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segunda-feira, fevereiro 24, 2014

Aparados da Serra: Video raro do Cânion Itaimbezinho em 1957

Cânion Itaimbezinho, Parque Nacional de Aparados da Serra
João Paulo Lucena, 1994

De vez em quando surge alguma pérola esquecida nos fundos de algum arquivo ou gaveta de armário velho.

Foi o caso deste vídeo institucional de 1957 do Cânion Itaimbezinho, no então recém-criado Parque Nacional de Aparados da Serra.

De acordo com a informação associada a este arquivo no YouTube, consta que se trata de um rolo de 35 mm, sem outros detalhes. Apesar da baixa qualidade da digitalização, vale pelo documento histórico e pela curiosidade de ver um seleto grupo de turistas bem arrumados e comportados descer um ônibus estacionado em pleno "cotovelo" do cânion, há mais de 50 anos, em local cujo acesso hoje em dia somente é permitido à pé.


segunda-feira, abril 29, 2013

Aparados da Serra: Drama fatal no Cânion Itaimbezinho

Cânion do Itaimbezinho - Parque Nacional dos Aparados da Serra

Recebi ontem a notícia por amigos da região quanto à ocorrência de um acidente fatal na Trilha do Cotovelo, junto ao Cânion do Itaimbezinho, no Parque Nacional de Aparados da Serra, localizado nos municípios de Cambará do Sul/RS e Praia Grande/SC.

Região do Parque Nacional da Serra Geral
Cambará do Sul/RS e Praia Grande/SC
Segundo as informações, ainda predominantemente verbais, Márcia da Silva Magnus, 23, procedente de Canoas/RS e com familiares em Praia Grande/SC, teria caído pela escarpa e dentro do Cânion Itaimbezinho durante o período de abertura do parque à visitação pública no último sábado.

O cânion pode atingir uma altura de cerca de 700 metros no local e esperei a confirmação do fato antes de postar a notícia no blog. Até o momento a notícia sequer apareceu na mídia falada e escrita.




A polícia civil e os bombeiros foram acionados para investigação e resgate do corpo e há indícios de que possa se tratar de suicídio, uma vez que um bilhete e pertences da jovem teriam sido encontrados junto à borda do cânion após a queda.

Um helicóptero do Corpo de Bombeiros de Florianópolis foi deslocado para auxiliar no resgate e, na sequência, deverão ser procedida perícia no documento encontrado e também exames clínicos para verificação de eventual uso de álcool ou drogas pela jovem.

Márcia Magnus
Foto Facebook
O Chefe do Parque Nacional de Aparados da Serra, Deonir Geolvane Zimmermann, informou hoje diretamente para este Blog que, diante das efetivas evidências de prática de suicídio sobre a qual não há responsabilidade da unidade, não haverá qualquer restrição à entrada de visitantes.

Embora seja sabido que a mídia não costuma divulgar notícias desta natureza, aguardemos maiores informações.


segunda-feira, dezembro 31, 2012

Aparados da Serra: Abismos na Neblina (Artigo National Geographic Brasil)

A névoa densa oculta o fundo do cânion Fortaleza, na região gaúcha de Aparados da Serra. Em alguns trechos, este imenso degrau que liga o planalto ao litoral tem quase mil metros de desnível. Foto Luis Veiga - National Geographic Brasil - Ed. Dez 2012


Dado o meu grande interesse pelo tema e pela região, desde criança admirador e assíduo frequentador dos Aparados da Serra, me permito - excepcionalmente - transcrever na íntegra, dado ao seu valor didático e com todos os créditos, a matéria que segue publicada na edição brasileira da National Geographic Magazine.

Registro apenas que não há como comprovar-se quem foram os primeiros a realizar a travessia de cada um das dezenas e dezenas de cânions da região, especialmente porque já eram zona de caça dos indígenas que habitavam a região antes da chegada dos europeus no nosso continente, o que ocorre ainda hoje com os atuais habitantes, inclusive em áreas protegidas.


