Rodrigo Baleia, fotojornalista. |
RODRIGO BALEIA é fotojornalista ambiental há mais de dez anos. Gaúcho, estabeleceu sua base em Manaus, trabalha regularmente para o grupo Greenpeace e colabora com a National Geographic Brasil desde 2001. Tem seus projetos pessoais distribuídos por agências como a Gettyimages, ZumaPress e Folha Press e mantém um blog muito legal AQUI.
Dia destes li um texto seu que aborda um assunto permanente nas rodas de fotógrafos profissionais e amadores: a tremenda resistência dos órgãos de mídia para remunerar o trabalho dos fotógrafos.
Por várias vezes já ouvi frases do tipo...
"desculpe, mas só trabalhamos com colaborações e não temos condições de remunerar os fotógrafos mas vamos colocar o seu crédito...".
Ora, colocar o crédito do fotógrafo não é favor nenhum, mas sim obrigação de qualquer publicação e decorre dos termos da lei federal nº 9.610/98 que regula os direitos autorais no Brasil.
Por outro lado, ao que me consta, revistas e jornais são vendidos em bancas e seus editores visam também o lucro, não se confundindo de forma alguma com publicações filantrópicas.
Então, cá entre nós, vamos ser coerentes! Se as fotografias devem ser entregues de graça pelos seus autores, também quero revistas e jornais se pagar, por favor!
E será que os textos publicados também não são remunerados??
Bom, o Rodrigo Baleia dissertou magistralmente sobre o tema e, claro, com a autorização expressa do autor, reproduzo abaixo as suas palavras.
Afinal, na mesma esteira, luz faz fotografia mas não enche barriga...
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"Aviso: fotógrafo também cobra por seus trabalhos - Texto de Rodrigo Baleia
No mesmo dia em que fotografei a seca do rio Manaquiri iniciei a distribuição as imagens por meio da agência Getty Images com o título de "Drought Affects Amazon Basin".
Não demorou para que meu celular começasse a tocar sem interrupção por cerca de quatro dias. Jornais, revistas e sites querendo imagens sobre o assunto e, por incrível que pareça, todos os telefonemas tiveram dois pontos em comum: o primeiro foi o interesse pelo assunto da seca na Amazônia e segundo era que todos esperavam que eu doasse o meu trabalho.
Quando no terceiro telefonema eu ouvi a pergunta clichê: "Ah! mas você cobra?", vi que era o momento de iniciar a minha série irônica do tipo: "o departamento comercial de vocês doa anúncio?" ou "Não! Vivo de doações para posteriormente doar ao caixa do supermercado" ou então "Não! Eu não cobro, é uma taxa que Papai Noel cobra toda vez que ele repõe meu equipamento". Tem outras, mas essas eu guardo para o meu guia de respostas para quem acha que fotógrafo vive de luz. Acho que vou chamar esse guia de "Quem depende de luz é a fotografia, o fotógrafo depende do que cobra". Bom, como o guia é apenas uma brincadeira eu não pretendo escrever mais que algumas linhas, onde quero fazer um alerta aos interessados em fazer do hobby uma futura profissão (falo por experiência própria).
Acredito que a "cultura" de não pagar por serviço de fotografia se estabeleceu em algumas redações quando por muitos anos os fotógrafos brasileiros tiveram que barganhar espaço para ter o seu trabalho publicado e posteriormente criar um portfólio. Meu início não foi diferente, e fui vitima desta armadilha. Lembro de levantar as mãos para o céu por receber R$ 26,00 por foto publicada no maior jornal do Rio Grande do Sul. Hoje a cultura do "não pagar" parece estar crescendo, pois os editores estão tirando proveito da popularização da fotografia.
Os fotógrafos que hoje buscam se lançar ao mercado devem cuidar para não cair na tentação de terem seu material publicado sem que sejam pagos, é importante não cair no velho truque do: "Nós citaremos os seus créditos na foto". Chega a ser engraçado porque os editores costumam dizer isso como se a citação do nome do autor fosse o melhor pagamento para o fotógrafo. Tal citação nada mais é do que um direito previsto por Lei.
O profissional tem que estar atento às ferramentas que hoje ele dispõe. A internet pode divulgar o trabalho de um fotógrafo com êxito muito maior do prometem alguns editores espertinhos. Hoje o fotógrafo coloca o seu portfólio eletrônico em um Picture Desk do outro lado do mundo com um simples clique no ícone "enviar". Sem falar em alguns sites que possibilitam criar redes onde os editores podem procurar pelos fotógrafos.
Um exemplo é o perfil que tenho no www.lightstalkers.org/rodrigo_baleia, uma rede bem difundida entre muitos profissionais. Ali editores buscam por palavras chaves que podem levar aos portfólios dos fotógrafos. Nesta rede vários editores me encontram, inclusive os editores da revista francesa Le'Express.
Mostrar o trabalho é necessário, mas muito mais importante é mostrar o profissional que está entrando no mercado e que sua profissão não vai ser paga por favores ou promessas.
Em um post futuro pretendo comentar os resultados que estou tendo com algumas agências me representando."
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