segunda-feira, dezembro 22, 2008

Livros/Náutica: O Capitão Slocum e a Viagem do "Liberdade"

Remexendo em temas náuticos, anos atrás encontrei rara pérola em uma livraria no Uruguai: "El Viaje del 'Liberdade'", de Joshua Slocum (1844-1909), o mesmo autor do conhecidíssimo "Velejando Solitário ao Redor do Mundo" (Porto Alegre: Mercado Aberto, 1991, ISBN 8528001709), um dos grandes clássicos da literatura náutica.

Poucos sabem que Slocum, o primeiro homem a circunavegar o mundo velejando em solitário, antes da sua histórica proeza naufragou no litoral do Paraná, no ano de 1887.

Em fevereiro de 1886 o Capitão Slocum comandava o Aquidneck e partiu em viagem comercial de Nova York rumo ao Uruguai, trazendo consigo a esposa os filhos, Victor e Garfield, de 14 e 5 anos.

Ocorre que o Aquidneck naufragou na Baía de Paranaguá, no Brasil, no Natal de 1887.

Com a perda total do navio mercante que comandava, sem meios financeiros e completamente isolado,  com a família abrigada na cidade de Paranaguá, Joshua Slocum construiu com as próprias mãos e a duríssimas penas o Liberdade, pouco mais do que uma canoa de 11 metros, a qual foi lançada ao mar no dia da liberação dos escravos no Brasil.

Com ela transportou a esposa e seus filhos em uma viagem de 5.000 milhas e 55 dias de volta aos Estados Unidos. O feito foi tamanho que o Liberdade foi entregue ao Smithsonian Institution, onde ficou exposto e foi visitado por milhares de pessoas.

O Liberdade, fruto da mescla de várias técnicas de construção náutica

A tripulação do Liberdade: Joshua Slocum e a sua pequena família

Completamente arruinado depois da perda do seu barco, o Capitão Slocum publicou este livro em 1890 mas não obteve muito sucesso junto ao público, obrigando-o a trabalhar em arsenais e estaleiros até que ganhasse de um amigo o Spray, o pequeno veleiro com o qual realizou em 1906 a primeira circunavegação em solitário do globo, aos 54 anos de idade, um dos maiores feitos individuais que sem tem notícia na história da navegação.

Mais tarde Slocum construiu o Spray, no qual foi o primeiro homem a circunavegar o globo em solitário
 Para a felicidade dos leitores brasileiros as curiosas (des)venturas do Capitão Slocum no Brasil, as suas dificuldades com as autoridades, as lutas contra motins, o cólera e a varíola a bordo foram publicadas no mercado nacional e pode ser encontrada nas boas livrarias do ramo (SLOCUM, Joshua, "A Viagem do Liberdade". São Paulo: Ed. Planeta, 2004 - ISBN 857665010x).

Se estiver difícil encontrar, vale uma conferida na ótima Livraria Moana  especializada em temas náuticos, viagens e aventuras e que possui uma edição especial em português de lavra da Aventura Editorial.

Para quem ainda quiser complementar seu conhecimento sobre o assunto sugiro ler a interessante crônica "Guaraqueçaba, o Comandante Slocum e a Proeza do Barco "Liberdade", de Newton Carneiro, garipada pelo Danilo do site popa.com.br e que relata alguns aspectos folclóricos da passagem do grande capitão Joshua pelo Brasil.

quarta-feira, dezembro 10, 2008

Cone Sul/Argentina: A Mítica Ruta 40


A mítica Ruta 40 na Patagônia é para os amantes da aventura o equivalente à Rota 66 nos EUA para a tribo beatnik, embora a supere em quase mil quilômetros. Ao longo de 5.224 Km ligando paralelamente aos Andes o sul com o norte do país, por ela se descortinam paisagens grandiosas onde os superlativos são um lugar-comum.

Um dos muitos aspectos que justificam o seu rótulo de rota de aventura são os longos trechos sem absolutamente qualquer recurso e pavimentação, o que serve como uma espécie de repelente do turismo convencional.


O preço do privilégio para percorrê-la não é pequeno: despreendimento dos confortos básicos, pneus furados, pára-brisas quebrados, panes secas e milhares de quilômetros de muita, mas muita poeira.