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EDIÇÃO 153/ DEZEMBRO DE 2012 (26/12/2012)

Edição brasileira Dez 2012


APARADOS NA SERRA: ABISMOS NA NEBLINA 

Para abrir um caminho entre a América espanhola e a portuguesa, os colonizadores tiveram de galgar as escarpas dos maiores cânions do Brasil

Por Luis Veiga 
Fonte: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL 

Nos meses de verão, quando nuvens vindas do litoral conseguem romper os penhascos, surge a viração. O choque térmico da massa fria com o calor estacionado na altitude faz com que a névoa se acumule em colunas cada vez mais altas.

Vistas de longe, essas colunas parecem estar em rotação de cima para baixo; de dentro, elas são como uma noite branca, a ponto de impedir que se enxergue além de 2 metros de distância. A viração é uma neblina espessa, quase palpável, que alcança a borda do planalto mas não avança por causa da diferença de temperaturas.

Na região da serra Geral, entre o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, ela é capaz de desnortear por completo o viajante desprevenido. Para escapar desse fenômeno climático assustador, explicam os moradores dali, só mesmo a cavalo. Um animal acostumado ao terreno acidentado, com uma sela confortável, forrada com pelego de ovelha. Sobre ela, um sujeito experiente e de boa prosa, um bornal com um farnel, um pala para se proteger da chuva e do vento e, se possível, dois ou três cachorros bons de faro. O vaqueano experiente não sai de casa sem seu facão e seus cães. Certa vez, eu cavalgava em campo aberto na companhia de um experiente vaqueano entre o cânion Monte Negro, no Rio Grande do Sul, e a região do rio Púlpito, em Santa Catarina. Com tempo bom, esse trajeto exige um dia de cavalgada. Mas, de repente, fomos surpreendidos por uma viração forte. Quase cego, perdi completamente o senso de orientação. Em um instante estávamos cavalgando sobre o campo; de repente, à beira de um penhasco; depois, dentro de um banhado. Apesar disso, meu guia e seus cães demonstravam tanta segurança nos rumos tomados que em nenhum momento me senti andando em círculos. A noite avançava quando enfim encontramos um trilho, que nos levou à sede de uma fazenda, onde pedimos pouso. No dia seguinte, o cavaleiro me conta que prefere nunca admitir que perdeu a direção. “Jamais se deve assustar o viajante”, diz. “Mais cedo ou mais tarde, iremos encontrar um caminho para casa.”

O rio Púlpito corta os campos cobertos de gelo. A cerração baixa prenuncia um dia quente, apesar da madrugada com temperaturas negativas. A borda do planalto está entre as regiões mais frias do país. Foto Luis Veiga - National Geographic Brasil - Ed. Dez 2012

Retornando de uma cavalgada de cinco dias, Verino Barbosa cruza o planalto em meio a uma viração. Este experiente vaqueano de Aparados não se intimida com cruzar em dia de neblina o território repleto de banhados. E garante: nunca perdeu o rumo nem atolou cavalo. Foto Luis Veiga - National Geographic Brasil - Ed. Dez 2012

No trecho mais extremo de sua topografia, o planalto Norte-Rio-Grandense, que cobre parte considerável da região Sul do Brasil, ganha altitude ao aproximar-se dos litorais gaúcho e catarinense. Então, de repente, acaba. Desaparece. Sua borda plana desnivela-se abruptamente para esculpir um imenso platô, entrecortado por uma sucessão majestosa de abismos, penhascos, grotas e fendas. Vistas de cima, as planuras altas da serra parecem ter sido aparadas a tesoura. De baixo, o observador tem a impressão de que os contrafortes são muralhas de uma gigantesca e intransponível fortaleza.

