O Arraia Manta se abastece de combustível. |
Zarpamos de Rio Grande às 14h30 da tarde, com a meta de chegar à barra falsa do Bujurú, um bom abrigo para pernoite junto à costa leste da Lagoa dos Patos, precisando vencer um percurso aproximado de 60 milhas náuticas.
A primeira etapa desta viagem é seguir parte da hidrovia da Lagoa dos Patos pelo Canal da Feitoria, rota obrigatória utilizada por todas as embarcações de médio e grande porte que seguem para o Atlântico ou que tem como destino as águas interiores do Rio Grande do Sul.
Isto acontece porque a Lagoa dos Patos, apesar de imensa não é muito profunda, apresentando muitos perigos à navegação. A sua profundidade média é de 6,5 m e os maiores riscos decorrem dos bancos de areia, da neblina, dos fortes ventos e das ondas que deles decorrem.
Balsa de passageiros que une Rio Grande a São José do Norte na foz da Lagoa dos Patos com o Oceano Atlântico. |
Por tudo isto alguns trechos somente são navegáveis em canais dragados, sendo o mais famoso dele o da Feitoria, com aproximadamente 35 milhas de extensão. É o primeiro que precisaremos atravessar e, por ser estreito e ladeado de ponta a ponta por estacas de fixação de redes e armadilhas colocadas pelos pescadores de peixe e camarão, o Arraia Manta precisa valer-se de uma combinação de vela e motor para não sair da rota.
O cenário é lindo. Logo na saída do porto de Rio Grande já avistamos do outro lado da foz da lagoa a histórica São José do Norte, com seus casarões centenários e a barca que atravessa o canal com automóveis, caminhões, passageiros, carroças e cavalos, estes últimos personagens indissociáveis da cultura rural gaúcha.
São José do Norte, uma cidade histórica do outro lado do canal, em frente a Rio Grande. |
Pescadores de camarão em plena safra de verão. Canal da Feitoria, Lagoa dos Patos/RS |
Levamos aproximadamente 7 horas a motor e vela para percorrer todo o Canal da Feitoria, passando por milhares de estacas de armadilhas de pescadores pois estamos em plena safra do camarão. Os pilotos precisam estar muito atentos a estes obstáculos que avançam indevidamente para dentro do canal de navegação. Pelos perigo que representam os os navegantes chamam este trecho de “paliteiro”, sendo extremamente recomendado não atravessá-lo à noite.
O "paliteiro" de armadilhas para camarão no Canal da Feitoria. Um perigo para a navegação. |
Por volta das 20h00, justo ao pôr-do-sol, finalmente saímos do Canal da Feitoria e podemos nos afastar da hidrovia e do trânsito das chatas e navios, fixando rumo direto para o Bujurú, abrigo do nosso pernoite.
20h15: o último pôr-do-sol do horário de verão... |
Com as ondas batendo de proa e o vento forte, alguns tripulantes enjoaram... |
O Comandante Tita confere a rota na mesa de navegação, o centro de informações do veleiro. |
Bom... Apesar do horário avançado a a tripulação precisou aguardar águas calmas para poder preparar a refeição, um dos momentos mais esperados durante a faina diária em uma embarcação e na nossa não é diferente. Afinal, quem se importa com o relógio?
Precisamos nos alimentar e o menú é assinado pelo Chef Demosthenes: camarão à baiana, recém pescado na lagoa!
E ninguém é de ferro. Findos os trabalhos já na madrugada, é hora do sono dos justos...
P.S.: a partir da saída do Canal da Feitoria perdi a conexão com internet, a qual só foi retomada em Itapuã, um dia depois, impossibilitando a postagem do diário de viagem em tempo real como eu gostaria de fazer.
Imagens: Fotografias de João Paulo Lucena
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