O objetivo era escapar do infernal calor de Porto Alegre e do litoral gaúcho, cujas altas temperaturas e o sol abrasador no verão torturam à morte o mais resistente motociclista. Descartado o litoral do Uruguai em função do grande movimento nesta época do ano, a opção foi rumar no contra-fluxo, subindo às alturas do Estado de Santa Catarina enquanto o povo baixa desesperado para se acotovelar nas praias do litoral sul.
Parceria acertada com o Felipe e a Márcia, filhos sob guarda dos avós, malas arrumadas em 15 minutos - uma das melhores vantagens do turismo minimalista que o motociclismo garante aos seus adeptos, moto abastecida e numa bela manhã de sábado nos despedimos da escaldante Porto Alegre às vésperas do Feriado de Navegantes.
Roteiro previsto, sem pressa para chegar: Porto Alegre - Caxias do Sul - Vacaria - Lages - São Joaquim - Urubici - Morro da Igreja (ponto culminante de Santa Catarina) - Urubici - Serra do Rio do Rastro - Criciúma - Torres - Porto Alegre. Total a rodar: 1.100 quilômetros em 3 dias.
A felicidade de viajar em duas rodas... Alguém duvida do ânimo desta turma?
Sem pressa de chegar, almoço no Alvorada, a melhor parada de Caxias do Sul e já na subida para Vacaria a temperatura começa a cair, com forte prenúncio de chuva. Ao contrário do que muitos possam imaginar, desde que com bons pneus e roupa apropriada, a chuva é bastante apreciada nos passeios motociclísticos, principalmente no verão. Não há o que pague a sensação de frescor que chega com chuva, o cheiro da terra e da vegetação molhadas e o aquele peculiar barulhinho das gotas de água batendo no casco do capacete... Passadas as nuvens - quando isto acontece - o vento rapidamente deixa a roupa seca outra vez.
Apesar da revisão prévia à viagem, por descuido do mecânico uma borracha de vedação mal colocada passou a causar um pequeno vazamento de óleo no cilindro direito do motor boxer da GS. Apesar de não ser um problema que interrompesse a viagem, a perna da calça foi aos poucos saturando de óleo por fora, o que de tempos em tempos nos obrigava a uma bem-humorada parada para "limpeza" da lataria.
De Lages onde chegamos ao final da tarde de sábado até São Joaquim são pouco mais de 60 quilômetros, o que fizemos abaixo de fortes pancadas de chuva e com a temperatura em queda livre. Dos 34ºC em Porto Alegre na hora da partida, chegamos em São Joaquim cerca de dez horas depois com neblina e a temperatura invernal de 11ºC. E o melhor de tudo: pousadas e restaurantes vazios e a meio-preço em função da baixa estação.
Na manhã seguinte rumamos a Urubici, a 60 quilômetros de São Joaquim por uma belíssima estrada já na região dos Campos de Cima da Serra, o altiplano característico da serra gaúcho-catarinense.
Urubici está no Vale do Rio Canoas e constitui o ponto de partida para diversos passeios de primeira grandeza para quem se agrada do ecoturismo e turismo rural. Apesar da cidade não ter o mesmo aspecto serrano de São Joaquim, dali saem os caminhos para locais com inscrições rupestres, ótimas hospedarias, a Cascata do Avencal com mais de 100 metros de queda livre, o Campo dos Padres, a Serra do Corvo Branco e o imperdível Morro da Igreja, ponto culminante de Santa Catarina com 1.828 m.
Reza a história que a região passou a ser colonizada a partir de 1711 pelos jesuítas, ali chegados para buscar minas e catequizar índios até o Rio Caçadores. Daí no nome da bela planície chamada "Campo dos Padres", um dos belos atrativos na altura da descida da Serra do Corvo Branco e onde está o Refúgio do Rio Canoas (www.riocanoas.com.br/Home1.swf) um dos melhores da região.
Parada para comprar queijo e salame no caminho entre Urubici e o Morro da Igreja, pois ninguém é de ferro... A partir de Urubici até o acesso ao Morro da Igreja são 17 quilômetros de estrada em obras de asfaltamento. Do seu acesso até o topo do Morro a estrada é totalmente asfaltada em função de constituir zona militar estratégica pois no cume está localizado um dos radares do sistema Cindacta, controlado pela aeronáutica.