O rio Amola Faca, afluente do Araranguá, em Santa Catarina, despenca em uma garganta. Perto daqui antigos caminhos de tropa descem a serra e ainda são usados pela população local. Foto Luis Veiga - National Geographic Brasil - Ed. Dez 2012

As cores da flor-das-almas, típica dos campos do sul, forram o planalto no fim da primavera, enquanto uma tempestade se aproxima, anunciando para breve a mudança das estações. Foto Luis Veiga - National Geographic Brasil - Ed. Dez 2012

Esse imenso degrau de 250 quilômetros de extensão e paredões que chegam a quase mil metros de desnível é conhecido como Aparados da Serra. A dificuldade extrema para vencer as escarpas verticais, o frio implacável dos invernos e o isolamento brutal a que foram condenados os primeiros povoadores forjou um modo de vida peculiar, criou histórias, usos e costumes, lendas e mitos que sobrevivem até hoje, quase 300 anos depois do início de sua ocupação.

Antes de os conquistadores europeus chegarem a Aparados, a região era parte de um vasto território disputado por tribos de índios guaranis, coroados e botocudos, que rivalizavam no planalto, e os carijós, que dominavam a faixa litorânea a leste. Povos nômades perambulavam por todas as direções. Os botocudos, senhores das escarpas, transitavam serra abaixo em busca de peixes e mariscos que abundavam nas lagoas costeiras e retornavam à parte alta na entrada do outono para coletar pinhão e caçar.

Os primeiros estrangeiros que se aventuraram a estabelecer uma rota norte-sul, ou seja, um caminho que cruzasse todo o planalto, foram os missionários jesuítas espanhóis, guiados por índios guaranis, no fim do século 17. As trilhas indígenas partiam dos Campos das Missões, a oeste do Rio Grande do Sul, e seguiam em direção aos campos de Curitiba até chegar a Sorocaba, já perto de São Paulo. Hábeis comerciantes, os jesuítas tinham como objetivo o contrabando de muares trazidos de Córdoba, na Argentina. As longas travessias em terras brasileiras justificavam- se pela elevada soma obtida na venda dos animais. A coroa portuguesa fazia vista grossa à prática, pois não mantinha relações comerciais com a Espanha e carecia de transporte de carga.

Não tardou, porém, para que o rei D. João V ordenasse esforços a favor da abertura de um caminho terrestre regular que ligasse a província de São Paulo à vila de Laguna e à Colônia do Santíssimo Sacramento, nas margens do rio da Prata. Coube a Francisco de Souza Faria, sargento-mor da cavalaria portuguesa, a árdua tarefa de abrir a estrada, que precisaria superar as escarpas de Aparados da Serra para marcar uma ligação entre a planície litorânea e a borda do planalto.

Souza Faria partiu de Laguna com seu piloto José Inácio e uma tropa composta de índios, brancos e escravos, um total de 96 pessoas. Em 11 de fevereiro de 1728, depois de 11 meses de aventura, o militar margeou o leito do rio Araranguá em direção a sua cabeceira, galgou a íngreme encosta e alcançou finalmente as terras conhecidas como Vacarias dos Pinhais, no planalto. Depois de aguardar por seis meses a chegada de reforços – metade de sua tropa havia deserdado –, Souza Faria rumou em direção ao interior do Paraná, terminando sua viagem em São Paulo em 2 de fevereiro de 1730. Estava assim criado o Caminho dos Conventos, primeira ligação entre a província de São Paulo e a bacia do rio da Prata. O curto trecho do caminho que galgou as escarpas de Aparados da Serra foi o elo que faltava para a malha viária do Brasil colonial estar completa e poder abastecer de gado, cavalos e muares as minas de Goiás e de Minas Gerais.

Ao longo dos anos seguintes, porém, a trilha extenuante aberta por Souza Faria seria várias vezes revisitada. Um novo traçado desviava de Aparados da Serra e ganhava o planalto mais ao sul, onde as serras são menos íngremes. Dali partia dos campos de Viamão, cruzava Vacarias dos Pinhais rumo a Lages para então retomar o trilho original. Essa rota, o famoso Caminho de Viamão, consolidou-se, tornando-se a principal via terrestre do sul do país.

