domingo, novembro 30, 2014

Família Rodante rumo Chile 3: De carro no Cone Sul


Rodando pelo Mercosul - Uruguai - Foto João Paulo Lucena

Para quem se propõe a uma longa viagem de automóvel pelo Cone Sul alguns requisitos são imprescindíveis, outros muito úteis.

Amyr Klink chamava o pequeno barco a remo com o qual atravessou o Atlântico de "lâmpada". O amigo Xixo, que está atravessando as Américas da Terra do Fogo ao Alaska com os filhos adolescentes, equipara o Land Rover da família a uma "pupa", da qual os passageiros surgirão renascidos ao final da sua Grande Viagem.

Pois a "cápsula" nos levou de Porto Alegre até o almejado banho no Oceano Pacífico é uma camionete 4x4 com espaço para cinco passageiros. Nem tão espalhafatosa que chame muito a atenção e nem tão antiga que nos deixe na estrada, embora algum pneu furado ou falha mecânica esteja previsto no risco do negócio.

Sobre o tema, alguns comentários.

REVISÃO PREVENTIVA

Alguns cuidados básicos e bem conhecidos deve ser tomados antes de uma longa viagem: revisão mecânica, checagem dos pneus, balanceamento e geometria, troca de óleo e filtros de combustível, óleo e ar. Revise a calibragem dos pneus sem esquecer o estepe.

Há muito escolho pneus BFGoodrich (modelo AT ou Mud) em função da maior resistência e desempenho e os únicos com lona tripla também na lateral, o que auxilia bastante na prevenção de furos e cortes em caminhos mais complicados.

A revisão preventiva foi feita com o Rodrigo Adam, na oficina Adam 4x4, em Porto Alegre.

ACESSÓRIOS OBRIGATÓRIOS E A "COIMA" DA POLICIA CAMINERA

Quem segue para o Uruguai, Argentina e Chile precisa saber que lá é obrigatório o uso de faróis acesos em luz baixa também durante o dia.

Não há como deixar de referir o velho problema dos achaques da Policia Caminera argentina com predominância absoluta na Província de Entre Rios, Ruta 14 especialmente, incentivado pelo grande movimento na rota de exportação entre o Pacífico e o Atlântico. O assunto é antigo e já foi objeto de reportagens de jornal, inclusive uma excelente série feita em conjunto pela Zero Hora e o Clarín, de Buenos Aires.

O pedido de dinheiro por policiais rodoviários na Argentina nada mais é do que a conhecida extorsão e é chamado  localmente de "coima". A web está cheia de relatos feitos  por vítimas que descrevem as mais variadas táticas. Pessoalmente já recebi pedidos de contribuição para compra de uniformes, taxa para o desporto nacional, venda de livretos de primeiros socorros e segurança no trânsito, problemas fictícios no carro e até o descarado achaque de dinheiro.

Nesta última viagem fomos assediados uma única vez, 100 Km depois de Paso de los Libres, na Ruta 14, Entre Ríos. Com muita simpatia, educação, sorrisos e cara de pau, nos foi solicitada uma "contribuição" para o conserto da bomba d´água do posto policial. Noite, local isolado, país estrangeiro, eu com a família, dois policiais armados... O que você faria? Dez reais (sim, os achacadoes aceitam qualquer moeda) livres e espontaneamente "contribuídos" resolveram a questão.

A receita em uma situação de "bullying policial" é ter calma, jogo de cintura, fazer-se de desentendido, não se exaltar e, SEMPRE, estar em dia com os acessórios obrigatórios. O policial mal intencionado conta a seu favor com a pressa do viajante em seguir viagem e, na hora "H", ganha aquele que tiver maior paciência e nervos de aço. Se estiver viajando em grupo, uma boa tática defensiva é sempre pararem todos os carros e descerem os passageiros, de modo a intimidar o agente a pedir coima na frente de testemunhas. Se pretender denunciar mais tarde, não deixe de, discretamente, guardar o nome dos policiais, data, hora e local. Não os filme, grave ou fotografe ostensivamente. Um companheiro de viagem assim agiu uma vez e a atitude nos retardou muito tempo no posto policial.

