domingo, novembro 28, 2010

Cadernos Amazônicos: Tree Climbing - Você já escalou uma Samaúma?

A enorme samaúma se destaca sobre a copa das árvores da Floresta Amazônica.

Dentre as várias versões que correm por aí sobre a origem da escalada em árvore como atividade esportiva independente, uma delas relata que teria se originado em 1995 a partir das técnicas desenvolvidas para observação de epífitas (bromélias, orquídeas, etc.), dentro do Projeto Plantas Aéreas do Amazonas, patrocinado pelo governo estadual do Amazonas.

Não que subir em uma árvore seja uma suposta descoberta contemporânea, quanto mais quando se sabe que o homem partilha, junto com o macaco, de um ancestral comum...

Todavia, não se trata aqui de subir na ameixeira do quintal da sua avó, mas talvez de uma sequóia gigante, ou de uma samaúma amazônica com o topo da copa a 70 metros acima do solo, isto sim exigindo muita técnica, equipamento adequado e uma boa dose de força e disposição!

Ascender sobre a copa de todas as demais árvores, o que se conhece por dossel, especialmente em uma floresta tropical como a Amazônia, é entrar em um mundo à parte, repleto de seres adaptados à vida nas alturas, sendo que boa parte deles jamais tocará o solo a dezenas e dezenas de metros abaixo.

Fonte de inspiração, base de observação de fauna e flora, pesquisa de novas espécies, aventura ou simplesmente fuga do stress é o que faz um crescente número de pessoas compartilhar a incrível experiência de escalar um gigantesco ser vivo, em alguns casos com centenas de anos e uma altura superior a um edifício de 20 andares!

Embora já tivesse experimentado escalada em rocha e gelo, foi em uma autêntica samaúma amazônica que estreei na especialíssma técnica de escalada em árvores, desta vez na condição de fotógrafo integrante da equipe do Programa Adrenalina durante as gravações da temporada de 2010.

Acompanhados por Eduardo Cunha e Fabiano Moraes, da Amazon Tree Climbing, navegamos em uma lancha voadeira por mais de duas horas a partir do alojamento de selva Juma Lodge, atravessando igarapés e igapós em busca da samaúma perfeita, às margens de um dos seus afluentes do Rio Juma, em plena floresta amazônica.

Somente para chegar até a samaúma o viagem de voadeira foi uma atração à parte.

A samaúma é uma árvore frondosa, pertencente às famílias bombacáceas e a escolhida para a nossa escalada, com pelo menos 400 anos de idade, atingia a incrível altura de 70 metros (!), a mais alta de todas as árvores naquele setor da floresta amazônica.

A samaúma que escalamos com o topo da copa a 70 metro acima do solo da floresta, equivalente a um prédio de 20 andares.

Os galhos principais, objetivo da escalada, a uma altura de 50 m.
É comum que se destaque em meio à copa média das árvores, o dossel, superando inclusive a altura das castanheiras. A sua copa cobre enorme extensão, diretamente proporcional ao perímetro pelos quais se espalham as poderosas raízes tubulares em forma de sapopema que entranham  no solo da floresta, algumas vezes atingindo até mesmo o próprio lençol freático.

As incríveis raízes tubulares da samaúma, também chamadas de sapopema.
Localizada a árvore, a escalada iniciou com a montagem dos sistemas de ascenção. Para fixação das cordas a equipe da Amazon Tree Climbing desenvolveu uma espécie de atiradeira, com a qual é lançada por cima dos galhos principais uma linha mais fina, utilizada depois para puxar para as cordas mais pesadas usadas na escalada.


Há necessidade de utilização de equipamento técnico de escalada, alguns bem conhecidos como capacetes, luvas, estribos, mosquetões, freios, ascensores e descensores. Outros, nem tanto, pois adaptados para a atividade em árvores, assim como as cadeirinhas especialmente desenhadas para maior conforto e as combinações de linhas e pesos para montagem dos sistemas de ancoragem e corrimões no topo da árvore.

Acompanhada de guias habilitados qualquer pessoa pode escalar uma árvore uma vez que, durante o percurso da subida, se utiliza basicamente a força das pernas, sendo possível descansar o tempo que for necessário durante a ascenção.