Vestígios das sesmarias, taipas de pedras eram erguidas com as rochas espalhadas nos campos e serviam para dividir as propriedades. Foto Luis Veiga - National Geographic Brasil - Ed. Dez 2012

Com o tempo, outros caminhos foram sendo abertos nas encostas de Aparados. Por eles desciam tropas de mulas carregadas de charque, couro, sebo, queijo, milho e pinhão; as mesmas subiam de volta com os cargueiros abarrotados de sal, açúcar mascavo, café, arroz, cachaça, farinha de mandioca, querosene e armas. O comércio em lombo de mula intensificou-se no século seguinte. Fortunas foram amealhadas por tropeiros, que desafiavam os perigos das serras enfrentando ataques de bugres, salteadores e animais selvagens. Até a década de 1950, o vaivém de tropeiros perdurou como única forma de abastecimento e de contato das populações isoladas de Aparados da Serra com o resto do país.

Laurindo Claro da Rosa, o tio Lauro, como é chamado por ali, hoje com 77 anos, passou a maior parte da vida tropeando em um trecho conhecido como serra da Veneza. Lembra-se, com detalhes, da primeira vez em que cruzou as escarpas, quando tinha 11 anos, e desceu a pé tocando uma tropa de 80 porcos. Naquela época, criavam-se porcos soltos no planalto para que ganhassem peso durante a temporada do pinhão. Quando a semente da araucária escasseava, os animais eram preparados para viagem serra abaixo. O método era cruel: Lauro costurava os olhos dos porcos e depois banhava os pontos com creolina para desinfetar. Cegos, os suínos tornavam-se manuseáveis, fáceis de serem conduzidos, pois se guiavam apenas pelos ruídos da tropa.

Verino Barbosa desossa um porco enquanto sua mulher prepara a carne para fazer salame. No tacho, a banha é apurada, e o pernil á esquerda será assado para o jantar depois de um dia de intenso trabalho. Foto Luis Veiga - National Geographic Brasil - Ed. Dez 2012

Susto na serra Lauro só experimentou um. Foi no verão de 1974, quando desceu com um cargueiro para fazer rancho em uma venda. Ao retornar no dia seguinte, acabou sendo surpreendido por uma chuva pesada bem no meio da subida. Lauro não se intimidou e seguiu. Logo, porém, uma enxurrada o obrigou a procurar abrigo em uma encosta, onde permaneceu ilhado por cinco dias. Molhado e enfraquecido, lançou a sorte em um último ato: amarrou o braço direito no cabresto de sua mula e empurrou-a para dentro d’água. O animal, assustado, venceu a corredeira e alcançou a outra margem, trazendo Lauro de arrasto. O tropeiro chegou ao planalto, e apenas dois dias depois ele e os vizinhos tomaram conhecimento de que o dilúvio que se abateu sobre a região havia feito desaparecer por completo o arraial no pé da serra.

Na década de 1950, um novo ciclo econômico abriu-se na região de Aparados: a exploração da madeira de araucária. Apenas nos arredores de Bom Jardim da Serra chegaram a existir 50 arraiais de serrarias. “As madeireiras compravam apenas toras do pinheiro com mais de 60 centímetros de diâmetro”, diz Antônio Pereira, de 71 anos, ex-tropeiro. “Não era raro abaterem araucárias cujo tronco chegava a 1,80 metro de diâmetro.” As toras eram serradas em pranchas, as quais desciam a serra em um sistema de cabos aéreos para então serem despachadas para o porto de Laguna, de onde eram embarcadas para Porto Alegre, Buenos Aires, Santos e Europa.

No fim dos anos 1970, as madeireiras rumaram para a Amazônia. A região de Bom Jardim da Serra voltou à pecuária, vocação natural que nunca foi totalmente abandonada. Mesmo destino não teve Cambará do Sul, porém. Há 70 anos a cidade é sede de uma indústria de celulose que, durante décadas, usou apenas a araucária como matéria-prima para sua produção de papel – agora substituída pelo Pinus elliottii. Nunca houve preocupação em replantar as antigas florestas de araucária, árvore-símbolo não apenas da serra Geral mas de toda a vegetação do sul do Brasil.

