segunda-feira, maio 04, 2009

Raízes Italianas 1: Encontro com o Frei



"- Alô, é da Editora EST?
- Sim?
- Eu gostaria de passar aí para dar uma olhada nos livros do catálogo. Posso confirmar o horário de funcionamento?
- Está aberta até às 00h00, fecha para descanso e depois reabre à 00h01.
- Quem está falando???
- Rovílio.
- (!!!) Mmm. Muito obrigado. Estou indo aí agora."


Em busca de informações sobre a imigração italiana na zona de Antonio Prado/RS, núcleo onde fincam-se minhas raízes por linhagem materna, obrigatoriamente chego ao catálogo de livros da Editora EST, de Porto Alegre, especializada em temas étnicos, de história, filosofia, imigração e antropologia.

O que jamais esperava era ser atendido pelo seu próprio fundador, Frei Rovílio Costa, reconhecido historiador gaúcho e personagem mítica quando se fala de etnias e, especialmente, na colonização italiana no sul do Brasil.

Dentre um currículo imenso, Cidadão Honorário e Patrono da Feira do Livro de Porto Alegre e de outras cidades da serra riograndense, Frei Rovílio é autor de quase uma trintena de livros, a Editora EST já publicou milhares de obras desde que fundada por ele em 73 e as suas pesquisas em registros históricos primários prestam um serviço público cujos frutos são de um valor inestimável.

Dada a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, desligo o telefone e de imediato vou para a Editora EST em Porto Alegre.

Frente a uma casa com aparência comum, sem qualquer referência comercial, sou atendido simpaticamente pelo próprio Frei Rovílio, que me conduz a um depósito nos fundos da propriedade. No segundo andar, entre paredes forradas de livros e imensas pilhas de obras por todos os cantos, me convida a sentar frente a uma grande mesa.

De imediato me apresenta alguns dos seus companheiros: Obama, Philomena com "ph" e Darwin, gatos que a vizinhança abandonou à sua porta por já saber da paixão pelos felinos. Pergunta-me a que venho e lhe conto do meu interesse pela pesquisa de dados da imigração italiana na zona de Caxias do Sul e Antonio Prado.

Sempre atencioso e enquanto comenta seus tempos de pároco em Vila Ipê, Frei Rovílio remexe nas prateleiras e em alguns minutos deposita pelo menos uns 20 livros enormes na minha frente.

"- Vais querer examinar, né?
- Sim, Frei Rovílio. Mas é muita
coisa...

- Não tem problema. Vai olhando."

E a sua generosa personalidade logo vem à tona:

"- Leva o que tu quiseres e podes pagar de qualquer jeito, no tempo que ficar melhor para ti. Deixa uns cheques aí ou vai depositando na conta da Editora. Em 10 vezes se ficar bom. Isto não é problema..."

Entre gatos e livros vai me perguntando informações sobre origem, família, objeto da pesquisa. De memória já vai citando fatos históricos ligados aos Irmãos Nodari, meus antepassados maternos, artesãos da madeira e responsáveis pela construção da maioria das casas de madeira que hoje constituem patrimônio histórico reconhecido pela ONU em Antonio Prado. Este conjunto de casas é considerado o maior núcleo urbano de construções coloniais da imigração italiana ainda existente no mundo. Também fala do meu avô Remígio Nodari e vai emendando alguns casos típicos da região de colonização vêneta no Rio Grande do Sul.


"- Os historiadores ortodoxos não enxergam as pequenas histórias" - reclama o frei, "- aquelas vividas, sentidas e contadas pelos seus próprios personagens. Contentam-se em transcrever uns aos outros e acham que isto é História!"

Me conta do começo da sua Editora, quando resolveu publicar a Summa Teologica de São Tomás de Aquino, voltada para os religiosos. E lembra:


"- Qual a minha surpresa quando os três primeiros a comprar foram todos advogados: Alaor Terra, Paulo Brossard e César Saldanha.... Agora vou publicar o Nanetto Pipetta (o clássico anti-herói da literatura vêneta no RS, de autoria de Aquiles Bernardi) em uma edição única em sete linguas!"

Depois de pelo menos uma hora e meia conversando e folheando dezenas de publicações, me acompanha até o carro e ajuda a carregar as três sacolas de livros que levo para casa. De presente ganho dois livros, Raízes Históricas de Cambará do Sul e as As Feiras do Frei*, este último dedicado e gentilmente autografado pelo anfitrião. Me despeço impressionado com a visita, cheio de idéias na cabeça e ansioso para debulhar as preciosas informações recebidas desta personalidade maravilhosa que é o Frei Rovílio Costa.

Voltarei!

* As Feiras do Frei - O Pensar e o Fazer do Amigo do Livro. Porto Alegre: EST, 2007

** Para saber mais sobre o Frei Rovílio visite http://tematicos.via-rs.com.br/2005/feiradolivro/index.php?menu=amigodolivro)

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