Equipamento individual de escalada em árvore.
Observar a copa das árvores de baixo para cima também é uma experiência relaxante, em especial sob o calor sufocante 40º C em meio a uma rainforest... Foto: Ana Karina Belegantt

Fixadas as cordas do sistema de ascenção, começa a escalada de 50 metros até os galhos principais.

Aos poucos a turma vai chegando... Léo Sassen direto na atividade!
 
Montando os sistemas de passagem entre os galhos da copa...


Para a escalada são usadas combinações de ascensores e estribos, utilizando-se em essência a força das pernas.

A equipe de produção também se esforça. A fundo, no rio, os câmeras do Programa Adrenalina.

Luca Silveira, o multi-cameraman do Adrenalina.

E os guias da Amazon Tree Climbing, Fabiano e...

...Eduardo, em meio ao jardim suspenso de epífitas na copa da samaúma.

Ana Karina Belegantt 50 metros acima do solo da floresta. Só resta curtir a paisagem...



Ana Karina e o autor deste blog...

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NATIONAL GEOGRAPHIC: Em outubro de 2009 a edição 115 da revista National Geographic publicou uma interessantíssima matéria sobre as sequoias, tendo como título de capa Terra de Gigantes, cuja íntegra pode ser lida AQUI. No caso a árvore escolhida para ser escalada foi uma sequóia gigantesca, cuja fotografia integral exigiu o desenvolvimento de uma técnica especial para a captação das imagens em estágios e posterior montagem dos fotogramas.
 
COMENTÁRIO FOTOGRÁFICOS: Encontrei duas grandes dificuldades para fotografar na floresta amazônica. A primeira foi o permanente desafio para equilibrar a fotometria em função do enorme contraste claro-escuro,  decorrente do jogo de sombra e sol tropical dentro da mata.

A segunda, sem solução aparente, foi o embaçamento das lentes, fruto da umidade da floresta e das constantes variações de temperatura, consequencia das tempestades tropicais que entremeavam nossas atividades durante todos os dias em que estivemos na Amazônia.

Vou perguntar ao Rodrigo Baleia qual é o "pulo do gato" para proteger o equipamento da umidade...

IMAGENS: Todas as imagens foram captadas utilizando-se uma Canon EOS-1D Mk II e conjuntos de lentes da mesma marca. © 2010 João Paulo Lucena.

quarta-feira, novembro 10, 2010

Trekking/Aparados da Serra: Do Cânion Fortaleza ao Malacara no Programa Adrenalina

Em setembro postei aqui o relato do trekking percorrendo a borda dos Aparados da Serra, entre o Cânion Fortaleza e o Cânion Malacara, um dos visuais mais belos do país, em pleno Parque Nacional da Serra Geral, tudo acompanhado pela equipe de gravações do Programa Adrenalina, especializado em atividades outdoor e esportes de aventura.

Pois o programa sobre os Aparados da Serra estréia hoje à 21h00 no Canal Futura, Canal 32 da Sky e 8 da Net, repetindo no domingo às 4h30 e 17h30.

Não percam hoje as imagens desta belíssima caminhada!

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P.S. : Assista abaixo o episódio completo do "Programa Adrenalina - Trekking pelos Cânions":





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P.S.: Gostou? Quer mais? Então como bônus veja aqui o episódio completo que documentou a travessia completa do Cânion Malacara com técnicas de canionismo no ano de 2009


terça-feira, novembro 09, 2010

Viagem: As Aventuras de Egon no Irã - 16. De volta a Porto Alegre (Final)

"16. Egon em Porto Alegre

De volta à Porto Alegre dos jacarandás floridos... e das ....... vacas?!?!?"

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(*) EGON FILTER é fotógrafo e correspondente exclusivo do Terra Australis. Tem suas imagens disponibilizados no site Images do Share





segunda-feira, novembro 08, 2010

Viagem: As Aventuras de Egon no Irã - 15. Nas águas do Mar Vermelho (em Aqaba)

15. Egon nas águas do Mar Vermelho (em Aqaba)

Pois eu estava flutuando em um imenso aquário em meio a peixinhos amarelos, azuis, verdes, laranja, enfim, multicoloridos como nunca vi antes. O peixe-escorpião, que parece uma folhagem zebrada, é bonito demais e muito venenoso também. Uma verdadeira maravilha natural. A água era de um azul-turquesa extremamente transparente (visibilidade acima de 40 metros) e os corais de impressionantes formas e cores: pareciam folhagens, cérebros, leques, árvores, etc. Este mundo, diferente do qual a espécie homo sapiens habita, é realmente incrivelmente fantástico!