As poucas árvores vergam com o cortante vento pampeano que açoita o planalto na borda dos paredões - mas não impede cavalgada mesmo nos dias mais frios de inverno. Foto Luis Veiga - National Geographic Brasil - Ed. Dez 2012
A florestas de araucária diminuíram, e agora matas de pínus cobrem parte do município de Cambará do Sul para fabricação de celulose. Caminhões trabalham noite e dia para recolher as toras cortadas. Foto Luis Veiga - National Geographic Brasil - Ed. Dez 2012

Mesmo com a mudança de atividade econômica, odisseias para subir e descer as serras não deixaram de acontecer. As escarpas temíveis, às vezes emolduradas pela espessa neblina, seguiram povoando a imaginação dos viajantes, como nos tempos dos desbravadores. Lendas de tesouros enterrados em grotas por missionários jesuítas que subiam pelo rio Pelotas são até hoje comuns nas rodas de chimarrão, assim como os causos que relatam ataques, escaramuças e atrocidades de brancos contra os índios e vice-versa. A prática do montanhismo na região ganhou força com a criação do Parque Nacional de Aparados da Serra, um dos primeiros do país, em 1959. Naquele ano, Ido Ernesto Günther guiou um grupo de escoteiros que realizou a pioneira travessia do cânion Itaimbezinho. Sem saber, inaugurou mais um ciclo de aventuras em Aparados da Serra.

Em 1976, eu e mais dois colegas realizamos a primeira descida do cânion Fortaleza. Munidos apenas com uma corda de sisal de 20 metros, partimos a pé da localidade de Azulega, no Rio Grande do Sul, e alcançamos a borda do Fortaleza no terceiro dia. Optamos por descer a fenda por seu vértice, conscientes de que se tratava de uma rota sem possibilidade de retorno. Na medida em que avançávamos pelo terreno inclinado e cheio de armadilhas naturais, aumentava a incerteza da conquista. A angústia aos poucos deu lugar a um pesadelo. Já sem mantimentos, abandonamos as mochilas e partimos em uma corrida contra o tempo. Ao fim do sexto dia, famintos, trôpegos e esfolados, chegamos à localidade de Serra da Pedra, onde fomos recebidos, incrédulos, por boa parte da população. Jovem, recuperei-me logo do susto, mas jamais me esqueci da aterradora sensação de claustrofobia diante do isolamento no meio do extenso e estreito corredor de paredes de 700 metros de altura.

Tive a chance ainda de cruzar por duas ocasiões o Itaimbezinho. Como as travessias dos cânions começaram a registrar novos acidentes, e até mesmo mortes, estão proibidas por completo pelos administradores do parque nacional. Mas nunca deixei de retornar a Aparados, agora apenas a cavalo, no planalto, sempre na companhia de algum amigo vaqueano, sabedor dos segredos dos caminhos e, acima de tudo, da viração.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Aparados da Serra/Canionismo: Mistério - Corpo é encontrado no Cânion Itaimbezinho

Cânion Itaimbezinho - Foto: João Paulo Lucena

O Jornal Zero Hora de Porto Alegre noticiou hoje que foi encontrado um cadáver em estado de decomposição na base da Cascata Véu de Noiva, no Cânion do Itaimbezinho, principal ponto turístico do Parque Nacional de Aparados da Serra, na divisa dos municípios de Cambará do Sul/RS e Praia Grande/SC.

O Itaimbezinho é um cânion (ou desfiladeiro) situado no Parque Nacional de Aparados da Serra, no Rio Grande do Sul, Brasil, a cerca de 170 km ao nordeste de Porto Alegre, exatamente sobre a fronteira com o Estado de Santa Catarina.

O cânion tem uma extensão de 5,8 km, com uma largura máxima de 2 km e uma altura máxima de cerca de 700 m, sendo percorrido pelo arroio Perdizes. Além deste, existem outros cânions, tais como o Cânion Fortaleza, Cânion Malacara e o Cânion da Pedra.

Segundo o jornal o analista ambiental Magnus Machado Severo afirmou que o local onde o homem foi encontrado tem seu acesso proibido para a prática de trekking e visitação, não podendo informar como e quando o morto teria ingressado no parque.

