segundo El Periódico Austral Carolina Codó reuniu-se com Erika Collares e enviou emails aos familiares de Bernardo, explicando os detalhes do acidente e os motivos pelos quais não foi despachada uma equipe de resgate, o que poderia causar novas e desnecessárias vítimas .

Declarou Codó que "el cuerpo Bernardo está en un lugar que para nosotros los escaladores es majestuoso”. Ao que complementou:

“Sin conocerlo personalmente, sé que era su sueño escalar el Fitz Roy como también es el mío. Por lo tanto él falleció tratando de cumplir su sueño, lo cual habla de una persona valiente y que disfruta de la vida, obligación que todos tenemos”.
Veja aqui a matéria veiculada ontem no Programa Fantástico, da Rede Globo:




ALGUMAS NOTÍCIAS VEICULADAS NA IMPRENSA:

- Estado de São Paulo - Família desiste de resgatar corpo de alpinista que caiu no Monte Fitz Roy
- EBand - Família de alpinista brasileio desiste de resgate na Patagônia
- La Opinión Austral - Familiares del andinista se reunieron con autoridades en El Chaltén
- El Periódico Austral - El cuerpo del andinista brasileño quedará en la montaña


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domingo, janeiro 09, 2011

Argentina/Montanhismo: Autoridades poderão deixar andinista brasileiro na montanha


Fonte: Folha Press

Segundo notícias veiculadas pela Folha de São Paulo, ainda não há um plano para resgatar Bernardo Collares, mas os trabalhos devem ser realizados pelo comissão de auxílio de El Chaltén, formada por médicos e escaladores locais especializados em buscas.

De acordo com a coordenadora das operações de resgate, a médica Carolina Codó, 41, nunca houve um resgate em um ponto tão alto do monte Fitz Roy e Bernardo estaria a menos de 300 metros do pico a 3.404 m.

Conforme Codó o resgate seria por meio terrestre para descer o corpo em uma maca ou bolsa, pois a Argentina não possui helicópteros e pilotos preparados para resgates aéreos dessa complexidade, como há na Europa e no Canadá.

Fonte: Alta Montanha

No Brasil o Ministério das Relações Exteriores afirmou que está em contato com a família e com o Consulado Geral em Buenos Aires e uma equipe da representação já tratou com a Polícia Federal argentina sobre o resgate, mas ainda não houve definição.

Em 2010, a comissão de auxílio resgatou cerca de dez alpinistas com vida nas montanhas da região e buscou três corpos.

A Folha de São Paulo também divulgou hoje a notícia de que as autoridades argentinas teriam decidido ontem, após reunião com uma comissão de resgate, por deixar o escalador Bernardo Collares no topo do monte Fitz Roy, o que teria tido a concordância dos parentes do brasileiro que foram até a região.

Informa a Folha que especialistas consideram que não há chances de Bernardo ter sobrevivido ao acidente que sofreu na segunda-feira.

"Ir a pé é muito arriscado e não temos um helicóptero preparado. Quando tivermos uma trégua climática, é possível que escalemos para fotografar o corpo, para que a família o veja e saiba o lugar onde está", afirmou Cadó.
Fonte: Folha de São Paulo
A médica disse que o resgate do montanhista seria o mais difícil já feito na região e fez referência à falta de comunicação imediata do acidente às autoridades, o que ainda não foi esclarecido no caso:
"Para mim é impossível que ele esteja vivo. É muito difícil sobreviver à primeira noite e, à segunda, impossível. Por isso não subimos quando a colega dele chegou aqui. Se soubéssemos do acidente antes, havia possibilidades de salvá-lo e teríamos escalado.
Isso seria possível caso os brasileiros tivessem um rádio ou telefone satelital, usados por alguns escaladores."
Fonte: Folha de São Paulo
Capri base camp - Fitz Roy
Fonte: Southern Explorations
ALGUMAS NOTÍCIAS NA IMPRENSA:


- Folha de São Paulo - Parentes de alpinista brasileiro chegam à Argentina para acompanhar possível resgate

- Folha de São Paulo - Resgate de alpinista brasileiro será o mais difícil

- Folha de São Paulo - Argentina decide deixar alpinista em montanha

- EBand - Autoridades tentam convencer família do alpinista brasileiro a desistir das buscas na Patagônia

- La Opinión Austral - El rescate del cuerpo del escalador “está en manos” de la Justicia Federal


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sábado, janeiro 08, 2011

Argentina/Montanhismo: Resgate aguarda melhora do clima para busca de Bernardo

Fonte: Opinión Austral

Segundo informações divulgadas hoje as autoridades argentinas aguardam apenas a melhora das condições climáticas para iniciar o resgate do montanhista brasileiro Bernardo Collares, cujo falecimento já tem sido reconhecido por presunção, mesmo que nenhum contato com com ele tenha sido feito até o momento.