As estatísticas da Ruta 40 são impressionantes:
  • a estrada liga o Farol de Cabo Vírgenes no extremo sul do litoral da Província de Santa Cruz na Patagônia a La Quiaca no norte, divisa com Bolívia, ao longo de mais de 5 mil quilômetros;
  • sua altitude varia do nível do mar a quase 5 mil metros, contando com 27 passos cordilheiranos, cruzando 11 províncias argentinas e atravessando paralelos de mais de 30 latitudes;
  • em seu traçado podem ser visitados 20 reservas naturais e parques nacionais, sendo 5 deles patrimônio da humanidade;
  • a estrada construída pela Vialidad Nacional a partir de 1935 atravessa dezoito rios importantes, cruza duzentas e trinta e duas pontes, passa por sessenta localidades e treze grandes lagos e salinas, variando do frio extremo ao calor abrasador dos desertos;
  • a estrada une três regiões geográficas: o Norte ( províncias de Jujuy, Salta, Tucumán e Catamarca), Cuyo (La Rioja, San Juan e Mendoza) e a Patagônia ( Neuquén, Rio Negro, Chubut e Santa Cruz);
  • desde o Alto Vale do Rio Negro até Cachi (Salta), a Ruta 40 comunica 132 vinícolas (das cento e trinta e cinco existentes na Argentina em dez/2008) abertas ao turismo na denominada Rota do Vinho;
  • os órgãos de turismo na Argentina costumam sugerir aos que pretendem conhecer a Ruta 40 em toda a sua extensão, uma viagem de quarenta dias (“La 40 en 40 dias"); a melhor época de viajar pelo norte é durante o inverno, que é mais seco; e na temporada de outubro a abril, menos fria, pela região patagônica;
  • parte em rípio (cascalho) e parte asfaltada, em 2008 dos 5.224 quilômetros da estrada cerca de 2.700 – norte da Patagônia, quase todo Cuyo e Catamarca, todo Tucumán e o sul de Salta - estavam asfaltados. A Previsão da Vialidad para o término dos trabalhos de pavimentação é no ano de 2010;
  • 0 quilômetro Zero da Ruta 40 esteve, até fins de 2004, no cruzamento das ruas San Martin e Garibaldi, em pleno centro da cidade de Mendoza. Desse ponto partia o trecho Norte - 1551 km - até Abra Pampa, Jujuy e o trecho Sul – 3115 km - até Punta Loyola, Santa Cruz.

Em viagens diferentes já percorri aproximadamente 5 mil quilômetros da Ruta 40, parte ao sul de Mendoza, então 80% em rípio e o resto em asfalto precário, e mais um trecho maravilhosamente pavimentado ao norte de Salta.

O percurso retratado nestas imagens está mais ao sul, na Patagônia, onde apesar da claridade de verão as latitudes baixas garantem uma luz bonita, atravessada, deixando as fotografias com as cores quentes e aveludadas.


Se a viagem compensa? Evidente que sim! Experimente para ver e me conte na volta...


As fotos desta postagem foram captadas em fevereiro de 2000 durante a Expedição Terra Australis com uma câmera Canon EOS 5 e negativos Fuji. A digitalização foi feita a partir das cópias em papel com scanner comum em baixa resolução. Prometo mais adiante providenciar digitalizações melhores diretamente dos negativos. Todas as fotografias foram tomadas pelo autor deste blog na Patagônia.

Copyright © 2000 João Paulo Lucena. Proibida reprodução sem a permissão expressa do autor.

*** Complementando estas imagens, descobri no YouTube um video promocional muito bacana sobre a Ruta 40. Confiram diretamente aqui no blog!

sexta-feira, novembro 07, 2008

Livros/Escalada: A Bíblia do Montanhismo (e do Trekking)

Tendo colaborado para vários meios de informação com artigos sombre atividades junto à natureza, volta e meia recebo algum pedido de indicação de um bom manual sobre caminhadas, camping e montanhismo. Carentes que são os brasileiros de qualificada literatura técnica no ramo das atividades ligadas à natureza - e até que os editores nacionais despertem para este ávido segmento do mercado -, é necessário recorrer às obras estrangeiras considerando o histórico desenvolvimento destas atividades nos Estados Unidos e Europa.

Assim, se tivesse que escolher um livro de cabeceira para atividades na montanha, este seria aquele que é considerado "o manual dos manuais" ou a "Bíblia da Montanha": "Mountaineering, The Freedom of the Hills" (Montanhismo. A Liberdade dos Cumes), de Don Graydon e Kurt Hanson.

Publicado pela primeira vez há em 1960 e já na sua sétima edição americana atualizada, com mais de 500.000 exemplares vendidos, este manual é referência essencial para iniciantes e veteranos e o livro-texto obrigatório nos melhores cursos estrangeiros não só para escalada mas também para atividades de trekking e outras praticadas junto à natureza. Para os brasileiros que se aventuram pelas regiões andinas, os trechos do texto que tratam sobre o clima em montanha são especialmente instrutivos para nós que estamos habituados aos ambientes tropicais, seja o objetivo uma escalada em alta montanha ou uma simples travessia e motocicleta da Cordilheira dos Andes onde uma repetina mudança de clima pode por fim àquela viagem dos sonhos por anos acalentada.

O manual divide-se em seis grandes capítulos, abrangendo com profundidade e mais de 480 ilustrações os seguintes temas: Fundamentos das Atividades Outdoor; Fundamentos da Escalada; Escalada em Rocha, Neve, Gelo e Escalada Alpina; Prevenção e Procedimentos de Emergência; O Ambiente da Montanha.

Em linguagem acessível e didática, são abordados inúmeros assuntos, dentre eles a geologia e o clima em montanha, o uso detalhado de equipamentos desde as vestimentas até as mais sofisticadas ferramentas de alta montanha, navegação e cartografia, nós, deslocamento sobre neve, gelo e glaciares, técnicas de mínimo impacto do homem na natureza, além de apêndices com indicação de extensa bibliografia complementar.Para quem se sente mais confortável com o espanhol do que com o inglês, a obra pode ser encontrada em versão castelhana pelas Ediciones Desnivel de Madrid, especializada em montanhismo.