O corpo estava sem qualquer documento de identificação e foi encaminhado para o Instituto Médico Legal de Araranguá/SC em adiantado estado de putrefação, estimando-se que já estivesse no local há cerca de cinco meses.

Cânion do Itaimbezinho e o centro de visitantes desde o alto. Foto: Renato Grimm.
Conforme a Rádio 88.9 FM de Santa Catarina ainda não há identificação do corpo. Amostras de material foram coletadas no cadáver para exame de DNA. Caso não haja identificação formal por parentes ou amigos, dentro de 30 dias o corpo será sepultado como indigente.

A notícia também foi publicada no Jornal O Pioneiro, de Caxias do Sul/RS.

segunda-feira, maio 18, 2009

Canionismo: Aparados da Serra, de Pai para Filho (Ou: acampando com crianças!)


Vista desde o vértice pricipal do Cânion Malacara - PNSG

No último final de semana a oportunidade foi única: uma permissão especial do Instituto Chico Mendes para acesso ao Cânion Malacara, que divide com o Cânion Fortaleza a condição de principal atração do Parque Nacional da Serra Geral - PNSG, divisa dos Estados do Rio Grande do Sul com Santa Catarina.

O motivo: a condução de uma equipe do Programa Adrenalina para a produção de um documentário sobre canionismo para o Canal Futura, da TV Globo Internacional, mostrando uma travessia completa do famoso e complexo Cânion Malacara.

Numa sexta-feira à noite partimos de Porto Alegre rumo ao município de Cambará do Sul/RS, onde está situada a parte alta do parque, em pleno altiplano riograndense, para lá encontrar a equipe de produção do programa, a qual seria conduzida por outro caminho, à pé e valendo-se de cavalos para o transporte do equipamento mais pesado.

Em uma sexta-feira à noite partimos de Porto Alegre. No destaque o saudoso Zé Brambilla, parceiro insubstituível de várias aventuras nos Aparados da Serra.

Por volta da meia-noite o caminho regular terminou. Então, montar acampamento e descansar antes dos trabalhos do dia seguinte.

Alguns dormiram confortavelmente...

...como se estivessem em casa.

Outros, por opção...

...preferiram bivacar ao relento, na boa companhia dos demais habitantes nativos.

Alguns anos depois de ter participado da equipe de levantamento que coletou dados topográficos e geológicos relacionados à prática de canionismo e que integraram o Plano de Manejo do PNSG, voltamos à carga com todo o ânimo.

O desafio era encontrar um antigo caminho que o desuso decorrente da criação do parque nacional fez com que desaparecesse em meio a capoeiras, plantações de pinus e propriedades particulares contíguas ao parque nacional.


   
O uso combinado de cartas topográficas, tracklogs e imagens satelitais sobrepostos foi essencial para a localização de estradas há muito desaparecidas.
Redescobrindo antigos caminhos com mais de meio século que a natureza retomou...


Com fotos de satélite, tracklogs de GPS coletados em levantamentos passados e cartas topográficas, todos sobrepostos no aplicativo OziExplorer, fomos navegando em 4x4 por entre coxilhas, charcos, vossorocas e capões de araucárias, atingindo com trabalho em equipe e muito esforço o objetivo final.

Atravessando as fazendas vizinhas ao Parque Nacional da Serra Geral com o auxílio de mapas antigos, imagens de satélites e tracklogs de GPS
Ao final da tarde chegamos ao vértice principal do Cânion Malacara.

O prêmio é pródigo, principalmente para mim que estou de aniversário: um dia maravilhoso, límpido, com aquela luz outonal, meio atravessada, perfeita para quem gosta de jogar com sombras na fotografia. A atmosfera foi lavada da nebulosidade por uma chuva forte acompanhada de queda brusca de temperatura a 0ºC.

Nada de melhor poderia desejar alguém em busca das condições ideais para foto e filme!



Quem acha que acampar é sinônimo de sofrer está muito enganado!