Para ajudar com os argumentos de defesa na hora da "enrolação", antes de viajar costumo solicitar ao Consulado da Argentina em Porto Alegre (Rua Cel. Bordini, 1033, Fone 51-32211360 e caleg@mrecic.gov.br) uma lista atualizada dos equipamentos de segurança obrigatórios naquele país. Para a temporada 2014-2015 são eles:

1 - dois triângulos (para uso na frente e atrás do veículo);
2 - um extintor de incêndio;
3 - estojo de primeiros socorros;
4 - cintos de segurança para todos os passageiros;
5 - apoio de cabeça nos bancos dianteiros;
6 - cabo de reboque de 1,5 a 2 m ou cambão;
7 - seguro Carta Verde;
8 - autorização para conduzir na Argentina caso não seja o proprietário do veículo;
9 - documentos originais de propriedade do veículo;
10 - documentos pessoais: Passaporte ou RG (atenção: identidades profissionais não são aceitas fora do Brasil e não são aceitas como documento pelos serviços de imigração na passagem fronteira)

Já bem cientes do mal comportamento dos patrícios,um tanto sem jeito o Consulado da Argentina costuma alertar que não existe na legislação daquele país qualquer exigência de porte de "lençol branco" ou "mortalha plástica" para caso de acidentes fatais... Também recomendam fortemente que os veículos que possuam engate para reboque, trailer ou motorhome retirem a bolota de aço caso não estejam tracionando os mesmos, pois é proibido que tais acessórios ultrapassem a linha dos pará-choques.

Lista fornecida pelo Consultado Geral da Argentina em Porto Alegre/RS quanto aos equipamentos veiculares obrigatórios na Argentina em dezembro de 2014 e recomendações gerais para brasileiros.

Mas há que ser justo e não generalizar. Em tantas viagens pela Argentina somente tive problemas desta natureza com a Policia Caminera de Entre Ríos e no trecho Uruguaiana-Parana e, uma única outra vez, na região do Chaco, rumando a Salta. Nestas férias fomos fiscalizados umas 15 vezes, inclusive em Entre Ríos no trecho de volta entre Parana e Concórdia, todas com muita correção e sem qualquer dificuldade ou insinuação. Em caso de problemas o Consulado da Argentina recomenda que seja feita denúncia para qualquer Consulado Brasileiro no país vizinho.

No Chile jamais me ocorreu qualquer situação semelhante com os Carabineros, força vinculada ao exército e, no que tange à fiscalização rodoviária, famosa pela correção e disciplina no trato com os viajantes.

SEGUROS DO AUTOMÓVEL

Apolice do seguro SOAPEX obrigatório para o Chile.
Para os 3 países do Mercosul - Brasil, Argentina e Uruguai - é obrigatório o Seguro Carta Verde, que pode ser feito no Banco do Brasil (para correntistas) ou em agências seguradoras em geral, inclusive em postos de fronteira. Este item é sempre solicitado pela fiscalização e para um período de 30 dias pagamos U$ 46,00 neste mês de dezembro.

Já para o Chile, que não faz parte do Mercosul, desde 2011 é obrigatório o seguro para veículos estrangeiros que entram naquele país. Veja a notícia AQUI.

O seguro SOAPEX pode ser facilmente contratado pela internet e pago com cartão de crédito. Para um período de 30 dias nos custou U$ 10,51.

Uma precaução complementar é a contratação do seguro normal do veículo no Brasil com abrangência também para o Mercosul.

Para fugir à regra, na nossa viagem pela primeira vez não nos solicitaram uma única vez a exibição dos seguros Carta Verde ou Soapex.

MAPAS FÍSICOS E ELETRÔNICOS

Para os adeptos do uso de GPS recomendo o download de excelentes mapas do Cone Sul gratuitos e compatíveis com a marca Garmin no portal do Proyecto Mapear. Também podem ser baixados no portal Conosur mas são bem menos detalhados do que no Mapear.