Mas, quando botei a cabeça para fora da água do Mar Vermelho, eu estava em águas da Jordânia, a uns 2km da divisa com a Arábia Saudita. Em frente e do outro lado, logo ali a uns poucos km, a divisa entre o Egito e Israel. E barcos, aviões e helicópteros militares em patrulhas frequentes... Bem, vendo essa agitação, decidi voltar à tranquilidade da natureza sub-aquática...

Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
Foi aqui em Aqaba, em 1917, que os árabes retomaram as mãos turcas o Forte de Aqaba e assim iniciou sua vitória sobre uma ocupação de mais de 500 anos (com ajuda de TE Lawrence e os ingleses). E foi aqui também que, em algum ponto do Mar Vermelho em minha frente, que as águas se abriram ao sinal de Moisés e se fecharam sobre os perseguidores egípcios - segundo Exodus, no Velho Testamento...

Sentado sob uma sobra de palha de tamareira e tomando uma cerveja bem gelada, me perdi em meus pensamentos. O deserto de Wadi Rum às minhas costas, os pés dentro da água do Mar Vermelho e, do outro lado, as montanhas do deserto de Wadi Araba. A chamada para oração vinda da mesquita logo aqui ao lado, um misto de canto e lamento, criava uma atmosfera quase mística a esta costa tão cheia de história e beleza. E a leve brisa no rosto em confirmando de como é bom viajar...

Salaam alaykum (que a paz esteja com você, em árabe),

Egon

http://www.egonf.com/ "

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(*) EGON FILTER é fotógrafo e correspondente exclusivo do Terra Australis. Tem suas imagens disponibilizados no site Images do Share

domingo, novembro 07, 2010

Música: É hoje! Bem-vindo ao sul Paul McCartney!


Quem foi rei não perde a majestade jamais!

Ainda mais quando se fala de Paul McCartney, 68 anos e com uma capacidade inigualável de  manter juventude e energia capazes de lotar estádios no mundo inteiro e que hoje se apresentará para 50 mil pessoas aqui em Porto Alegre.

Para mim, que em tempos idos já me considerei um autêntico Beatlemaníaco, influenciado em modo "lavagem cerebral" pelo grupo inglês que tocava incessantemente no toca-discos (vinil, obviamente) das minhas tias, ter Paul McCartney em Porto Alegre é algo que seria inconcebível anos atrás...

Conta a história familiar que quando Ringo Starr se casou uma das minhas tias chorou, alí, assim, como se fossem vizinhos de bairro e o casamento do Beatle tivesse de fato sepultado os seus mais dourados projetos conjugais... Ainda hoje minha tia nega esta versão mas a separação do grupo em 1970, desnecessário dizer, foi uma tragédia, mas pelo menos com repercussão mais democrática, deixando órfãos fãs de todos os cantos do globo!

Lennon e Yoko Ono
 Lembro também do dia do assassinato de John Lennon em 1980, quando um insano ato de violência individual em frente ao Edifício Dakota, praticado por um dito fã, deixou um mundo estarrecido, calando para sempre a voz de quem sempre se bateu pela paz e a fraternidade entre os homens.

Escutei no rádio o informe e fiquei paralisado, estarrecido, não podia ser verdade. Enquanto a notícia circundava o globo as emissoras em Porto Alegre tocavam incessantemente músicas como Imagine, Give Peace a Chance e Love Love Love.

As vezes escuto algumas comparações sem sentido, tipo quem foi o maior grupo de rock da história: The Beatles ou The Rolling Stones?

Ora, se pararmos para pensar que os primeiros somente estiveram juntos por 8 anos na formação Paul-John-George-Ringo, entre 1962 e 1970, já se vê pelo conjunto da sua obra e pela influência que até hoje representam na música popular universal que não há termo de comparação com qualquer outro grupo roqueiro, especialmente os Stones que continuam trabalhando juntos desde 62, com quase 50 anos de união.

