Orientação terrestre com carta topográfica. Foto: João Paulo Lucena |
A grande popularização dos aparelhos de GPS (Global Posicioning System) na última década abriu um horizonte ilimitado para quem gosta de aventurar-se por novos caminhos, muitos deles sequer mapeados.
Me lembro bem das dificuldades sair para alguma trilha a pé ou de 4x4 aqui mesmo no Brasil onde sequer os mapas comerciais eram detalhados. Viagens pelos Andes, Cone Sul e outros países latinoamericanos então, nem se fala.
Mas estas coisas têm evoluído a passos largos. Vejam a seguir...
MAPAS E CARTAS TOPOGRÁFICAS - No Brasil, até algum tempo atrás, na falta de mapas decentes a solução era recorrer às cartas topográficas produzidas pelo Serviço Geográfico do Exército, à venda nas Divisões de Levantamento (veja AQUI como solicitar) ou nas agências do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE.
Todavia, estas cartas, em escala 1:50.0000 e 1:100.000 (a versão 1:25.000 é restrita ao uso militar), incluindo relevo topográfico e muitíssimo mais detalhadas que os mapas convencionais estilo Quatro Rodas, apresentam algumas peculiaridades.
Primeiro, abrangem uma área muito menor do que os mapas normais (menos de 30 quilômetros na sua extensão maior no caso das cartas 1:50.0000), sendo necessário adquirir várias delas até mesmo para uma viagem rápida, o que acaba limitando o seu uso para trekkings ou off-road em percursos relativamente curtos.
Em segundo, veja-se como exemplo as cartas topográficas militares MI-2955/2 e MI-2956/1 que abrangem os Parques Nacionais de Aparados e Serra Geral na divisa do RS com SC, baseadas em levantamento aerofotográfico realizado nos anos 60, com primeira impressão em 1980 e algumas atualizações em 1995.
Logo, a exemplo destas, muitas cartas topográficas já apresentam pelo menos 50 anos passados desde o início da sua elaboração e estão carentes de uma atualização acurada, apesar de revestirem-se de utilidade inestimável face à riqueza de detalhes e informações de relevo geográfico nelas contidas.
Há algum tempo as cartas topográficas impressas passaram a ser disponibilizadas também em versão digital, na ordem de R$ 120,00 cada uma (o dobro da versão impressa), facilitando bastante o uso em aplicativos de navegação terrestre, em especial quando combinados com aparelhos do tipo GPS.
APARELHOS GPS - Os primeiros GPS´s causaram uma verdadeira revolução, pois enquanto com as cartas topográficas era necessário um conhecimento mínimo de topografia, navegação terrestre e a tomada de notas o tempo todo para traçar o percurso percorrido, o GPS passou a fazer este trabalho automaticamente, inclusive gravando os caminhos percorridos (tracklogs) e pontos de importância para o usuário (waypoints), fornecendo de imediato as coordenadas de sua localização na face da Terra com uma insignificante margem de erro.
Estas coordenadas associadas ao uso de uma carta topográfica ou náutica deram grande impulso à popularização do GPS na medida em que dispensaram o usuário de dominar a utilização de bússolas, sextantes, compassos, esquadros, transferidores e cálculos de declinação magnética quando em regiões desconhecidas ou carentes de pontos de orientação, como por exemplo, no mar ou em terra sob condições de neblina cerrada.
Os primeiros GPS´s, entretanto, não possuíam mapas em seus bancos de dados. Na sequência passaram a ser fornecidos com algumas versões de mapas muito grosseiros e pouco detalhados.
Hoje já temos o melhor dos dois mundos: a alta capacidade de localização e processamento do GPS com a possibilidade de uso de mapas digitais de ótima qualidade carregáveis na sua base de dados, inclusive disponíveis gratuitamente na internet.
Hoje já temos o melhor dos dois mundos: a alta capacidade de localização e processamento do GPS com a possibilidade de uso de mapas digitais de ótima qualidade carregáveis na sua base de dados, inclusive disponíveis gratuitamente na internet.