Embora um helicóptero já tenha sido colocado à disposição dos resgatistas o mau tempo e os fortes ventos que assolam o Cerro Fitz Roy, em El Chaltén, na Província de Santa Cruz, podem causar um segundo acidente, restando a opção da busca por terra, também de grande risco em função das condições climáticas adversas.

Ainda, segundo informações divulgadas hoje, a irmã do brasileiro, Erika Collares, reuniu-se com o vice-cônsul do Brasil na Argentina, Marcos Maia, e foi para a Patagônia acompanhar os trabalhos de resgate, que ainda não tem data para serem iniciados.

De acordo com a Gendarmeria, a polícia argentina, os gestores do Parque Nacional de El Chaltén não receberam o registro de entrada dos brasileiros e tampouco tinham conhecimento do seu objetivo de escalar o Cerro Fitz Roy, também apelidado de "Rouba Dedos" e considerado uma das mais difíceis escaladas do planeta.

Em função das postagens feitas aqui no blog recebi alguns questionamentos quanto ao porquê de Bernardo e Kika Bradford não utilizarem equipamento de comunicação ou de sinalizadores de socorro como o Spot ou o Beacon.

Até o momento não há qualquer detalhamento das informações disponíveis a respeito, assim como não se sabe se os escaladores tinham equipe apoio ou pelo menos algum monitoramento durante a sua escalada, o que poderia ter agilizado o socorro logo após o acidente.

As autoridades locais afirmam que nenhum deles portava equipamento de comunicação, como telefones satelitais.

Por outro lado também questiona-se a falta de recursos materiais e humanos na Argentina para que se efetue a simples localização do escalador, o que vem sendo questionado pela sua família.

Na Argentina o acidente com Bernardo Collares reacendeu polêmica sobre o tema dos resgates e a necessidade de regulamentação do andinismo (como se chamam as escaladas nos Andes, a exemplo do alpinismo nos Alpes) e a contratação de seguros de vida e de resgate pelos escaladores pois, nos últimos meses, este foi o terceiro acidente fatal na região de El Chaltén.

Em depoimento à imprensa o Chefe de Gabinete da Gendarmería Nacional, Pablo González, afirmou o que segue sobre o acidente com os brasileiros:

“Hay que dejar en claro que en el caso del andinista mexicano que falleció el año pasado, el helicóptero intentó bajar tres veces y no lo pudo hacer por las condiciones climáticas, y cuando lo pudo hacer, la persona estaba fallecida”, resaltó el ministro, saliendo al cruce de las críticas por la falta de una nave de urgencia en la zona.
Con respecto al último hecho, sostuvo que los andinistas no tenían teléfonos satelitales y que los mismos no informaron a Gendarmería, Parques Nacionales o a la Comisión de Fomento sobre la expedición."
Fonte: Opinión Austral
O programa informativo Bom Dia Rio veiculou as seguintes notícias sobre os trabalhos de resgate em El Chaltén:



E na mesma linha as informações da Globo News quanto às preparações para o resgate:



ALGUMAS NOTÍCIAS PUBLICADAS PELA IMPRENSA:

- Terra - Resgate de brasileiro fica nas mãos da Justiça argentina
- La Opinión Austral - Por el andinista brasileño, vuelve la polémica por los rescates en El Chaltén
Globo - Desabafo de Rodrigo Collares, irmão do Bernardo
 
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sexta-feira, janeiro 07, 2011

Argentina/Montanhismo: Condições de risco não permitem resgate no Fitz Roy

Cerro Fitz Roy - El Chaltén/Argentina. Fonte: Folha Online

O montanhista André Ilha, amigo pessoal de Bernardo Collares, escalador acidentado no Cerro Fitz Roy na última segunda-feira, informou ao meio e à imprensa dados mais concretos e confiáveis sobre o acontecido, inclusive salientando a impossibilidade de efetivarem-se tentativas de resgate no momento atual em função das péssimas condições climáticas e grandes riscos para os resgatistas.

Embora parte da imprensa ainda cogite de Benardo estar vivo, na prática fica sepultada qualquer possibilidade de ser resgatado a tempo dada a gravidades das lesões que sofreu e a prolongada exposição à interpérie.

Na Argentina o Diário Patagónico informou que porta-vozes da Gendarmería não acreditam que o montanhista ainda possa ser encontrado com vida (link ao final deste post) e reproduz uma das suas últimas imagens.

