Praia do Sítio e Farol de Itapuã ao fundo. Construído em 1860, está no limite geográfico entre a Lagoa dos Patos e o Rio Guaíba. |
A paisagem novamente se transformou e nem parece que estamos em uma praia fluvial do Rio Grande do Sul. Quem sabe, não fosse pela cor da água até pudesse confudir-se com alguma praia do litoral do Rio de Janeiro ou de Santos...
Acredite se quiser, mas estamos a apenas 40 Km de Porto Alegre... |
Esta praia pertence ao Parque Estadual de Itapuã, município de Viamão, e está a aproximadamente 1 Km do Farol de Itapuã. É famosa pelos bugios que habitam suas matas e nela é proibido o desembarque sem permissão das autoridades ambientais.
Uma vez ao ano os velejadores da região se organizam para uma atividade comunitária de limpeza das suas margens, ocasião em que dezenas de embarcações transformam a pequena baía da Praia do Sítio em uma cidadezinha flutuante. Trata-se do já tradicional Cruzeiro do Bugio, organizado por Danilo Ribeiro, velejador de Porto Alegre famoso pelos eventos náuticos que unem navegantes de todas as origens e idades.
Enormes rochas de granito arredondas pelo tempo compõem um bonito cenário com palmeiras, orquídeas, bromélias, cactáceas e figueiras centenárias, recobertas de barba-de-pau.
Mas nem sempre foi assim.
Há anos uma pequena vila de pescadores e veranistas ocupava o local onde hoje só vemos mata, tendo sido também lugar de combates históricos entre gaúchos que lutavam pela independência do sul e imperialistas durante a Revolução Farroupilha, de 1935 a 1945.
Restos de armamentos já foram encontrados em antigas trincheiras no Morro da Fortaleza e em naufrágios de embarcações militares próximos ao local onde estamos fundeados.
Depois da criação do parque estadual em 1973 uma de suas administrações entrou em conflito com os velejadores ao tentar impedir o fundeio na Praia do Sítio. Conta Danilo Ribeiro que quem resolveu a parada foi o Delegado da Capitania dos Portos de Porto Alegre que, de forma muito incisiva, deixou clara a sua jurisdição sobre as águas do parque ao declarar:
- "Onde uma acha de lenha flutuar, quem diz o que pode e o que não pode, sou eu!"E desde então os navegantes, sem desembarcar, voltaram a fundear tranquilamento neste belo recanto do Rio Guaíba...
O dia está quente, ensolarado, com bom vento e os sinais de telefonia celular e de internet 3G voltam ser captados, anunciando o retorno do Arraia Manta à civilização.
Alguns reparos precisam ser feitos e trocamos a vela genoa que rasgou na tarde de ontem por uma nova, um pouco menor, mas que substitui com eficiência a antiga.
Colocando as postagens em dia. Foto: Ana Karina Belegantt |
O Comandante Tita também dá duro nas remadas... |
Velejar na Lagoa dos Patos durante a safra do camarão é muito duro... |
No caminho vamos apreciando as margens do Guaíba, passando pela Ilha do Junco, a Ponta da Fortaleza, Itapuã, Ilha Chico Manuel, as Pedras do Arado, a Ponta Grossa, a Ilha Pedras Brancas, passando por velejadores de classes diversas - wind, kite, monotipos, veleiros oceânicos - enquanto ao mesmo tempo vamos preparando o barco para a chegada.
Poucos sabem mas o Rio Grande do Sul rivaliza com o Rio de Janeiro como maior pólo de vela do Brasil, tanto na formação de velejadores, inclusive de classe olímpica, quanto na construção de embarcações. O Delta 36 em que estamos viajando foi construído na cidade de Gravataí/RS, um dos melhores estaleiros do gênero no país.
Preparando o barco para atracar... |
Velejadores da classe Laser em frente ao clube Jangadeiros, que junto com o Veleiros do Sul formam as duas principais agremiações náuticas do Rio Grande do Sul. |
Aos poucos vislubramos o perfil de Porto Alegre, tendo a Usina do Gasômetro e a sua imensa chaminé como ponto referencial da paisagem urbana.
Finalmente, depois de uma magnífica velejada, vamos chegando de mansinho, velas caçadas, motor em baixa rotação e atracamos no clube náutico Veleiros do Sul, em Porto Alegre, base permanente do Arraia Manta.
Corpo cansado mas com a mente leve, barco e tripulação em segurança, a satisfação da missão cumprida depois de 160 milhas navegadas.
Afinal, como bem diz o Amyr, "um dia é preciso parar de sonhar e, de algum modo, partir..."
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ResponderExcluirDEMAIS PARABÉNS ANA KARINA BJS