Na medida em que se inicia a subida do Morro da Igreja a temperatura cai ainda mais e presencia-se o fenômeno da "viração", característico da zona dos Aparados da Serra. Trata-se de nuvens e neblina resultante da condensação do ar quente e úmido que sobe do litoral e se encontra com o ar frio de cima da serra. Nos dias limpos pode-ser avistar o litoral de SC a partir do topo do morro. Nesta viagem não tivemos esta sorte.
À medida em que a altitude aumenta a vegetação vai mudando para campos rarefeitos e mata nebular, sendo comum a presença da gunnera manicata, típica da Cordilheira dos Andes e que excepcionalmente encontra-se também nos Aparados da Serra.
Deve-se ter bastante cautela na estrada de acesso ao Morro da Igreja pois é estreita e frequentemente recoberta de espessa neblina. O trânsito de visitantes é especialmente perigoso para quem está com motocicletas pois quando subimos a visão chegou a limitar-se a não mais do que 1 metro adiante.
Enfim lá! Não conseguimos chegar à cota 1.828 pois está dentro da área militar restrita do Cindacta. Todavia, faltaram só 11 metros conforme mostra a marcação do GPS.
Em meio à viração, parte do radar da Aeronáutica. E vamos embora pois para baixo todo o santo ajuda!
Cansados depois de um dia de trabalho ganho honestamente, o que melhor do que uma surpresa para viajantes cansados. Abaixo, a exclusiva Pousada Nó de Pinho. Be aware: no children and pets accepted!
É pouco? Tem mais... Quanto vale uma noite assim para um viajante cansado? Resposta: muito, muito menos do que você pensa. Viaje fora de época, hospede-se fora dos feriados e finais de semana...
Se a lenha era organizada no capricho assim como está abaixo, image então como eram as cabanas da pousada...
Manhã de domingo, retornar a Urubici e seguir para Bom Jardim da Serra, portal da Serra do Rio do Rastro. Neste mirante, em dias de tempo claro, também se avista o litoral de Santa Catarina. Mas em dias "feios", com certeza o oceano de nuvens constitui atração à parte.
Os quatis silvestres passaram a se alimentar de comida deixada pelos turistas, o que fez multiplicar excessivamente a população local e a proximidade com os visitantes. Apesar da frequente fiscalização do IBAMA estes mau hábitos continuam e os animais podem ser bastante agressivos com turistas descuidados ou imprevidentes.
Descendo a Serra do Rio do Rastro rumo a Criciúma e Torres. Depois a Porto Alegre pelo litoral.
Já perto de casa, a sobremesa da viagem na Estrada do Mar: o Parque Eólico ao pôr-do-sol. Mais uma hora de Free-Way e estamos de volta em POA, alma leve e baterias recarregadas até a proxima viagem...
DICAS DA VIAGEM:
Caxias do Sul: não deixe de provar o galeto do Alvorada, reduto tradicional da família caxiense (http://www.hagah.com.br/restaurantes/jsp/default.jsp?action=detail&ingrid=139704&uf=1&local=1®ionId=7&what=&where=&locale=C12&category=6&genre=5&filter=&letter=)
São Joaquim: Pousada Caminhos da Neve, simples, bom preço e atendimento excepcional (http://www.hospedevip.com.br/sao-joaquim/hoteis/pousada-caminhos-da-neve.html). Visite a Vínicola Villa Francioni, destaque para os vinhos brasileiros de altitude (http://www.acavitis.com.br/francioni.html)
Urubici: não dormimos ali, mas recebemos ótimas indicações do Urubici Hotel (http://www.urubiciparkhotel.com.br/) - segundo o Marcelo, peça um suite no último andar - e da Pousada Serra Bela (http://www.serrabela.com.br/) - certificada pelo Ramón.
Morro da Igreja: Pousada Nó de Pinho (http://www.urubici.com.br/pousadanodepinho)
Campo dos Padres: também não paramos ali desta vez, mas a dica é o Refúgio de Montanha do Rio Canoas (http://www.riocanoas.com.br/Home1.swf)
Blog Rodamundo: Veja a outra versão desta história contada pelo Felipe e a Márcia: http://rodamundomg.blogspot.com/2009/02/uma-estreia-100-sao-joaquim-urubici-rio.html
Nada como revisitar um grande passeio, principalmente em uma terça-feira nublada de muuuiiiitttooo trabalho, e ver que é possível sim ser feliz!!! Valeu muito pela parceria da viagem e esperamos pela próximas ansiosamente. Ushuaia....
ResponderExcluir