quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Náutica/Vela: Travessia da Lagoa dos Patos - Alguns comentários finais...

Pilotando o Arraia Manta em Rio Grande. Foto: Ana Karina Belegantt

Finda a nossa jornada pela Lagoa dos Patos, faço aqui alguns comentários gerais.

Distância percorrida - 160 milhas náuticas (296 Km).

O veleiro - Costuma-se referenciar as embarcações pela classe ou estaleiro de origem e o seu tamanho. No nosso caso estávamos em um Delta 36, construído pela Delta Yatchs de Gravataí/RS, com 36 pés (11 metros).

O Arraia Manta ainda com o antigo nome pintado no costado e fundeado na Praia do Sítio.
Quem pode navegar - Para a condução amadora (não comercial) de um veleiro como o nosso é necessário possuir habilitação concedida pela Marinha do Brasil, a qual pode ser de 3 tipos:

- Arrais Amador - Permite a condução de embarcações de esporte e recreio, em qualquer tamanho e peso, à vela ou a motor, dentro do limite de águas abrigadas (rios, canais, lagos, lagoas, represas, baías, etc.)

- Mestre Amador - Amplia o limite acima para águas costeiras até aproximadamente 40 milhas da terra (74 Km), entre portos nacionais e estrangeiros.

- Capitão Amador - Habilitação máxima para um amador, autoriza a navegação transoceânica.

Para uma viagem relativamente longa como a nossa, a cautela recomenda que pelo menos duas pessoas estejam habilitadas a pilotar o barco. No Arraia Manta tínhamos dois capitães e um arrais amador.

A partir dos 4 anos de idade qualquer pessoa pode aprender a navegar, independente de condição física.

Crianças à bordo - É claro que em uma embarcação em movimento sempre haverá certo risco para os tripulantes, crianças ou não. A chave é primeiro reconhecê-lo e depois preveni-lo e controlá-lo. Crianças de qualquer idade podem viajar em um barco à vela, variando os cuidados necessários conforme a sua idade. Há que ter precaução para não se perder o equilíbrio quando o barco balança com as ondas, quando singra adernado, com os movimentos bruscos dos cabos e da retranca da vela mestra e, por óbvio, para não cair na água.

O nosso tripulante mirim tinha 12 anos de idade, experiência em velejadas anteriores e sabia nadar. As precauções maiores eram tomadas à noite, quando ele somente subia ao convés com um salva-vidas inflável e um sinalizador estroboscópico de emergência, pois uma das tarefas mais difíceis em uma embarcação é regatar um "homem ao mar" durante a noite. Com meus filhos que são ainda menores que o Pipe costumo utilizar também uma "linha de vida", um cabo de segurança com presilhas nas pontas que prende o tripulante pelo peito ou cintura a um ponto de segurança no barco.

Um registro especial: o Pipe foi de um desempenho exemplar, da manhã à noite fazendo companhia a quem estava pilotando na roda do leme, bem-humorado, prestativo, interessado em aprender e sem apresentar reclamações ao comando uma única vez! Em suma, um perfeito parceiro de navegação!

A água da Lagoa dos Patos - Tínhamos a bordo um bom suprimento de água potável para consumo humano e os banhos eram todos nas águas navegadas. Com exceção dos portos e zonas próximas a centros urbanos, a água da Lagoa dos Patos é limpa, livre de poluição.

Como em verdade a lagoa é uma laguna pois se comunica com o oceano, a água doce se mescla com a salgada em uma extensão que varia conforme o regime de ventos, das correntes, marés e da época do ano. No verão a salinidade mais concentrada provoca maior limpidez e a cor esverdeada das águas, ao mesmo tempo em que permite a pesca de camarões e lulas. A cidade de Rio Grande é um dos grandes centros pesqueiros destes produtos.

Na medida em que se avança na lagoa rumo norte, para o estuário do Rio Guaíba, vai diminuindo a salinidade e as suas águas vão se tornando um pouco mais escuras e turvas, em um tom de chá, mas ainda assim limpas o suficiente para permitir a pesca abundante e banhos memoráveis!


A ala masculina da tripulação se refresca nas águas límpidas ao largo do Farol Capão da Marca, margem leste da Lagoa dos Patos. Foto: Ana Karina Belegantt
Uma curiosidade: golfinhos na lagoa - Devido ao fenômento acima golfinhos, ou botos, já foram avistados muito longe lagoa adentro e até mesmo em afluentes do Rio Guaíba, a mais de 160 milhas (300 Km) do oceano!! O mesmo já aconteceu com lobos marinhos, avistados junto ao Clube Náutico de São Lourenço, muito adentro na Lagoa dos Patos. Pessoalmente ainda não tive este privilégio...

Confira alguns relatos e fotos AQUI e AQUI!

Golfinho avistado em 2009, nas águas doces da Enseada de Tapes, a 110 milhas do Atlântico.
Fonte: Popa.Com - Danilo Ribeiro

O camarão - Relatei aqui no blog que a base dos pratos servidos à tripulação foi o camarão. Não que no Arraia Manta alguém tenha nascido em berço de veludo ou escove os dentes com champanhe. Mas em plena safra se consegue comprar camarão fresco a ótimos preços no mercado público de Rio Grande ou diretamente dos pescadores na lagoa.

O preço varia conforme o tamanho do camarão, se está descabeçado ou totalmente descascado. Como não chegamos em boa hora no mercado acabamos pagando R$ 18,00 pelo quilo, ainda assim mais barato do que no supermercado.

Marinheiro Pipe adquire estratégico conhecimento náutico: como escolher camarão para a bóia da tripulação!
Fotografia - Utilizei uma Canon EOS 1 Mk II basicamente com duas lentes: uma grande angular 17-40 mm e uma telezoom 100-400 mm com estabilizador de imagem. O contínuo balanço do barco não permite o uso de tripé o que obrigou a combinação da tele com altas velocidades de obturação (1/1000) e ISO maior (entre 400 e 1600). Já a Ana Karina utilizou uma Canon G9, uma excelente compacta de desempenho profissional.

Bom, por enquanto era isto.

Até a próxima aventura!!

 
IMAGENS: João Paulo Lucena e Ana Karina Belegantt

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