E isto para não se falar nas carreiras individualmente seguidas após a dissolução do grupo, como no presente caso de Paul McCartney.

O álbum Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band (1967) por exemplo, para não falar em vários outros, é considerado simplesmente uma obra-prima e no todo da discografia os Beatles já venderam até hoje mais de 1 bilhão de discos.

O taxista Mario Ely, 61, é fã dos Beatles em Porto Alegre. Foto: Clic RBS
Apple Records
Em homenagem ao grupo e especialmente ao grande Paul McCartney que hoje se apresenta em show memorável na capital gaúcha, deixo aqui um dos meus vídeos prediletos, Get Back, parte do concerto Let It Be, também chamado Rooftop Concert, o último apresentado pelo quarteto inglês no telhado dos estúdios da gravadora Apple, em Londres, em janeiro de 1969.

Vida longa a Sir Paul McCartney!


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P.S.: É claro que o show em Porto Alegre foi um sucesso! Quer uma palhinha? Então veja aqui um clip do Fotógrafo Renato Grimm com a as músicas Ob La Di Ob La Da e Hey Jude:



sexta-feira, novembro 05, 2010

Viagem: As Aventuras de Egon no Irã - 14. No Deserto de Wadi Rum

"14. Egon no Deserto de Wadi Rum

Salaam alaykum,

Quando meu amigo beduíno Bahid, com sua roupa branca e lenço xadrez vermelho, se ajoelhou na direção de Mecca eu me lembrei de um antigo provérbio árabe que ele tinha me ensinado: “Quanto mais se vai para dentro do deserto, mais próximo de Deus você se sente”!

Olhando em volta de nós eu me dei conta de o quanto a paisagem era deslumbrante: formações rochosas de mais de 300m de altura emergindo verticalmente da areia amarela ou vermelha, de todos os formatos e desgastados pela ação do vento. Eu estava em um verdadeiro labirinto de vales e cânions com mais de 100km – extremamente magnético para a visão (e ao filme fotográfico também, hehehe...).

Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
Entre estas montanhas existe uma especial: os “Sete Pilares da Sabedoria” – homenagem a Lawrence da Arabia. Dizem que foi de dentro deste deserto que ele e suas tropas árabes lançavam ataques de guerrilha às linhas férreas de suprimento do exército de ocupação turco entre 1916 e 1918 (iniciando, assim, a vitória final árabe).

Aqui e ali se viam alguns camelos (tecnicamente dromedários...) – e no calor de 38 C não me parecia possível que estivessem “pastando” pequenos tufos de capim seco. Seus grunhidos, reclamões, ecoavam nos paredões de pedra – e a sensação de isolamento nesta paisagem extra-terrena é imensa. Imagine que agora é outono e que no verão a temperatura aqui passa dos 50º C...

Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
 Dois beijinhos de despedida de Bahir (e só em mim, é de homem para homem – a Lu ficou sem...) e nos instalamos em um acampamento beduíno para a noite. Tirei 1.5 kg de areia de cada bota e logo nos chamaram para o jantar: pegaram as pás e começaram a cavar na areia: havia uma enorme panela enterrada! E, dentro dela, pedaços de cabrito deliciosos (parece que fica mais de 3h cozinhando enterrado). Muito bom!

Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter
Foto: Egon Filter

 E, no silêncio da noite estrelada deste deserto da Jordânia, dormimos profundamente enfeitiçados pela magia de Wadi Rum...

Salaam alaykum (que a paz esteja com você, em árabe),

Egon

www.egonf.com

PS.: Uma cena desconcertante aconteceu após o jantar: com o som de um tambor e uma espécie de violão, os nativos cantavam e dançavam. Não tive dúvida: botei minha roupa de beduíno e fui também. E eu chamava a Lu para dançar comigo e ela não vinha e ainda fazia cara feia! ... demorou, mas finalmente ela me reconheceu e dançamos alegremente...

PS2.: E a maior visão foi a que tivemos ao nascer do sol na manhã seguinte: voamos em um balão por cima deste deserto maravilhoso – muito D+!!!"

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(*) EGON FILTER é fotógrafo e correspondente exclusivo do Terra Australis. Tem suas imagens disponibilizados no site Images do Share