Mountaineering, The Freedom of the Hills. COX, Steven M. e FULSAAS, Kris. The Mountaneers Books, 2003, 575 p. ISBN 978089886827
Montañismo, La Liberdad de las Cimas. GRAYDON, Don Graydon e HANSON, Kart. Madrid: Ed. Desnivel, 2004, 656 p. ISBN: 9788496192553

quarta-feira, novembro 05, 2008

Fotografia: No Arquipélago de Fernando de Noronha

Em 2004 estive alguns dias no Arquipélago de Fernando de Noronha, uma experiência imperdível para quem gosta de fotografar natureza.

Descoberto por portugueses em 1500, foi ocupado também por ingleses, franceses e holandeses, tendo sido colônia prisional, ponto de parada das primeiras companhias de aviação transatlântica, posto de telégrafo internacional e também base americana durante a Guerra Mundial, sendo local de diversos monumentos históricos.

(Fernando de Noronha como colônia prisional. Foto Wikipédia)

Hoje o arquipélago sedia o Parque Nacional Marinho de Fernando de Noronha e um importante local de estudos marinhos e de atuação dos projetos TAMAR e Golfinho Roteador. É um dos grandes locais no mundo para mergulho e observação submarina.

(localização de Fernando de Noronha no Oceano Atlântico)

Seguem aí algumas imagens daquela viagem...

Copyright de todas as imagens © 2004 João Paulo Lucena. Proibida reprodução desautorizada.

sábado, novembro 01, 2008

Livros/Cinema: Into the Wild, na senda de Jon Krakauer

Poster do filme "Na Natureza Selvagem". Fonte: Divulgação

A adaptação para o cinema da obra já cult de Jon Krakauer "Na Natureza Selvagem" (Into the Wild, 1996), editada no Brasil pela Companhia das Letras em 1998 justifica o resgate desta obra publicada no Brasil apenas em 1994 mas que na época não teve a repercussão que merece, agora resgatada pelo sucesso do filme dirigido por Sean Penn e estrelado por Emile Hirsch e com uma belíssima trilha sonora do Eddie "Pearl Jam" Vedder.

Influenciado pelo estilo jornalístico de Truman Capote e envolvendo-se de corpo e alma nos assuntos sobre os quais descreve cada detalhe, Krakauer é também um excelente montanhista e um dos principais editores da prestigiada Outdoor Magazine, repositório de históricas reportagens sobre atividades junto à natureza como Into the Wild e Into the Thin Air do próprio Jon Krakauer e The Perfect Storm de Sebastian Junger, todas transformadas em posteriores best sellers.

Em "Na Natureza Selvagem", Krakauer narra a história do jovem Chris MacCandless que abandonou os bens materiais e a vida confortável em busca de si mesmo e de uma vida pura e ascética junto à natureza. Anos após o seu desaparecimento, MacCandless é encontrado morto no Alaska.


O romance foi idealizado em 1992, quando Krakauer foi enviado para a região pela revista norteamericana Outdoor Magazine para reportar a descoberta do corpo de um jovem aventureiro. O escritor, porém, não imaginava que aquela viagem seria o início de uma obcecada investigação, coroada pelo sucesso editorial publicado, anteriormente, no Brasil pela Companhia das Letras, o best seller "No Ar Rarefeito".

Os excelentes Emile Hirsch e Sean Penn nas gravações da versão para o cinema.
Fonte: Divulgação

Depois da publicação da obra e da exibição da versão cinematográfica dirigida por Sean Penn o ônibus na Stamped Trail, em Healy, Alaska, virou um local de romarias visitado constantemente por fãs da obra de Krakauer.

A fotografia abaixo é a última imagem do verdadeiro Chriss MacCandless e foi revelada a partir do negativo da câmera fotográfia encontrada após a sua morte no ônibus que lhe serviu de derradeiro refúgio.



Bibliografia de Jon Krakauer:

  1. Eiger Dreams: Ventures Among Men and Mountains, 1990, ISBN 0-385-48818-1. No Brasil Sobre Homens e Montanhas, São Paulo: Cia. das Letras, 1999
  2. Into the Wild, 1996, ISBN 0-385-48680-4. No Brasil Na Natureza Selvagem, São Paulo: Cia. das Letras, 1998
  3. Into the Thin Air, 1997, ISBN 0-385-49208-1(expandido a partir do artigo original publicado na Outside Magazine (EUA). No Brasil a última edição é No Ar Rarefeito, São Paulo, Cia. das Letras, 2006
  4. Under the Banner of Heaven: A Story of Violent Faith, 2003, ISBN 0-385-50951. No Brasil Pela Bandeira do Paraíso – Uma História de Fé e Violência, São Paulo: Cia. das Letras, 2003

Confira aqui o trailer da versão para o cinema de Into the Wild.



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