Bernardo e Kika Bredford. Fonte: Diário Patagónico

Há que se considerar também que é um preceito básico das operações de resgate não aumentar o número de vítimas além daquelas que estão sendo buscadas e, têm sido divulgado, as avaliações feitas até o momento foram contrárias ao início de qualquer operação do gênero, o que não deve, em princípio, ser confundido com negligência das autoridades responsáveis.

Em depoimento dado ao Portal Webventure o escalador e oficial do corpo de bombeiros de São Paulo, Victor Carvalho, que já esteve no Fitz Roy, assim afirmou:

"(...) Se as informações preliminares estiverem certas e o Bernardo ter ficado mais de 30 enfiadas para cima no Fitz é impossível ele ser retirado de lá a não ser que por helicóptero. Qualquer tentativa de resgate por escalada nestas circunstâncias seria muito arriscada, se não suicida (ao meu ver), e praticamente sem chance de sucesso. Ainda mais nas condições de saúde dele (hemorragia e fratura de bacia).

Infelizmente as condições de voo por lá são extremamente ruins, com ventos que chegam a 80 km/h. Duvido muito que uma operação de resgate aéreo seja possível, até pelo tempo passado desde os fatos: o acidente deve ter sido entre o dia 2 ou 3, e pela tempestade que teve no dia 3 ou 4.
A Kika Bradford foi valorosa e tomou a decisão correta. Sozinha ela não teria condições de resgatá-lo e iria morrer lá se ficasse.
A escalada - O Fitz Roy é uma das montanhas mais duras do mundo e o Bernardo sabia disso (por mais que ele estivesse no nível da montanha). A informação que chegou é que em Chaltén estão alguns dos melhores alpinistas do mundo (Rolando Garibotti, o próprio Tartari, acho que o Colin Haley também está lá, entre outros). Creio que se eles decidiram ser impossível um resgate, a decisão deles deve ter um embasamento técnico bastante forte."
Para qualquer um com vivências mínimas em montanha estes procedimentos são mais do que básicos, são óbvios. Aliás, isto consta na própria Declaração do Tirol que traça diretrizes mundiais para a prática de montanhismo, de pleno conhecimento e adoção no Brasil. A primeira delas, especificamente, alerta que "montanhistas e escaladores praticam seus esportes em situações nas quais há risco de acidentes e em que a ajuda externa pode não estar disponível". 
Em mensagem repassada à comunidade montanhista e representando as famílias de Bernardo Collares e de Kika Bradford, sua parceira de escalada, Ilha salientou a necessidade de evitar-se a propagação de notícias sensacionalistas e do apoio pelos montanhistas à decisão de Kika Bradford de deixar seu parceiro acidentado e, com alto risco pessoal, retornar à base em busca de socorro.

"Oi pessoal,
Falei longamente com a Kika há pouco (fisicamente, ela está bem, mas está arrasada), que me descreveu melhor os detalhes, mas não há nada muito diferente do que já foi divulgado, exceto pelo fato de que eles NÃO atingiram o cume do Fitz pela via Afanassief, embora tenham chegado muito próximo, e o acidente aconteceu logo no primeiro rapel – a ancoragem saiu, ou se rompeu ou a pedra se partiu, isso acho que nunca se saberá ao certo. A Kika desceu primeiro, nada aconteceu, e enquanto armava a segunda ancoragem o Bernardo voou; ela pegou a corda no reflexo, mas não teria conseguido segurar, claro, se a corda também não tivesse passado por acaso por trás de um bico de pedra. O resto ela própria poderá dar mais detalhes no momento possível.

Mas o importante agora é o seguinte: a imprensa, gostemos ou não, É assim, aqui e em qualquer lugar no mundo, pois ela é voltada para a opinião pública e a opinião pública quer sensacionalismo. Ninguém para na rua para ver um carro estacionando corretamente, mas sai correndo para ver quando há uma batida, por menor que seja.

Como vocês podem recordar muito bem, nas mortes do Mozart no Aconcágua, do Vitor Negreti no Everest, ou daquele cara cujo nome não me recordo na África, a imprensa deu um destaque absurdo, e a pior coisa que poderia acontecer agora seria deixar a coisa correr solta, publicarem ou falarem barbaridades e denegrir a imagem do esporte e dos nossos amigos – particularmente crucificarem a Kika por não ter permanecido no Fitz para morrer junto com o Bernardo e não fazer a única coisa lógica e racional possível que era descer para tentar um resgate de helicóptero, a única chance que ele teria de sobreviver, mas não teve. E, acreditem, só uma pessoa MUITO experiente e determinada como ela conseguiria sobreviver à inacreditável descida sozinha, seguida de travessia da geleira, com um bivaque ao relento sem saco de dormir, debaixo de neve o tempo todo. Foram mais de 50 rapéis, com a corda prendendo o tempo todo, e ela chegou na base com um pedaço de 17 metros e outro pouco maior das duas cordas originais de 60 metros…

