Charqueada Santa Rita, 1826. Pelotas/RS. |
No Tempo das Charqueadas (série de 3 postagens):
Parte I - Pelotas, a origem
Parte II - A Santa Rita e sua pousada de charme
Parte III - A São João, Saint-Hilaire e o escravo de saladeiro
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Depois de 250 Km de estrada e quatro (!) pedágios desde Porto Alegre pela BR-116, procurei a Charqueada Santa Rita, construída em 1826 por Inácio Rodrigues Barcellos e a única que oferece o serviço de hotelaria na condição de integrante dos roteiros de charme.
A Santa Rita faz parte do chamado núcleo charqueador pelotense, o qual estendia-se, principalmente, entre as localidades do Retiro até a entrada do Canal São Gonçalo, compreendendo o próprio Retiro, o Cotovelo, o Cascalho, a Boa Vista, a Costa, o Areal e o Atoladouro.
A família Rodrigues Barcellos foi a proprietária do maior número de charqueadas na região, todas localizadas às margens do Arroio Pelotas e, segundo registros de 1863, contava com cerca de 30 escravos.
Foi ainda na Santa Rita que funcionou a primeira fábrica de enlatados da cidade de Pelotas, apelidada de a "Fábrica de Línguas", o que possibilitou a este empreendimento manter-se ainda produtivo durante a fase de decadência do ciclo do charque.
No começo dos anos 60 os herdeiros venderam a propriedade para Geraldo Mazza, que construiu algumas benfeitorias e restaurou o galpão que servia de saladeiro à margem do Arroio Pelotas,
Após, em 1988, foi adquirida pela família Cunninghan, que efetuou um minucioso restauro da casa principal para servir como a sua própria vivenda. A partir de 2000 passou a ser propriedade da família Clark, que nela habita e administra a pousada ali localizada.
A Santa Rita está aberta ao público para hospedagem ou somente para visitas.
A casa principal da Charqueada Santa Rita antes da restauração... |
... e como está nos dias de hoje. |
A POUSADA
A Charqueada Santa Rita é a única a manter serviço de hospedagem em uma pousada ao lado da casa principal e que está incluída dentre os roteiros de charme do Brasil.
São apenas 06 suítes e personalidades importantes já se hospedaram ali, como o Presidente Lula e Dilma Roussef, enquanto Ministra da Casa Civil.
As suítes são todas personalizadas e decoradas com móveis antigos, procurando reproduzir o mesmo ambiente da época dos charqueadores mas sem esquecer alguns confortos da vida moderna.
Assim, ladrilhos hidráulicos, mármore de carrara e azulejos alemães e portugueses dividem espaço com ar condicionado split, frigobar, televisão, DVD e rede de internet wireless.
O local conta com uma pequena piscina e também é possível praticar atividades como passeios de barco, caiaque e canoa canadense no Arroio Pelotas, passeios de bicicleta, cavalgadas, pesca, observação de pássaros e visita ao Museu do Charque, atualmente em reforma.
Ao contrário do que possa parecer para um local onde hospedou-se o próprio Presidente da República, encontrei as tarifas equivalentes a um bom hotel convencional, como, por exemplo, o Hotel Jacques Georges no centro de Pelotas.
Isto porque, além do final de semana coincidir com a tabela de baixa estação, as charqueadas ainda são um destino injustamente pouco divulgado nos circuitos turísticos internos no Rio Grande do Sul.
Confiram AQUI para ver as tarifas da Santa Rita.
Senti falta uma cozinha que servisse refeições, ainda que rápidas. Na diária está incluso o café da manhã e nos quartos há chaleira elétrica e frigobar. Parece que a instalação de um pequeno restaurante no local é plano para breve.
Mas por enquanto, para almoço, lanches e jantar é necessário solicitar uma tele-entrega ou deslocar-se até Pelotas (6 Km) onde existem fartas e excelentes opões, ou a praia lacustre do Laranjal (10 Km), cujo passeio também vale muito a pena durante o dia ou mesmo à noite.
Deixo aqui a sugestão de serem servidos alguns produtos caseiros no café da manhã, preferencialmente preparados na própria Santa Rita, pequeno diferencial que costuma esperar-se em pousadas que integram o circuito dos roteiros de charme.
Vejam aí algumas imagens das instalações da pousada:
Detalhe em ferro do antigo portão da Charqueada Santa Rita, 1826. |
Uma curiosidade a ser vista é a antiga porta tatuada com ferro em brasa com as marcas dos antigos fornecedores de gado da charqueada.
Como era o antigo saladeiro... |
... e como está hoje. |
A NATUREZA
A área da Santa Rita é pequena se considerarmos aquilo que se espera de uma fazenda, ainda que singela.
Isto pois as charqueadas não eram estabelecimentos que se destinassem à criação do seu próprio gado pois o adquiriam de terceiros. O consumo do gado no preparo do charque era tão grande que a pecuária própria não daria conta do fluxo de produção.
Mas se no que restou da sua área nos dia de hoje não impressiona pela extensão, com certeza o faz no conteúdo!
Detalhes da construção bicentenária, o bosque, o Arroio Pelotas... Para quem gosta de fotografar como eu, o local foi um verdadeiro prato cheio...
O contato com a Charqueada Santa Rita poder ser feito pelo telefone (53)3228-2024 ou pelo seu próprio site AQUI.
Não percam a próximo postagem, terceira e última parte do relato deste meu périplo pelas charqueadas de Pelotas, onde mostrarei a Charqueada São João e seu incrível patrimônio preservado, contando também um pouco da história da escravidão no Rio Grande do Sul.
COMENTÁRIOS FOTOGRÁFICOS:
Com exceção das imagens com crédito próprio, todas as fotografias de João Paulo Lucena. Na captação das imagens usei equipamento Canon EOS-1D e kit de lentes de 17 a 400 mm.
PARA SABER MAIS:
- O Ciclo do Charque - site da Universidade Federal de Pelotas
- A Memória do Ciclo do Charque em Pelotas - site da ONG Viva o Charque
- Charqueada e Ciclo do Charque - verbete na Wikipedia
- Blog O Povoamento de Pelotas - dos pesquisadores Adão Fernando Monquelat e Valdinei Marcolla
- Pelotas e o Projeto Monumenta - a preservação do patrimônico histórico e cultural
- Os Aristocratas Pelotenses - site da Universidade Federal de Pelotas
- Charqueada Santa Rita - museu e hospedagem à margem do Arroio São Gonçalo
- Charqueada São João - site oficial da mais preservada das charqueadas
- Charque, o sal da carne - diferença entre charque e carne de sol, receitas
- A História do Charque - ótimo blog sobre o tema do charque
- Elementos da escravidão no Rio Grande do sul - Artigo
- Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional - Obra de Fernando Henrique Cardoso, 1977
- Viagem no tempo: escavações vão contar a história de escravos no Sul - Artigo jornal Zero Hora, de 21/10/2011
- O Escravo no Rio Grande do Sul - Blog
JP, o Roddy e a Suzete são nossos amigos, aqui de Portugal, conhecestes?
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