É claro que, na medida em que o GPS surge como uma ferramenta maravilhosa, também pode "emburrecer" o usuário pois o dispensa dos conhecimentos técnicos básicos de orientação, aumentando a sua responsabilidade em caso de defeito do aparelho ou falta de bateria...
Pessoalmente já utilizei diversos modelos a partir de 1997, todos eles da Garmin, de longe a marca mais popular e, portanto, com maior rede de assistência técnica e disponibilidade de mapas - inclusive gratuitos na internet.
Nesta esteira evolutiva e conforme o uso náutico e/ou terrestre, experimentei os aparelhos II Plus, Etrex Summit, Rhino, Map 76S, Map 76CSX, Map 276C e Zumo 550.
Dentre todos destaco para uso misto náutico/terrestre as linhas 76CSX e 276C, este último um chart plotter com tela maior e excelentes recursos técnicos para usuários mais avançados.
A linha Zumo 550, apesar de pertencer a última geração de GPS´s, com recursos de touch screen, antena quadrihelix de alta sensibilidade e mapas em 3 D, decepcionou-me bastante em função dos bugs de projeto que apresenta. Este modelo em certas ocasiões somente reinicializa se a bateria for retirada e recolocada, algo inadmissível para um equipamento de segurança em navegação náutica e terrestre onde uma fração de segundo pode ensejar a perda de uma rota ou um acidente grave.
Também achei o Zumo excessivamente simples, com ferramentas muito restritas para o que poderia oferecer. Um usuário mais exigente e familiarizado ao uso mais técnico do equipamento não vai se conformar com um GPS que sequer grava os tracklogs percorridos, algo fundamental na hora do transferir as informações do aparelho para o banco de dados do seu computador.
Em função destes aspectos, preferi fazer um downgrade do Zumo 550 e atualmente estou utilizando um Map 276 C, de geração anterior e uso misto náutico e terrestre, mas com ótima relação custo/benefício, robustez, bateria de longa duração e todos os recursos que um usuário minimamente experiente classifica como fundamentais.
GOOGLE EARTH E FOTOS SATELITAIS - Alguns anos atrás, quando ainda se navegava somente com mapas e cartas impressos, o máximo era obter-se alguma foto satelital para visualização do terreno real. Então seria difícil imaginar o incrível e democrático recurso hoje disponibilizado pelo Google Earth, um impressionante mosaico global de fotos de satélite que reconstitui toda a superfície da Terra.
No Google Earth é possível visualizar e baixar imagens e mapas atualizados e detalhados, bem como combiná-los com aplicativos e com os próprios aparelhos de GPS, um recurso inestimável para navegação náutica e terrestre, especialmente se tratando de áreas remotas ou pouco cartografadas.
SOFTWARES PARA GERENCIAMENTO DE DADOS DO GPS E MAPAS DIGITAIS - Utilizo dois, o MapSource, software oficial da Garmin que permite o carregamento de mapas digitais e interação com o Google Earth, e o OziExplorer, que possibilita a sincronização com cartas topográficas ou náuticas digitais ou a partir de arquivos de imagens digitalizadas.
Os mapas podem ser comprados ou baixados gratuitamente na internet a partir de desenvolvedores que prestam um serviço de valor inestimável para a comunidade. Coletando dados de fontes públicas e privadas e de colaboradores do mundo inteiro, disponibilizam informações de excelente qualidade e em contínuo processo de atualização.
(Exemplo do uso do OziExplorer combinado com cartas topográficas militares digitalizadas)
Pessoalmente me valho de mapas do Brasil, rodovias e municípios, disponibilizados pelo Projeto TrackSource para Argentina, Chile e Uruguai os mapas podem ser baixados a partir do Proyecto Mapear ou no site Geored Conosur, este último bem mais detalhado no que tange ao Chile.
Em quaisquer dos casos, apesar da grande variedade de marcas de GPS hoje disponíveis no mercado, a quase totalidade dos mapas gratuitos disponíveis na internet é configurada para uso em aparelhos Garmin.
(Veja aqui a Parte I desta postagem)
PARA SABER MAIS:
- uma boa dica de informação é o blog MapForum, com cursos e notícias postadas por Ayr Müller, especialista em navegação terrestre.
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