Então, o papel de TODOS nós é contribuir para que a realidade da escalada em locais como a Patagônia seja mostrada com exatidão – já houve diversas outras mortes por lá nesta temporada – para que não venha mais uma bateria de projetos de lei estapafúrdios por aí, sendo que agora não temos mais o Bernardo para lutar contra eles…

Eu estou sendo caçado dia e noite por jornalistas de tudo quanto é órgão de imprensa para dar mais detalhes e, após falar previamente com as duas famílias, decidi atender a todos os que for possível (lembrando-os sempre de procurarem os diretores da FEMERJ, como Júlio e Bugim, que também já falaram com alguns deles) para esclarecer da melhor foma possível a situação. Até meia noite ligaram lá para casa, e hoje não consegui trabalhar nada… Mas vale a pena todo o esforço agora, pois além de as duas famílias serem um pouco poupadas assim, a gente consegue evitar manchetes e conteúdos muito ruins, cheios de coisas absurdas que gerarão ainda mais especulação infundada.

Por fim, lamentavelmente a situação do nosso amigo era diferente da do Joe Simpson ou de outros casos em que houve sobreviventes em condições miraculosas, pois as lesões dele foram terríveis. Esse é o grande diferencial.

Abraços e beijos,
André"
Em complemento transcrevo as declarações dadas pelo montanhista ao jornal O Estado de São Paulo em matéria publicada hoje:

"Os dois sabiam que a única chance que ele tinha era ela descer e pedir ajuda. A descida dela foi inacreditável. Sem o saco de dormir que deixou com ele, ela dormiu no meio da parede, debaixo de neve. Depois, atravessou a geleira cheia de buracos perigosos", contou Ilha após falar com Kika, que chegou à base da montanha apenas um dia depois.Em estado de choque e muito cansada, ela está em El Chaltén, onde o namorado, Juan Sanches, tem uma pousada. Segundo ela disse a Ilha, com uma melhora do tempo seria possível resgatar o corpo de Bernardo.

Mas os amigos acreditam que ele não tenha sobrevivido além de terça-feira. "Todo mundo que vai ali sabe que é uma escalada extremamente aventurosa e é absolutamente impossível o resgate por terra no ponto em que ele caiu", explica Ilha.
Queda. O acidente ocorreu às 10h, quando Bernardo e Kika, sem atingir o cume do monte que é considerado de difícil acesso, iniciaram o retorno. Kika chegou a um platô, mas quando Bernardo descia pela mesma Via Afanassief (caminho de 1.800 m na montanha que leva o nome do francês Jean Afanassief, que primeiro passou por ali, em 1979), a corda do rapel que usava escapuliu de onde estava ancorada e ele caiu de uma altura de 15 metros.
Com o choque, sofreu uma possível fratura da bacia e hemorragia interna. Ficou com a região afetada completamente roxa e inconsciente.

Kika ficou ao seu lado por quatro horas, período em que ele intercalou momentos de consciência e inconsciência. Das poucas vezes em que se mexeu, chorou de dor. Depois, em comum acordo, decidiram que ela tentaria buscar socorro.

Ela chegou à base da montanha na terça-feira à tarde e só depois de atravessar a geleira encontrou o namorado que tinha saído em busca de notícias por causa do mau tempo.

Todos concluíram que não havia como fazer o resgate. "Seria dificílimo chegar aonde ele estava antes da próxima tempestade. E, se chegassem, não teriam como descer, era preciso uma maca rígida", explica Ilha.
Família. Em busca de informações sobre o irmão, Érica Collares chegará hoje ao povoado de El Chaltén, na Patagônia. "
Fonte: Estadão Online, 07/01/2011
E, por fim, as notícias veiculadas na TV Globo, incluindo os depoimentos de Makoto Ishibe e André Ilha:





ALGUMAS NOTÍCIAS NA IMPRENSA EM 06 e 07/01/2011:

- Jornal Nacional - Alpinista brasileiro sofre queda na Patagônia
- O Estado de São Paulo - Amiga é obrigada a deixar alpinista ferido nos Andes
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Rede Bandeirantes/ Band News - Familiares ainda tentam resgatar o corpo de alpinista brasileiro
- Folha Online - Familiares aguardam para fazer buscas por alpinista na Patagônia argentina
- Portal Webventure - Oficial dos Bombeiros diz que resgate de Bernardo Collares no Fitz Roy será muito difícil
Diário Patagónico - Dan por muerto al andinista brasileño que intentó hacer cumbre en el Fitz Roy
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Voces y Apuntes - Se confirmó la muerte del andinista brasilero en el cerro Fitz Roy


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