Até porque convidados VIP tem direito a quibe crú, molho de alho, pão árabe e suco de uva servido pelo mais esforçado dos cozinheiros: Neytão "Montanha" Reis, que não por acaso é o melhor guia para os cânions do sul do país!!

A noite é fria, muito fria, com temperaturas abaixo de zero. Ao amanhecer um vento forte penteia os campos de cima da serra e anuncia o raiar do dia. Quem vai descer o Cânion Malacara com a equipe de gravações levantou ainda de madrugada e está lutando para vestir as gélidas roupas de neoprene. Da minha barraca só escuto gemidos e resmungos daqueles que vão para o front...

Como responsável pela logística 4x4 já fiz minha parte e não vou entrar no cânion desta vez, também porque acompanho as crianças. E, como sou aniversariante, me dou o prazeroso luxo de virar para o lado e curtir a preguiça no saco de dormir até que o sol bata na barraca e, pelo menos, derreta a geada...


Quem diz que em pleno vértice do Cânion Malacara não tem tele-entrega do jornal do dia?

Para animar a galera antes de pular na água gelada vale tudo, até a dança do sirí!

Os gêmeos entram no  clima com Ana Karina Belegantt, do Programa Adrenalina. Futuros canionistas?

Cânion Malacara, em segundo plano o município catarinense de Praia Grande e, ao fundo, a praia de Torres/RS.


Embaixo, ao sopé da serra, o município catarinense de Praia Grande e, bem ao fundo, a praia gaúcha de Torres.

A atração irresistível que sinto por esta região vem de anos.

A minha primeira travessia de cânion foi a do Itaimbezinho, hoje proibida, por volta de 1980, quando não existia qualquer tipo de restrição para quem quisesse aventurar-se por esta enorme garganta, palco de muitos acidentes e gente extraviada.

Depois dela nunca mais deixei de retornar aos Aparados da Serra, culminando com a militância voluntária na ONG Associação Cânions da Serra Geral - Acaserge desde 1998. A grande diferença é que desta vez não voltei aos Aparados sozinho, mas trouxe para a primeira aventura verdadeira meus filhos gêmeos, com 7 anos de idade.

No acampamento em área selvagem, dentro do parque nacional tudo é diversão. A emoção e o entusiasmo não poderiam ser maiores, a inocência da idade relembrando ao pai o be-a-bá das lições mais elementares:

"- Papai, o que é um Parque Nacional?
- Onde estão os animais?
- Porque o cânion é tão fundo?
- Porque faz tanto frio?
- Tem urso aqui? E tigre?
- Lá embaixo é a praia de Torres?
- Dá prá beber essa água? 
- Vamos tomar banho no rio?
- Onde eu faço cocô?..."



Vista do Cânion Malacara a partir da sua escarpa direita.



Matinha nebular, típica dos paredões dos Aparados da Serra.


Pelo lado paterno reza a história familiar que meu bisavô Januário foi tropeiro nos Campos de Cima da Serra, estabelecido em Cazuza Ferreira, distrito de São Francisco de Paula/RS. Baixava a serra em mulas e cavalos rumo ao litoral levando charque, queijos e embutidos e voltava com farinha, melado e rapadura.

Do lado materno, a herança italiana nascida em Antonio Prado também fincou raízes em São Chico, onde meu avô materno elegeu-se prefeito nos anos 50.

A carga genética fez então valer toda a sua força, transmitindo mais uma vez, de pai para filho, de geração para geração, a seiva de araucária nas veias e uma incondicional paixão pelos Campos de Cima da Serra...


O diário da aventura na ótica de JPL, 7 anos...
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Assista aqui o episódio do Programa Adrenalina gravado durante as atividades descritas nesta postagem!


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OUTRAS POSTAGENS RELACIONADAS AQUI NO TERRA AUSTRALIS:

- 30/09/2010 - Trekking/Aparados da Serra: Do Cânion Fortaleza ao Malacara - Parque Nacional da Serra Geral

- 10/01/2011 - Aparados da Serra/Canionismo: Mistério - Corpo é encontrado no Cânion Itaimbezinho