Mapas do ACA na Argentina e
Chiletur-Copec no Chile.
Foto João Paulo Lucena
Mapas e guias impressos podem ser encontrados facilmente em postos de gasolina e bancas de revista. Para a Argentina recomendo os guias e mapas vermelhos do ACA - Automóvil Club Argentino, disponíveis nos postos YPF. Para o Chile os guias Chiletur-Copec, também de excelente qualidade(inclusive à prova d´água) e vendidos nos postos Copec.

Como guias gerais utilizamos os editados pela Lonely Planet, disponíveis em português na Livraria Cultura.

Quem quiser aprofundar o assunto pode conferir as duas postagens que fiz aqui no Terra Australis sobre cartografia no Cone Sul: Parte I e Parte 2.

GPS E RASTREADOR SPOT

Localizador satelital Spot Gen3
Foto João Paulo Lucena
Para incremento da orientação e segurança em rodovias e zonas urbanas usamos um GPS Garmin Nuvi 3597 com boa capacidade de carregamento de mapas.

Ainda antes de partir costumo carregar como waypoints os endereços onde efetuamos reservas, o que facilita muito na hora da chegada em locais desconhecidos, principalmente quando ocorrem à noite.

Nesta viagem pela primeira vez usamos também um localizador por satélite da marca Spot, que possibilita o acesso a socorro de emergência independente da existência de rede telefônica ou internet.

Como um recurso acessório muito bacana ele pode ser programado para emitir a sua localização em tempos programados, cujos sinais são mostrados em um mapa na internet. Assim, a nossa viagem pôde ser acompanhada em tempo real simplesmente pelo acesso ao link: Família Rodante.

A experiência com o uso do Spot não foi 100% pois, apesar de programado para emitir sinais a cada 60 minutos, em alguns trechos ele não religou automaticamente com o movimento do automóvel como deveria ter feito, deixando alguns "buracos" na nossa trilha. O "controle de terra" feito pelo amigo Geraldo Teixeira, que acompanhou toda a viagem pelo nosso Spot, avisou do problema e a solução encontrada foi religar manualmente o aparelho a cada início de deslocamento em viagem.

Confiram o nosso roteiro pelo rastreador Spot AQUI.

Rastreamento por localizador satelital Spot.


BAGAGEIRO DE TETO

Para aumentar o espaço interno e o conforto dos passageiros, considerando que carregamos volumoso equipamento de camping com isolantes, sacos de dormir e barracas para 5 pessoas, usamos um grande bagageiro com 460 litros e 50 Kg de capacidade da marca Thule, modelo Pacific 700.

O equipamento é leve para o seu tamanho (15 Kg) e muito fácil de colocar e retirar.

A compra foi feita com o Anderson da Rodociclo, em Porto Alegre. A útilidade durante a viagem foi absolutamente essencial e vimos muitíssimos outros veículos usando o mesmo recurso.

ENTRETENIMENTO INFANTIL ON BOARD

Monitores de DVD para passageiros de trás.
Foto João Paulo Lucena
Está certo que o objetivo é interagir com o meio e curtir a estrada. Mas os 6 mil Km a percorrer não serão moleza para os três no banco de trás, principalmente aquele que vai sentado no meio...

Fizemos um upgrade no serviço de bordo e instalamos encostos de cabeça nos bancos dianteiros com monitores de DVD embutidos e voltados para os passageiros do banco de trás.

Em doses bem medidas e programação selecionada que vai de Charlie Chaplin a desenhos e shows, a turminha curtiu vídeos, jogos e música exclusiva, com direito a fone de ouvido para não atrapalhar as zambas, chamamés e chacareras que bombaram no rádio da frente.

O equipamento da marca Roadmaster foi instalado na BonaSom, em Porto Alegre.

Multiplicador de tomada 12v e USB
Por fim, para atender a demanda de energia dos gadgets eletrônicos, GPS, lanternas e telefone,  ampliamos as tomadas de energia 12v com multiplicadores encontrados no mercado. Em Porto Alegre adquirimos o acessório na Multisom.

É isto!

Post João Paulo

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